Crianças e televisão: um estudo

Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento neurológico.

Durante este período, o cérebro de uma criança chega a triplicar o tamanho e as conexões neuronais, especialmente aquelas conexões usadas com maior frequência. As menos utilizadas, pelo contrário, tendem a ser “postas de lado”.

Muitas crianças hoje gastam entre duas e cinco horas por dia na frente da televisão. A quantidade e a qualidade dos produtos televisivos vistos por estas crianças podem ter um impacto negativo sobre o desenvolvimento futuro delas?

A resposta é “sim”.

Um recente estudo mostra que cada hora de televisão subtrai  à criança riqueza de vocabulário, penaliza as capacidades lógico-matemáticas e afecta negativamente os seus futuros relacionamentos sociais. A importância deste estudo reside no facto de que pela primeira vez foi cientificamente demonstrada a relação directa entre a televisão e as dificuldades psico-sociais. Foi a cereja no topo do bolo, depois dos rios de literatura produzida sobre o assunto.

O estudo seguiu 2.000 crianças desde o nascimento e mostrou que mesmo uma única hora de televisão mais do que a média está relacionada a um conjunto de distúrbios presentes na altura de frequentar o jardim de infância.



A American Academy of Pediatrics (Academia Americana de Pediatria) recomenda que as crianças não assistam a mais de 2 horas de televisão por dia após os dois anos de idade, e nem um único minuto antes daquela idade. Analisando o impacto negativo do tempo gasto em frente da televisão, chega-se à conclusão que as crianças que mais televisão viram mais provam ser carentes nos testes psicológicos, desenvolvem deficit de atenção e têm mais possibilidades de ser vítima de bulling por parte dos colegas.

Determinou-se também que os desenhos animados frenéticos influenciam negativamente o desenvolvimento de uma criança, por exemplo na capacidade de adiar a gratificação ou de exercer esforços contínuos.

Verificou-se que as crianças que costumam assistir aos desenhos animados mais frenéticos, encontram-se posteriormente atrasadas de forma significativa em algumas áreas específicas quando comparadas com colegas que não tinham o mesmo hábito ou que assistiam a programas mais calmos. Uma excessiva estimulação não é benéfica para uma criança, não “acelera” o seu crescimento.

É muito difícil hoje evitar que as crianças sejam expostas aos programas da televisão, por isso é fundamental o papel dos pais. Os filhos não podem ser simplesmente “arrumados” na frente da televisão, é importante que os pais fiquem ao lado deles, para compreender o tipo de conteúdos aos quais estão expostos, para explicar-lhe o sentido daquilo que estão a ver.

As crianças que passam mais tempo na frente da televisão também são mais propensas a tornar-se obesas, como demonstrado por um estudo realizado pelo Medical Research Institute (Instituto de Pesquisa Médica) da Nova Zelândia, onde foram examinadas mais de 200.000 crianças e jovens.

Alguns programas educacionais podem ter benefícios para as crianças depois dos três anos de idade, mas a exposição precoce é desencorajada por todos os especialistas em puericultura, sem excepção.

Alguns programas televisivos podem funcionar como complementos para a aprendizagem e o amadurecimento, mas só a partir duma determinada idade, em doses diárias limitadas e sem nunca substituir a experiência directa, a vida real. .

Em conclusão: a melhor maneira que os pais têm para estimular as mentes dos seus filhos é brincar com eles, interagindo directamente, pois não há melhor professor do que a experiência social directa ao lado dos próprios pais.

As pessoas também deveriam lembrar-se de que as palavras importam muito menos do que as acções: os exemplos que fornecemos aos nossos filhos significam muito mais do que aquilo que lhes dizemos. E um casal sempre sentado no sofá a fixar a televisão não é o melhor dos exemplos.

Ipse dixit.

Fontes: Pediatric Research – Early childhood television viewing and kindergarten entry readiness;
International Business Times – New Zealand Kids Getting Fatter with More Television Hours

Particularmente interessantes alguns artigos disponibilizados por Pediatrics, a revista oficial da Academia Americana de Pediatria (infelizmente só em idioma inglês):

4 Replies to “Crianças e televisão: um estudo”

  1. Não acontece somente com as crianças, assistir as novelas da Globo modificou a mentalidade da população brasileira, se faz isso com adultos imagina com crianças.

  2. Olá Max: tecnicamente quase perfeita, com locações naturais ou artificiais encantadoras e protagonistas de primeira linha artística, a novela brasileira é produto de exportação de alto luxo. Guarda no seu âmago o fel de transmitir uma circulação entre classes sociais absolutamente fictícia. Pior são os mídia que banalizam e naturalizam a violência de todos os matizes, como vídeo games e filmes comerciais .Muito mais atuante, pedagogicamente falando, que a escola, a TV é a educadora por excelência das classes populares, e é através dela que o brasileiro médio é construído em termos de mentalidade político social, ou seja, a construção do desastre. Abraços

  3. É, primeira linha artística… Agora no final do ano colocam aquele slogam …"A vida imitando a arte"… A TV brasileira é rídicula.

  4. A lógica que permeia a cultura hollywoodiana está baseada na alienação coletiva e na ideologia burguesa reificada, onde a sociedade passa, cada vez mais, a ser uma mera admiradora/assistente de um espetáculo contínuo e na maioria das vezes totalmente despropositado nos interesses reais e fundamentais da vida social. Nessa condição, as crianças e os jovens são levados a uma verdadeira doutrina midiática que produzirá adultos fadados a submissão dos valores hierarquizados por ela. Sempre comento, uso essa frase: O povo é aquele órfão, que na sua ilusão, enxerga o Estado como seu pai e a mídia como sua mãe. Abraços.

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