Os insectos transgénicos: Brasil, Índia, Espanha, Cayman, Panamá…

Um mosquito perturba o justo sono?
O Leitor já está com o chinelo na mão pronto para atacar?
Calma, Leitor, calma: pense bem antes de agir. Pode ser um simples mosquito molesto, mas pode ser outra coisa também. Por exemplo, um insecto transgénico. Que sempre molesto é, mas é furto da Ciência.

Pois os insectos transgénicos já estão no ambiente, só que ninguém sabe disso.

No Brasil, foram libertados milhões de mosquitos “manipulados” para combater o mosquito Aedes aegypti, cuja picada provoca a dengue. A história não é nova: antes um teste nas Ilhas Cayman, depois a Malásia, agora o Brasil. E a seguir? A Espanha, com a mosca transgénica da oliveira.

Podemos pensar: bom, afinal são insectos que “fazem bem”. A dengue, por exemplo, é uma praga que a cada ano provoca muitas mortes: conseguir controla-la ou até elimina-la com um insecto nosso aliado não pode ser senão positivo. O que é correcto. Mas esta é apenas a primeira parte da história. Depois há a segunda.

Os insectos mexem-se e ao fazer isso propagam-se, chegando em qualquer lugar. Contaminam os seus predadores também; e contaminam a fruta. Quem come a fruta?

Pensará o Leitor: “Bom, mas haverá controles”. Pois, os controles.

A empresa Oxitec produz o mosquito geneticamente modificado que faz parte do projecto realizado pela organização Moscamed Brasil. Sempre a Oxitec avançou o pedido perante as autoridades europeias para libertar no meio ambiente (Espanha) a mosca das azeitonas geneticamente modificada, notícia que provocou o protesto de vários grupos ambientalistas.

A Firab, Fundação Italiana de Pesquisa em Agricultura Orgânica e Biodinâmica:

É um sério risco para o meio ambiente e uma tecnologia não testada e validada: risco agravado pelo facto de que os insectos geneticamente manipulados são exóticos e não relacionados com os ambientes em que são libertados. A mosca da azeitona usada pela Oxitec não é nativa da Espanha, mas projectada a partir duma espécie grega cruzada com uma israelita. Então o medo é de introduzir indivíduos portadores de diferentes níveis de resistência aos pesticidas.

A libertação no meio ambiente de linhagens de parasita entomológicos não-nativos é proibido pelas normativas europeias, pois algumas características indesejáveis ​​potencialmente presentes na estirpe recém-introduzida, como a resistência aos pesticidas, podem espalhar-se na população selvagem. Outras preocupações estão relacionadas com o grande número de larvas OGM mortas e vivas presentes na frutas enviada para o consumo e o impacto nos ecossistemas dos insectos geneticamente modificados.

A Oxitec, depois de ter recebido um “não” da Inglaterra, está a tentar introduzir os insectos transgénicos nos Estados Unidos . Por exemplo, para introduzir os mosquitos geneticamente modificados contra a dengue na Florida: mas logo a notícia se espalhou, a população mobilizou-se com uma recolha de assinaturas para impedir o avanço do processo. As autoridades locais suspenderam o projecto e esperam os resultados das investigações e dos ensaios sobre a segurança desses insectos.

A Oxitec admitiu que, além da libertação no meio ambiente de exemplares machos (que não transmitem a doença através da picada), também são libertadas fêmeas: a empresa garante que a picada das fêmeas OGM não transmite nada, o problema é que há apenas os estudos da empresa que testemunham isso. Temos de confiar.

Na verdade, não existem estudos sobre a população de mosquitos, tal como não há estudos sobre a contaminação que os insectos OGM podem produzir no meio ambiente, os eventuais cruzamentos com insectos “convencionais” e as consequências nos predadores ou nos consumidores finais da fruta contaminada.
Além disso , os insectos transgénicos já foram emitidos também para as Ilhas Cayman, Malásia e em breve vai acontecer no Panamá e na Índia.

Helen Wallace, directora da inglesa GeneWatch:

As pessoas vão ficar muito surpreendida ao saber que os insectos geneticamente modificados podem ser libertados no meio ambiente sem um controle adequado.

A lobby

Há muitos conflitos de interesse acerca do assunto. O facto é bem explicado no relatório publicado pela
TestBiotech, empresa sem fins lucrativos. O relatório explica como o Oxitec infiltrou-se nos processos de tomada de decisão de vários Países.

A empresa estabeleceu relações com a multinacional dos pesticida e OGM Syngenta e já libertou no ambiente milhões de insectos geneticamente modificados.

A EFSA, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, é apontada como um dos muitos exemplos de como a indústria organize e implemente a sua influência ao nível das tomadas de decisões: no grupo da EFSA que avalia os insectos geneticamente modificados há muitos casos de conflitos de interesse, incluindo especialistas relacionados com a Oxitec que só parcialmente admitem o relacionamento. O documento da EFSA que avalia os riscos destes insectos no meio ambiente tem deficiências óbvias: por exemplo, não considera o impacto dos insectos transgénicos na cadeia alimentar.

A Oxitec, explica Barbara Peterson da Farm Wars, tem planeado os insectos para que estes morram maioritariamente no estágio larval: isso significa que as larvas entrarão na cadeia alimentar depois de terem sido depositadas na fruta. Mas parte deles podem sobreviver e espalhar-se em outras plantações. Não há nada disso nas avaliações da EFSA.

Depois, há o problema destes insectos terem sido libertados no meio ambiente sem qualquer informação preventiva fornecida às populações: a Oxitec foi capaz de influenciar as autorizações também neste sentido. Antes definiu a libertação dos insectos transgénicos para o meio ambiente como um “confinamento biológico” para evitar a avaliação de risco, depois evitou completamente de explicar como esses insectos podem ser contidos e limitados num área específica ou em específicos produtos. Pois é claro como isto não seja possível.

Finalmente, a empresa não forneceu nenhuma avaliação de risco acerca do impacto da sobrevivência do insecto no ambiente e na saúde humana, tal como nas populações originais de insectos ou na imunidade humana perante as doenças, e as eventuais mudanças que podem ocorrer nas doenças alvos da libertação.
Para evitar qualquer responsabilidade, simplesmente tenta operar uma implementação do produto em larga escala, antes que haja um regulamento geral que ponha limites e/ou garantias.

Entretanto, novas libertações são programadas na Índia e no Panamá.
É só confiar.

Ipse dixit.

Relacionado: “zzzzzzzzz” diz o mosquito

Fontes: GeneWatch, Test Biotech, EFSA: Guidance on the environmental risk assessment of genetically modified animals, Oxitec Press Release: Moscamed launches urban scale project using Oxitec GM mosquitoes in battle against dengue, Oxitec Press Release: Oxitec’s olive fly strain could become first GM insect to undergo field evaluation in the EU, Gene Watch: Oxitec’s Genetically Modified Mosquitoes – Ongoing Concerns (ficheiro Pdf, inglês), Test Biotech: Genetically-modified insects – Under whose control? (ficheiro Pdf, inglês), BBC News

3 Replies to “Os insectos transgénicos: Brasil, Índia, Espanha, Cayman, Panamá…”

  1. Olá Max:confesso que nunca ouvi falar disso. Tomar conhecimento de situações como essa da proliferação de mosquitos transgênicos em dadas regiões do planeta me levam a considerar que tudo é possível em se tratando de ciência globalizada:envenenamento da atmosfera, sismos localizados, desertificação sob controle humano, escassez de chuvas em determinados pontos do planeta, morte controlada dos solos em lugares determinados… Enfim, tudo e qualquer coisa é possível para exercer o controle eficaz e regulação desejada sobre o planeta e seus habitantes, sem o conhecimento dos interessados. Abraços

  2. Estou como a maria. Nunca tinha ouvido falar de tal coisa. Animais e plantas, sim. Agora insectos geneticamente modificados para mim é novo.
    Gostava de entender bem a alma deste negócio.

    Krowler

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