Desemprego: 93 milhões no G20

Qual o número total de trabalhadores desempregados nos Países do G20?

Resposta: 93 milhões.

Nada mal, não é? E falemos aqui do desemprego oficial, isso é, aquele das estatísticas governamentais. Porque os números reais são bem piores.

E a boa notícia? Não há: o total dos desempregados continua a aumentar.
Se a taxa de desemprego em Portugal já alcançou a casa de 18%, se os Estados Unidos têm de lidar com uma crise sistémica do emprego, os dados indicam que a falta de emprego é uma praga que envolve muitas mais realidades. Existe alguma esperança de recuperação?

Infelizmente, há várias tendências de longo prazo que se desenvolveram ao longo de décadas e que desempenharam um papel importante para a criação da actual situação.

Em primeiro lugar, as grandes corporações que hoje dominam totalmente a economia mundial já perceberam que podem lucrar muito mais substituindo trabalhadores que vivem nas grandes nações industrializadas com os trabalhadores que vivem em Países onde é legal pagar salários de escravos.
Portanto, não é grande mistério entender uma das razões do desemprego no mundo ocidental. Por qual razão uma empresa multinacional deveria contratar trabalhadores que custam 10 ou 20 vezes mais do que os outros trabalhadores? Um trabalhador é um trabalhador, e nos últimos dez anos temos assistido a um movimento maciço de deslocação de empregos para Países onde a mão de obra é mais barata.

Depois há o enfraquecimento global das economias ocidentais nos últimos anos. Enquanto estas tendências de longo prazo intensificarem, a crise de emprego em todo o mundo vai continuar.

Culpa da tecnologia também? Até um certo ponto: é verdade que as grandes empresas tentam limitar o número de funcionários através do uso de máquinas, coisa que pode diminuir os custos de produção. Mas também é verdade que esta é questão antiga (desde o final de 1700 pelos menos) e não impediu períodos de pleno emprego ou quase.

Resumindo, Guy Ryder, o Director Geral da Organização Internacional do Trabalho está plenamente convencido de que o desemprego veio para ficar:

O desemprego deverá continuar a crescer ainda mais no grupo das 20 maiores potências económicas se não forem tomadas medidas imediatas. Demos passos para trás. É bastante alarmante observar como o desemprego não caiu, na verdade tem crescido.

E quando aqueles que vivem nas Nações do G20 perderem o empregos, tendem a ficar desempregados por um tempo prolongado. Na verdade, 30 por cento dos trabalhadores desempregados do G20 ficam sem trabalho por um ano ou mais.

G20: os dados

Fonte: Eurostat – Clicar para ampliar!

Alguns dados.

  • A taxa de desemprego na África do Sul é superior a 25 por cento.
  • A taxa de desemprego na França atingiu recentemente o maior pico dos últimos 15 anos.
  • A taxa de desemprego na Itália é de 12,2 por cento, a mais alta dos últimos 35 anos.
  • A taxa de desemprego na alegre Zona Euro está nos máximos históricos: 12,2 por cento.
  • A taxa de desemprego em Portugal está perto de 20%.
  • A taxa de desemprego na Polónia é de 13,2 %.
  • A taxa de desemprego na Irlanda é agora de 13,6%.
  • A taxa de desemprego na Grécia está actualmente em 26,9% e, de acordo com algumas projecções, em breve chegará a 30%.
  • A taxa de desemprego na Espanha é ainda pior do que na Grécia: 27,2%.
Infelizmente, parece que as coisas não vão melhorar, pelo menos no curto prazo. A confiança das empresas é hoje a mais baixa desde a última recessão: menos confiança significa menos investimentos mas também menos novos lugares de trabalho.

Nos EUA

E o que dizer dos Estados Unidos?
Os dados oficiais não parecem tão graves como os do resto do mundo, mas a verdade é que a taxa de desemprego oficial mantive-se na casa de 7,5% (ou até mais) por 54 meses seguidos: o período mais longo na história do País.

E, apesar das declarações dos media, a taxa real de desemprego não diminui.
O New York Times realçou recentemente como a suposta queda do desemprego deve ser lida de forma bem diferente:

Um passo atrás. Muitas pessoas perderam os seus empregos durante a Grande Recessão. Mais tarde, a grande surpresa foi observar como pouco estejam à procura de novos empregos. A participação da força de trabalho, o total de adultos que trabalham ou tentam encontrar um emprego, tem-se mantido estável na casa de 63,5 por cento, quase três pontos percentuais abaixo do nível pré-recessão.

A taxa de desemprego caiu quase inteiramente devido a este declínio da participação da força de trabalho. Em outras palavras, o desemprego não caiu porque as pessoas encontraram trabalho. Diminuiu porque menos pessoas estão à procura de um emprego.

Para obter uma imagem mais precisa do que realmente está a acontecer com empregos nos Estados Unidos, precisamos olhar para a taxa população-ocupação. Esta é uma medida da percentagem da população activa que está realmente a trabalhar: e esta  percentagem de americanos em idade de trabalho que realmente têm um emprego está em queda desde o ano 2000.

Não houve recuperação do emprego. Quando os meios de comunicação relatam que o número de emprego em Junho foram “fabulosos” significam que não são honestos: a verdade é que a taxa de desemprego subiu em 28 Estados dos EUA e diminuiu apenas em 11 Estados. Em Junho a economia dos EUA perdeu 240 mil postos de trabalho.

Melhor lembrar mais uma vez: todos estes são apenas dados oficiais. A realidade é pior, o desemprego real é superior. E sabemos que as perspectivas não são animadoras, pelo contrário.


Dúvida: ao longo de quanto tempo esta situação será sustentável?

Nota
Eis a lista dos Países membros do G20 (divididos em grupos):
G8: Canada, França, Alemanha, Italia, Japão, Reino Unido, EUA, Rússia
Brics: Brasil, China, Índia, África do Sul
Outros: México, Indonésia, Arábia Saudita, Argentina, Coreia do Sul, Austrália, Turquia, União Europeia

Observadores (não membros): Espanha, Holanda 

Ipse dixit.

Fontes: no texto

6 Replies to “Desemprego: 93 milhões no G20”

  1. Muito bom panorama!! Alguns países podiam fugir a este facto que não vai ter soluçao(a menos que se mude a forma de taxar as empresas)fazendo trabalho de casa = a Africa do Sul tem miséria e carencias até envergonhando o regime do aparteid efacilmente(tem moeda propria)podia promover a eliminaçao dessas deficiencias.So que para isso épreciso governantes (não falo da capatazes!!)

  2. A materia faz um "oba-oba" como se tivesse descoberto a pólvora, quando na verdade taxa de desemprego SEMPRE foi calculada dessa maneira… (ou seja, se a pessoa deixa de procurar emprego, ela NÃO é considerada desempregada).

    Voce nao pode ficar mudando a forma de calcular as coisas, porque senão fica impossível comparar dados historicos (e o que vale é sempre a COMPARACAO entre epocas diferentes, e nao simplesmente olhar numeros absolutos em um unico momento).

  3. Olá António!

    Não acho que o problema não tenha solução. Aliás, já houve alturas com taxas de desemprego bem menores. O problema nem está tanto nas políticas (em particular as últimas) que foram seguidas, quanto no sistema.

    O actual sistema não é capaz de fornecer um mínimo de protecção a dezenas de milhões pessoas que perdem os empregos por causa de factores externos ao mundo do trabalho.

    Nada daquilo que se passou desde o ano 2008 (começo da crise) esteve relacionado com problemas dos ciclos produtivos em geral. Pelo contrário: a crise agravou uma tendência, a deslocação das empresas para mercados onde a mão de obra é mais barata.

    Não por acaso, alguns acham que isto não foi um efeito mas um dos objectivos da crise.

    "Só que para isso é preciso governantes"

    Exacto: sem políticos sérios (não os homens do sistema actuais) não é possível sair deste labirinto.

    Grande abraço!!!

  4. Olá Rubens!

    Ninguém aqui quer mudar a maneira de calcular a taxa de emprego.
    Todavia, é bom saber que os dados oficiais são uma coisa e a realidade do números outra coisa diferente.

    Sem entender isso, torna-se mais fácil acreditar em tudo quanto for vendido pelos governos.

    Aqui estamos a falar de algo que vai além da mera aritmética: este é o campo da política e na política os números não são absolutos mas são interpretados (já viu um partido perder as eleições e vender isso como uma vitória?).

    A questão não é mudar as metodologias, mas acreditar ou não as interpretações oficiais. Para poder decidir, é bom saber que existem mais dados além dos oficiais.

    Abraço!

  5. Eu fico com curiosidade em saber qual será a taxa dos indivíduos que vivem em Portugal e que têm um emprego…

  6. olá Max: algo me diz que o emprego é uma coisa em extinção ou cada vez mais, pior remunerada. Então me parece que alternativas ao emprego assalariado deveriam ser pensadas, tais como o trabalho cooperativo para gerar formas de sobrevivência.
    Os desempregados quase que inutilmente procuram e procurarão empregos. Se esse tempo e essa energia fossem desviadas para criar formas de trabalho que assegurem formas alternativas de vida, talvez tivéssemos mais sucesso com um tipo de sobrevivência mais criativa e mais baseada numa realidade que é impossível negar, ou seja, as formas de vida social tais quais as conhecemos estão em colapso. Abraços

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