Vacinas: proteger-se contra o nada

É alarme sarampo na Grã Bretanha.

A epidemia alastra nas terras de Sua Majestade, em particular no País do Gales, e o site do NHS (National Health Service, o sistema de saúde britânico) fala mesmo disso: measles outbreak, surto de sarampo.
Vamos ler:

Um surto de sarampo no País de Gales é um lembrete da importância da vacinação MMR [Measles, Mumps and Rubella, ndt]. Nunca é tarde demais para que os seus filhos (ou você mesmo) sejam vacinados contra esta perigosa doença.

Se os seus filhos ainda não receberam a vacina MMR, não demore. Houve mais de 800 casos confirmados de sarampo em Swansea e o surto não mostra sinais de abrandamento.

Por que é tão importante a ser vacinadas contra o sarampo?

O sarampo não é trivial. É muito infeccioso, é doença desagradável que, em casos raros, pode ser fatal. Cerca de uma em cada cinco crianças com sarampo experimenta complicações como infecções dos ouvidos, diarreia e vómitos, pneumonia, meningite e doenças oculares. Uma em cada 10 crianças com sarampo acaba no hospital. Não há tratamento para o sarampo. A vacinação é a única forma de prevenção.

Enfim, “800 casos confirmados” não são uma brincadeira. Mas se o Leitor viver longe do País de Gales? É o caso para ficar preocupado?

Um surtos de sarampo pode acontecer em qualquer lugar, a qualquer momento, seja onde for que você more no Reino Unido, é importante que os seus filhos fiquem actualizados com o MMR e as outras vacinas infantis. […] Se os seus filhos estiverem em idade escolar e só com uma dose de MMR, ou não foram vacinados de todo, devem ser vacinados o mais brevemente possível.

Moral: sim, fiquem preocupados, pois o Gales está aí, sempre demasiado perto.
Única dúvida: mas quanto custa  vacina?
Nada, é tudo de borla:

A vacinação MMR está disponível gratuitamente para adultos e crianças no NHS.

Sorte nossa, assim ficamos protegidos sem gastar um tostão.
Mas protegidos contra o quê? Contra o nada: não há nenhuma epidemia de sarampo na Grã Bretanha.

Site da World Health Organization (WHO), a Organização Mundial da Saúde, número de casos de sarampo (measles) no Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte, período 2008-2013:

(click para aumentar!)

No ano passado houve o mesmo número de casos do que em 2008. E em 2008 ninguém tinha lançado o “alarme sarampo”. E os “800 casos confirmados” em Swansea? Desaparecidos.

Artigo do Dr. Attilio Speciani, especialista em Alergia e Imunologia Clínica, Anestesia e Cuidados Intensivos, que trabalha na Italia e no Reino Unido:

Estando eu registado como médico não só na Itália, mas também no Conselho Britânico de Medicina Geral, e trabalhando tanto em Milão quanto em Londres, fiquei intrigado com a notícia [do surto de sarampo, ndt] e simplesmente quis verificar a veracidade das fontes, fazer uma avaliação comparativa dos casos britânicos de sarampo nos últimos anos.

Primeiro de tudo, quis descobrir qual a posição da Organização Mundial da Saúde, que normalmente segue de forma consistente e com precisão os dados diários de qualquer “surto” infeccioso em todo o mundo. Tal como aconteceu com a gripe SARS ou a Gripe Suína, a OMS recolhe com precisão todos os dados sobre os novos casos e comunicá-los logo, a fim de impedir a circulação inesperada das doenças infecciosas virais e informar prontamente a população .

No site da OMS (OMS), há uma secção específica dedicada às News sobre a doença, e outra parte específica dedicada ao controle sistemático da disseminação do sarampo. Com um pouco de surpresa (mas nem muita), descobri que a OMS não dá praticamente nenhum realce a esta suposta epidemia.

Também fornece os dados, que todos podem consultar livremente. […] Os dados são muito claros: há, talvez, um modesto aumento dos casos desde o final de 2012 até hoje no Reino Unido, com nenhuma prova de epidemia. De fato, a OMS nada realça… Repetimos: não é que não repare nisso, simplesmente não realça o facto como realmente epidémico, considerando-o uma simples flutuação estatística.

Se entrarmos no site do Sistema Nacional de Saúde britânico [o NHS, ndt], somos recebidos por um frasco da vacina MMR e levados para duas secções principais: uma que fala da vacinação e da campanha lançada no passado 25 de Abril para vacinar, pelo menos, um milhão de crianças com idade entre 10 e 16 anos, e uma que tem o título de “Sarampo: os factos documentados”, que se analisada por um médico ou um pesquisador provoca uma nuvem de dúvidas muito pesadas.

Na área dedicada aos “factos documentados” é possível ler dos riscos do sarampo e afirma-se que a única maneira de combater a doença é a vacinação (ninguém fala das defesas imunitárias autónomas) […]. Não há um dado sobre a real extensão da epidemia e nenhuma tabela de comparação dos dados com os anos anteriores.

Esse tipo de informação não é dada para ajudar as pessoas a decidir, mas para empurrá-las a não procurar dados (completamente ausentes nessas páginas), e quando após o quarto click, passando para um link externo da Health Protection Agency que é chamado somente “Sarampo”, finalmente tivermos um pdf com alguns dados acerca dos últimos três anos, vemos que a maior incidência de sarampo têm sido sempre entre Novembro e Março e que em Maio os casos (como está a acontecer agora, neste período) sempre foram diminuindo até quase a desaparecer.

Mas há mais. A partir dos dados do pdf podemos também observar como as crianças mais afectadas  hoje são aquelas entre os 14 e os 15 anos, as mesmas que quando em 2003 tinham 5 anos foram vacinadas em 92% dos casos.
Vice-versa, as crianças com agora idades entre 9 e 10 anos, que foram vacinadas um pouco menos (entre 85% e 87% do total) são aquelas que hoje contraem menos sarampo.

Mais uma vez: as vacinas são todas inúteis? Não, não é verdade. Mas, como observa o mesmo Speciani:

A minha sensação é que hoje estas batalhas não são combatidas atrás do microscópio ou nos consultórios médicos, mas directamente em Wall Street ou na bolsa de valores em Zurique e peço para que todos considerem cuidadosamente as notícias obsessivas ao longo dos próximos meses, pois muitos sinais de negação na liberdade de escolha sanitária estão a surgir em todo o mundo e a primeira defesa decorre principalmente do facto de estarmos informados e do conhecimento.

Nem mais.

Ipse dixit.

Fontes: NHS (1, 2), WHO, Health Protection Agency: Measles cases in England: January to March 2013 (ficheiro Pdf), Eurosalus
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4 Replies to “Vacinas: proteger-se contra o nada”

  1. Ora, mas como se diz por aqui: "de graça até injeção na testa" , mas se ela não imuniza realmente o que faz então no corpo e na mente ?

  2. Olá Max: eu sempre olho com preocupação tudo que é judicialmente, socialmente e ou moralmente obrigatório…se fosse bom não seria compulsório. Assim que fico longe do voto obrigatório, da vacina "quase" obrigatória, do casamento "quase" obrigatório,do emprego "quase" obrigatório, aquele que ocupa o dia todo, a vida toda, enfim, essas obrigatoriedades tem um efeito de poder terrível sobre as mentes incautas…e convence. Abraços

  3. Este tema das vacinas já foi assunto tratado anteriormente aqui no II.

    Lembro-me de ver uns gráficos em que não havia correlação directa entre o decaimento de uma doença e a sua vacinação.
    Dito por outras palavras o numero de infectados não sofreu qualquer alteração por força da aplicação da vacina, mantendo-se a curva com a mesma tendência decrescente.

    Isto não significa que todas as vacinas sejam más. Longe disso. Mas muitas delas são puro negócio.

    krowler

  4. Mesmo sendo médico de PSF-Sus a questão das vacinas me deixa em dúvida sempre. Por princípio acho que aqueles que detém um sistema imunológico capaz de reagir naturalmente, apenas por cuidados e prevenção lúcida, não deveriam aceitar serem vacinados, especialmente esta associação duvidosa vírus sazonal e H1N1,que enchem o bolso de empresas e acionistas. O medo faz mães e muitos procurarem vacinas e acabam prejudicando o organismo, pois nossa natureza necessita os combates antígeno-anticorpo e os alarmes febris agudos,pois um organismo "sicotizado", como refere a homeopatia, perde a reatividade e esclerosa. Inclusive a fitoterapia, homeopatia, acupuntura e naturoterapias são opções de episódios agudos. Entrementes, vacinas como Polio e as clássicas fica perigoso ao médico desaconselhá-las, já que vivemos em uma cultura, sociedade e civilização de implicações coletivas e legais-penais.

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