Contra os pobres, ao lado dos ricos

Joseph Ratzinger

Eu não tenho nada contra a Igreja.

Contrariamente a muitos Leitores, não acho a religião “um mal”: pelo contrário, é uma vertente natural, desde sempre presente nas comunidades humanas, na base das primeiras expressões artísticas, presente ainda antes da capacidade de ler ou escrever.

Esta é a religião. Depois há a Igreja, a religião institucionalizada. Isso é já diferente, como é óbvio: mas se for verdade que não concordo com a maior parte do que a Igreja de Roma é ou predica, sobretudo quando comparado com aquilo que deveria ser, a minha filosofia é “ela está aí e eu estou aqui”, cada um pela sua própria estrada.
Ponto final.

Ponto final? Não.
Porque depois abro os jornais online e que vejo?
AGI: O Vaticano “abençoa” Monti.
Il Messaggero: O Vaticano apoia Monti “um empenho nobre”.
Il Secolo XIX: O Vaticano apoia Monti

Então a ideia “cada um pela sua própria estrada” já não funciona, porque a Igreja entra de forma pesada num jogo que não é o dela, é o meu.

“Mas”, pode perguntar o Leitor, “os católicos não têm o direito de participar na vida política?”.
Sim, claro que têm: mas não disfarçados de mensageiros de Cristo.
A vida religiosa tem os seus próprios lugares para cuidar do espírito e estes lugares são as igrejas.
A vida política tem os seus próprios lugares para cuidar das coisas materiais e estes lugares são os partidos. A religião na política faz sentido como os cartazes eleitorais ao lado dos altares.

Mas há mais do que isso.
Mario Monti, homem Goldman Sach-Coca Cola, desenvolve em Italia o papel que em Portugal é de Pedro Passa & Coelho, em Espanha de Mariano Rajoy, na Grécia de Antonis Samaras. É o papel de quem quer tirar aos pobres para dar aos ricos; reduzir os rendimentos de quem trabalha para favorecer as corporações; drenar o património público e privatizar o que sobrar; aniquilar o Estado social e proteger os bancos.

Na Igreja há padres que dedicam a vida toda aos mais desfavorecidos. São os padres que trabalham nas ruas, ao lado dos marginalizados, os que tentam dar uma esperança. Há padres assim e merecem o máximo do respeito e do apoio.

Depois há o Papa que entra na arena política para apoiar quem actua uma política que é o exacto contrário dos ensinamentos de Cristo. Esta é uma blasfémia.

Os padres honestos, empenhados (em Italia lembro de Don Gallo, Don Zanotelli, mas em todos os Países há vários), deveriam pegar num Evangelho com a mão direita, num punhado de terra com a esquerda e refundar a Igreja de Cristo, em nome dos pobres, dos que sofrem, da justiça, duma verdadeira espiritualidade.
Depois, em nome de Deus, deveriam excomungar este Papa, este Vaticano e todos aqueles que continuam a trair a mensagem dos Evangelhos.

Eu seria o primeiro dos fieis. E, com certeza, muitos outros seguiriam.

Ipse dixit.

13 Replies to “Contra os pobres, ao lado dos ricos”

  1. Olá Max: não conheço quem tenha blasfemado mais, por pensamentos e atos, que os altos mandatárias da Igreja, e isto desde que esta instituição foi erguida, e mantida milenarmente como uma das mais longevas e malignas máfias que possam ter existido,sob o manto de cristandade, abençoando tudo que possa converter-se em dinheiro e poder, desde o colonialismo, a escravidão,a rapina, o genocídio, e todos os ilícitos. Se se fizesse uma enciclopédia com os crimes da igreja católica, apostólica, romana, seria por certo a maior enciclopédia que teria sido feita.
    Logo, apoiar Monti, que pertence ao grupo de católicos de poder ligados ao Vaticano, é óbvio e esperado.Como é esperada a postura do papa e de Monti.
    Quanto a religiosidade e/ou espiritualidade, seria muita estupidez negá-las, todos de uma forma ou de outra as possuímos. O que, decididamente eu não confundo, é o natural reconhecimento palas crenças religiosas de indivíduos e povos, e o uso que foi feito historicamente delas para exercício de poder de dominação sobre os desgraçados do mundo. Abraços

  2. O que vocês gostam meeesmo é de denegrir a ICAR. Já tipos como edir macedo, vocês aaaaadoram!

  3. aaitsre 1416Caro Max e amigos.
    Tudo caminha conforme a agenda da casa grande do não combinado com a estupidificada massa senzalada que parece adorar a sua escravidão sem poder (ou sem querer?) perceber que seu mundo já se acabou faz tempo.
    Já já vão cortar pedaços e oferecer cabeças ao público, e, beber o sangue em pleno ringue/jaula será só uma questão de patrocinador. Maravilha vampiresca televisionada. Cretinices e lixo são poço sem fundo. Por isso mesmo cavaram buracos para a tal de elite sobreviver mais mil ou 3000 anos, numa boa… Religiosamente.
    O Papa quer uma nova ordem mundial; para mais mil anos da velha casa grande e senzala? Sete bilhões ajoelhados com ou sem religião.
    Sinto muito 2013, sou grato.

  4. os cardeais (generais?) escolheram joão paulo II porque ele era o único que acreditava em deus.
    ratzinger é de direita. ele acredita é no dinheiro. e no poder.
    o povo? ora, o povo….
    emerson57

  5. Alguns papas já foram membros do grupo Bilderberg, este é quase certo que também seja.

    O vaticano, assim como a igreja está corrompido, não podemos acreditar em tudo que vemos por aí, porém a igreja e o cristianismo sempre foram de "direita",impossível ficar do lado da esquerda pois esta sempre se mostrou um adversário feroz a qualquer religião e principalmente ao cristianismo.

    O que temos que ter em mente é que não existe somente 1 grupo elitista com objetivos globalistas… Não existe apenas 1 nova ordem, mas sim poucos, talvez uns 3 grupos que disputam entre si a globalização e o domínio. Um grupo é os EUA, Israel e a Igreja que obviamente, sempre foram de direita, os outros 2 grupos provém da China, Rússia e Islã. O grupo bilderberg pertence aos objetivos americanos de globalização, por isso vemos mais informação sobre eles do que os outros grupos. O resultado desta disputa entre esses grupos é triste, ou teremos mais uma grande guerra mundial, ou uma ditadura.
    Quando estes grupos brigam entre si, conseguimos juntar algumas pistas, mas ainda tem muita gente que acha que tudo vem apenas dos EUA.

  6. Então, ou teremos uma nova ordem totalitarista corporatva pela direita, ou teremos uma nova ordem ditatorial esquerdista? é isto? A guerra fria nunca terminou??

    Isto está me lembrando o plano eurasiano, oriente contra ocidente, religião contra religião para formar a antíntese…

  7. Olá Anónimo!

    "Não se deve julgar sem ouvir a fonte primária"

    Uma observação esquisita, considerado que o discurso do Papa foi proferido em italiano e eu sou italiano.

    O Papa não condenou o capitalismo financeiro, condenou o capitalismo financeiro "desregulado" (no original: "capitalismo finanziario sregolato". Link: http://www.bosecuriose.it/discorso-1-gennaio-2013-festa-della-pace..html).

    Mas honestamente das palavras do Papa interesso-me até um certo ponto: muito mais interessantes são os actos da pessoa. E o apoio ao candidato Mario Monti, homem Goldman Sachs – Coca Cola, é um facto.

    Como consegue o Papa condenar um capitalismo desregulado e ao mesmo tempo apoiar um candidato que daquele capitalismo selvagem é a directa expressão? Difícil entender isso.

    Em que temos que acreditar, nas palavras ou nos actos? Eu, como afirmado, já tenho a minha escolha.

    Em qualquer caso: um Bom 2013 e um abraço!

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: