Há boas e más notícias.
A boa notícia é que a Europa, como mera expressão geográfica, continuará a existir.
A má notícia: o resto.
Uma visão demasiado pessimista? Não: factos.
O blog The Economic Collapse lista uma série de dados arrepiantes, acerca dos quais vale a pena reflectir e que constituem um corpus que permite avançar com algumas previsões.
E o problema não é apenas europeu: o sistema bancário do Velho Continente é bem maior do que o homologo americano.
Lembra-se o Leitor do que aconteceu no mundo inteiro com os subprimes dos Estados Unidos? Ora bem: no caso da Europa seria até pior. É normal: sabemos que as economias e as finanças do mundo estão interligadas nesta pseudo aldeia-global.
E quais são estes dados? Vamos ver.
- As economias de 17 dos 27 Países da Europa contraíram durante pelo menos dois trimestres consecutivos.
- O desemprego na Zona NEuro atingiu o novo recorde histórico: 11.7 %.
- A taxa de desemprego (oficial) em Portugal é agora de 16,3 %. Um ano atrás, era de 13,7 % e já sabemos que no ano próximo irá subir.
- A taxa de desemprego na Grécia é agora de 25,4 %. Um ano atrás era 18,4 %.
- A taxa de desemprego em Espanha atingiu o novo recorde de 26,2 %. Já é maior do que a taxa de desemprego nos Estados Unidos durante a Grande Depressão dos anos ’30.
- Os níveis de desemprego entre os jovens da Grécia e de Espanha estão perto do 60 %.
- No início deste mês, a agência Moody baixou o rating AAA da França.
- A produção industrial caiu em toda a Europa. Não preciso ser um génio para descobrir que a incerteza económica da Zona NEeuro levou a um congelamento generalizado dos investimentos. A produção industrial cai com um ritmo acelerado: 7% ao ano em Espanha e na Grécia, 4,8% na Itália e 2,1% na França.
- Há também sinais de problemas nas economias “estáveis” na Europa (coisa que este blog já tinha antecipado). Na Alemanha, as encomendas em Setembro caíram 3,3 % em relação ao mês anterior (já fraco sendo Agosto) e as vendas em Outubro caíram 2,8 %, sempre em relação ao mês anterior.
- Estima-se que a dívida grega irá atingir 189 % do PIB no final deste ano.
Mais uma vez. A fonte dos problemas não é uma Europa unida: a fonte é esta Europa unida.
O futuro do Velho Continente passa obrigatoriamente por uma cada vez maior cooperação dos vários Países, mas sem tentar atropelar a soberania dos Estados: as diferenças são uma riqueza, não uma chata homologação.
Isso sem falar do Euro, nascido mal e gerido ainda pior. Doutro lado, nesta altura acho ser claro que o Euro tinha outros objectivos, não uma unânime integração de povos.
Pelo contrário: o Euro foi e ainda é utilizado para forçar uma união que de natural sempre teve muito pouco.
E aqui está a chave do falhanço, pois o fim tornou-se um instrumento de coerção. O Euro deveria ter representado o objectivo final, num programa de longo prazo: pelo contrário, foi a pedra sobre a qual tentou-se construir o prédio europeu, com uma marcha forçada.
A ideia era implementar a moeda única para depois forçar os Países utilizadores a abandonar as próprias prerrogativas em favor das instituições comunitárias, favorecendo assim uma integração forçada mas mascarada de democracia. Uma espécie de Cavalo e Tróia.
Mas esta táctica é reveladora: em primeiro lugar porque os arquitectos bem sabiam da ausência dum profundo espírito comunitário no seio da Europa. É só ler a história dos últimos mil anos para perceber quais os sentimentos que sobrevivem no Velho Continente.
Depois porque tratou-se duma visão económica que a História já condenou. E é interessante realçar a rapidez do julgamento histórico, que nalguns casos pode demorar centenas de anos. Neste caso não: uma única moeda implementada em economias tão diversificadas, em alguns casos até contratantes, gerou desequilíbrios insanáveis.
Há Países que falsificaram as contas para entrar no círculo do Euro (Grécia, mas não só). Pior: a crise dos Países mais fracos, obrigados a lidar com uma moeda demasiado forte, arrisca arrastar também aquelas economias até então consideradas “virtuosas” (Alemanha em primeiro lugar).
O projecto Euro, este projecto Euro, tem um futuro muito curto, que pode ser prolongado apenas com a força, nunca com o consentimento.
Implosão já em 2013? Improvável. O Euro não acabará em 2013.
Provável, pelo contrário, que a Zona NEuro perca alguns pedaços já no próximo ano.
A situação da Grécia é literalmente insustentável. E não há muito para acrescentar, os dados estão disponíveis para todos.
Portugal? Situação complicada. O governo terá que lidar com as próprias previsões erradas já no primeiro trimestre de 2013. O que poderá acontecer depois não sabemos. Mas a Grécia ensina: há margem para piorar.
Em Espanha a situação é extremamente complicada: um quarto de toda população activa não tem trabalho. E a política de austeridade “escolhida” (aspas obrigatórias) pelo governo promete não melhorar a situação.
A Italia está sob o efeito Monti, homem Goldman Sachs. Mas ao longo de quanto tempo este efeito possa durar não sabemos.
A França perde no sector dos investimentos: as taxas aplicadas pelo governo Hollande tiveram como efeito a fuga dos capitais. E ficar num País sem investimentos no meio duma economia continental em plena contracção não é nada simpático.
A Alemanha goza do próprio estatuto de “País modelo”. A simpática Angela Merkel foi ré-eleita chefe do próprio partido político com uma salva de palma de 9 minutos (mas Estaline ultrapassava os 10 minutos). Cedo os Alemães irão perceber que a queda dos Países mais fracos (Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda, Italia…) é também a queda das vendas da economia teutônica. E as salvas de palmas ficarão abaixo dos 5 minutos.
Este o panorama.
Por isso, previsão simples: recessão na Zona NEuro ao longo do próximo ano.
Ainda falta uma completa percepção pela simples razão que o nível de vida atingido ao longo das últimas 60 décadas foi particularmente elevado e ainda é superior ao da maioria dos outros continentes (África, América do Sul, boa parte da Ásia). Por enquanto há sinais e a queda não é abrupta, é mais uma lenta erosão que disfarça a gravidade da situação.
Economistas como Nouriel Roubini, John Greenwood, Felix Zulauf ou Joseph Stiglitz não têm dúvida: 2013 será um ano de recessão na Europa. Quanto grave, vamos ver.
Alguns vão até mais longe e prevêem uma recessão global, algo que abrangerá as maiores economia de todo o planeta. Isso porque a economia americana não consegue levantar o voo (e há o obstáculo Fiscal Cliff que ainda deve ser ultrapassado) e a contemporânea recessão europeia poderia ter efeitos negativos em conjunto.
Sempre que o mundo sobreviva ao 21 de Dezembro, óbvio.
Dito isso, meus Senhores: bom fim de semana.
Ipse dixit.
Fontes: The Economic Collapse
Olá Max,
Pois, resta apenas saber até que ponto vai ser mau.
Bom fim-de-semana.
Abraço,
Rita M.
Olá Max: "Ainda falta uma completa percepção pela simples razão que o nível de vida atingido ao longo das últimas 60 décadas foi particularmente elevado e ainda é superior ao da maioria dos outros continentes (África, América do Sul, boa parte da Ásia)" Isso é o que eu venho sentindo quando são descritas as características do decréscimo da qualidade de vida dos europeus. Longe de despreocupar-se, me parece que a reação ao empobrecimento é muito mais angustiantemente sentida, do que a daqueles povos que não empobrecem porque nunca enriqueceram, e consequentemente estão quase que geneticamente preparados para encarar o infortúnio da pobreza e da desproteção.Abraços
Quem ouvir os discursos do Passa o Coelho, até parece que estamos no bom caminho.
Eu alinho pela bitola do Nigel Farage. Esta gente devia ser julgada e presa por crimes contra a humanidade.
bom fim-de-semana
Krowler
sempre que os paises vão mal na economia, dão um jeito de arranjar algum dinheiro para os bancos.
corretíssimo!
o povo desempregado precisa de dinheiro para o que, mesmo?
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citei esse post no blog do professor hariovaldo de almeida prado.
emerson57