…e o filme?

Uma notícia curiosa do jornalista freelance Jim Stone acerca do atentado contra a embaixada americana em Bengasi, Líbia.

Relato esta notícia apenas como curiosidade, como afirmado, enquanto não há maneira de aceitar ou rejeitar as afirmações do jornalista.

O que julgo serem interessantes são outros pontos:

  • a existência de mais do que uma versão acerca da morte do diplomata
  • o facto que está a ser esquecido qual o casus belli, a razão que está na base dos recentes acontecimentos.

Dedica-se atenção aos “pormenores” e, lentamente, desaparece do horizonte a verdadeira motivação que fica atrás dos episódios de violência.

Comecemos com a teoria de Jim Stone.
Stone afirma que o atentado contra a embaixada americana em Bengasi é um falso. Porquê?
Simples, explica Stone: porque em Bengazi não há uma embaixada americana.

Para apoiar a tese, Stone apresenta a lista das embaixadas e dos consolados dos Estados Unidos no mundo, segundo o Departamento de Estado: a lista pode ser encontrada neste link e, de facto, não há nenhuma embaixada ou consolado americano na cidade em questão.

A seguir, Stone oferece duas ligações, uma do diário inglês The Guardian e outra do Daily Mail: a particularidade está no facto dos mapas apresentar a alegada embaixada em duas zonas distintas da cidade (perto do porto num caso, no interior no outro).

Stone acrescenta que também Google Maps e Wikipedia não citam embaixadas ou consolados em Bengasi.

E as fotos da embaixada que apareceram após o atentado? Stone afirma que aqueles apresentados são simplesmente prédios e ninguém pode verificar a  veridicidade. Dada a virtual ausência dum consolado ou embaixada, é possível apresentar a imagem de qualquer prédio destruído e ninguém pode afirmar o contrário.

Conclui o jornalista observando a função dos media: acríticos, limitam-se a funcionar como amplificadores de notícias construídas.

Que pensar de tudo isso?
Em primeiro lugar: que o embaixador Steven morreu acho ser coisa certa. Os moldes do acontecimentos podem ter sido alterados para tornar esta morte “útil”? Possível e, considerados os vícios norte-americanos, até provável. Mas tudo isso não demonstra a falsidade do ataque: e com uma oportuna utilização das palavras é até possível desmontar a verdade.

Dito isso, vamos ver o que temos.
O Departamento de Estado americano não confirma a existência da embaixada americana em Bengasi, isso é verdade. Aliás, o mesmo Departamento fala dum ataque contra uma “missão” dos Estados Unidos:

O Presidente Obama e a Secretária de Estado Hillary Rodham Clinton condenaram o ataque com mísseis contra a missão dos Estados Unidos em Bengasi, Líbia, que custou a vida de quatro Americanos, incluído o Embaixador dos Estados Unidos John Christopher
Stevens.

Por isso: nenhuma embaixada ou consolado no texto oficial, simplesmente uma mais genérica “missão”.
É suspeito? Eu diria que não. Após a “libertação” por parte da Nato, a Líbia é um País de rastos, no caos total e completo. O que interessava era eliminar o Coronel Khadafi, não o destino dos habitantes. Atingido o objectivo, os Líbios têm que desenrascar-se com o pouco que têm, e os resultados estão à vista: um País longe de estar “normalizado”, com choques diários entre as várias facções, onde domina o confusão.
No meio desta confusão, parece-me lógico que as notícias acerca da exacta localização deste ou daquele lugar possam ser contraditórias. Estamos a falar dum País onde o apito ouvido não é aquele do carteiro mas da bala que se aproxima. Temos que conceder um desconto.
Mais interessante um vídeo publicado no Youtube.

Este vídeo apresenta os últimos momentos de vida do embaixador dos EUA, Chris Stevens, puxado por uma janela do alegado edifício diplomático em Bengasi.
No filme há alguns homens que extraem um indivíduo duma janela de um edifício. Os presentes afirmam que o homem ainda está vivo e querem transporta-lo num carro até um lugar onde possa ser tratado.

O vídeo, realizado por tal Fahd al-Bakkosh, confirma as declarações das testemunhas e desmente as versões sucessivamente apresentadas pelos EUA: Stevens foi encontrado atrás duma porta de ferro, após ter sido forçada uma janela do prédio, e sucessivamente teria sido transportado até o mais próximo hospital.

Stevens, portanto, não morreu por causa do fumo (versão número 1), não foi morto num veiculo blindado, recolhido ainda vivo pela multidão, pontapeado e arrastado pela rua (versão 2, da Reuters) e nem foi sodomizado antes de ser morto (versão 3, The Washington Times).

É também interessante notar que nenhum órgão de informação mencionou a notícia segundo a qual Jamal Mabrouk, membro da Brigada 17 Fevereiro (uma formação revolucionário que teve um papel importante na “libertação” da Líbia), revelou que três dias antes do ataque a segurança da Líbia tinha avisado os diplomatas norte-americanos sobre a deterioração da situação de segurança na cidade. Segundo Mabrouk, houve até uma reunião com os diplomatas americanos sobre esta questão. No qual caso seria lícito falar duma morte anunciada

Seja como for, não podemos perder de vista a pergunta fundamental:
quem financiou o filme que está na origem das manifestações
anti-americanas? Quem teve a brilhante ideia de traduzi-lo para a língua árabe na vigília do 11 de Setembro? Porque os Estados Unidos (País onde foi gravada a “obra”) decidiram mexer-se só após a divulgação nos Países islâmicos ter atingido níveis incendiários, mesmo estando conscientes da delicada situação na qual os próprios funcionários se encontram no estrangeiro?
  
Porque, embaixada ou não embaixada, aquele foi o começo do novo confronto entre a sociedade ocidental e aquela islâmica, e ninguém tentou trava-lo.

Ipse dixit.

Fontes: Jim Stone Freelance, The Guardian, Daily Mail, Departamento de Estado Dos EUA (1) (2), Youtube, Italian Irib

2 Replies to “…e o filme?”

  1. Uma versão be crível dos acontecimentos: "Ele foi atraído a Benghazi para supervisionar pagamentos a mercenários líbios e estrangeiros que viajariam à Síria. Houve desentendimentos nos pagamentos e os mercenários estrangeiros, juntamente com militantes da Al Qaeda, decidiram torturar e linchar o embaixador e outros três diplomatas-agentes".

    Fico com as palavras de Platão na Apologia; "só sei que nada sei" e "Ao bom homem nada de ruim acontece, nem vivo nem morto".
    Como dizes tu mesmo Max, Ipse Dixit.

  2. Olá Max: Pepe Escobar, jornalista brasileiro que trabalha para o Asia Times tem uma versão diferente da maioria. Só para anunciar mais uma. Abraços

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