Populismo, demagogia, mediocridade: os que ficaram em casa

Jornal Público de hoje:

Os veículos do Estado estão atribuídos
na sua maioria a polícias e militares, mas há centenas de outros
serviços com carros públicos, incluindo o SIS (144 veículos) ou o
gabinete do primeiro-ministro (31).

31 veículos à disposição do Primeiro Ministro. Que é um.
O que faz uma pessoa com 31 veículos? Um por cada dia da semana. E são 7. Mas os outros 24?
Ah, pois: a corte. A protecção pessoal, os secretários, os assessores, os convidados, os hóspedes.
Faz sentido. É necessário.

Os trabalhadores têm que cortar 7% dos próprios ordenados, mas o Primeiro Ministro não pode ficar com apenas 2 veículos, seria ridículo.
Os pensionistas vêem as reformas cortadas, mas o Primeiro Ministro, tentamos ser objectivos, não pode abdicar dos 31 carros.
O País foi deixado deslizar numa recessão como nunca antes: perdeu 6% em pouco mais de um ano. Mas, sejamos honestos, os sacrifícios não podem atingir todos, tem que haver alguém que escape.

Reduzir o números das viaturas do Primeiro Ministro e da classe política?
Demagogia, populismo: não é assim que a crise pode ser resolvida. 

A crise pode ser resolvida de outra forma: deixando que a classe política continue a gozar dos privilégios enquanto os cidadãos vêem desaparecer os serviços.
Esta não é demagogia e nem populismo: é a saída da crise.

Não passa pela cabeça de ninguém que possam existir coisas chamadas “exemplo” ou “motivação”.
Quem sabe, talvez dando o exemplo fosse possível observar mais motivação: haveria a sensação que sim, de facto os sacrifícios são para todos. Seria apenas uma ilusão, verdade, mas por vezes é mesmo disso que precisamos.

Mas não é este o caso. A ideia do exemplo é afastada, os sacrifícios devem ser feitos, não há outra solução. E quem diz isso são as mesmas pessoas que gozam dos privilégios. Não é curioso?
Não, é normal.

Qual a alternativa? Reduzir os privilégios? Esta é demagogia, é populismo. E voltamos ao princípio: não é assim que a crise pode ser resolvida.

O número de desempregados inscritos nos centros de
emprego subiu 26,3 por cento, para 673.421 pessoas, em agosto, face ao
período homólogo, tendo crescido também 2,8 por cento face a julho.
De acordo com os dados hoje publicados pelo Instituto
do Emprego e Formação Profissional, o número de inscritos aumentou mais
de 140 mil em 12 meses, tendo o desemprego subido em todas as regiões do
país.

Esta é a via. Mais desempregados significa menos economia. Menos economia significa recessão agora mas recuperação depois. Como? Mistério. Quando? A partir de 2013, podem estar certos. Quem afirma isso é a mesma pessoa que tem 31 veículos à disposição.

Esqueçam os privilégios da classe política, não sejam populistas, alarguem os braços e repitam: “Não vejo outra solução”. E não há, sobretudo se não há vontade de fazer funcionar os neurónios. Portugal tem que sofrer, temos que ficar pobres para que a nossa dívida alcance 2,5% do PIB.
A propósito: porque os outros Países 3% e Portugal 2,5%?
Desculpem, outro ataque de demagogia.

A solução é a exportação. Pouco importa se apenas 10% das empresas portuguesas conseguem exportar alguma coisa, as outras podem ir em frente com o dinheiro tirado aos salários dos trabalhadores. Lembrem, não há outra maneira.

Ou talvez houvesse. Lembro que este blog falou várias vezes da Islândia, da Argentina. Mas é verdade, a Islândia é demasiado pequena e a Argentina demasiado grande. Não, não podem ser soluções. Porque não há.

A solução

Basta, meus amigos, basta. Chegou a altura de encarar a realidade. Eu sou pretensioso e arrogante, admito, por isso dobro-me perante o governo que não recua nas suas decisões. Admiro a postura. E agora percebo.

Ontem estive a ver a televisão. Viram a manifestação? Era falsa. Tudo criado com o computador. Nas ruas não havia ninguém. O bom Português sabe que não há soluções e não perde tempo com inúteis demonstrações. O Português não é populista, gosta dos factos.

E quais os factos? Os locais estão cheios no Sábado à noite. Onde está a crise? Crise seria ver as pessoas que morrem de fome na rua, esta sim que seria uma crise séria. Mas em Portugal se uma pessoa estiver desempregada é só porque não tem vontade de trabalhar.

As lojas fecham? É por culpa dos Chineses, que têm os preços baixos.
A gasolina aumenta? É por culpa dos Árabes.
Há mais crime? É por culpa dos imigrantes.

E o governo? O governo não recua porque tem um homem digno deste nome. Faz lembrar o outro, o que deixou tantas saudades: homens com uma palavra só, que tem que ser de todos também. Ele também não recuava. Homens com uma ideia só, porque incapazes de mudar. Estáticos, como pedras ao longo das eras.

Esta é a solução, o governo sabe. Já funcionou maravilhosamente bem na Grécia, porque não deveria funcionar também aqui? E, em qualquer caso, não há alternativa, como diz o homem com 31 carros.

Portugal fez a boa vida até hoje. Não sei onde, quando aqui cheguei vi logo um País atrasado.
Mas a verdade é que temos que aprender a viver com aquilo que temos. O Estado ganha 100 e gasta 100.
O Leitor atento poderia dizer: “Mas um País assim não existe, entraria em falência após 24 horas”.
Justo. Se hoje há reformas é porque o Estado ganhava 100 e gastava 110. Mas tentem fazer perceber isso. Há coisas chamadas “investimentos”, mas esqueçam, não tem importância nenhuma.
Foi um ataque de demagogia e arrogância.

A televisão pública tem que ser vendida. Tem que ser. É uma das menos caras na Europa? Talvez a menos cara? Pode ser, mas que interessa? É um luxo, e Portugal tem que ficar, único País na Europa, sem serviço de radio-televisão pública.
Poderia ser possível aumentar a contribuição que os cidadãos pagam? Aqui em Portugal é 1,85 Euros, se não erro, em Italia são 130 Euros anuais. A diferença é muita, aumentar poderia fazer sentido neste caso. Mas não, melhor vender, tudo e já. É mais prático e parece-me mais democrático.

Poderia continuar? Poderia.
Mas o meu é um trabalho inútil, não há soluções neste blog, falo de coisas que não percebo, escrevo disparates, não apresento uma solução.

Por isso: oiçam o homem com 31 carros, ele sabe e não fala para manter o poder e os privilégios, fala para o vosso bem. Os outros? São demagogos, não percebem, são arrogantes e presuntuosos. Que se lixem.

Ipse dixit.

Fontes: Público,(1) (2), Expresso (2)

7 Replies to “Populismo, demagogia, mediocridade: os que ficaram em casa”

  1. Isto foi simplesmente fantastico e reflete toda a verdade do nosso pais. Apesar de achar q cortar os luxos do governo seria apenas uma questão de moral acho um exagero td o que eles tem mas enfim…

  2. Caro Informação Incorrecta

    Tenho apenas uma coisa a lhe dizer.

    Enquanto não for eliminado um, apenas um politico bem conhecido, esta corja não irá recuar.

    Se fosse eliminado apenas um, os restantes receberiam um recado claríssimo …… A FESTA ACABOU, E VAMOS COLOCAR O RABO ENTRE AS PERNAS E FUGIR A GANIR COMO CÃES.

    Somente isso fará algo mudar em Portugal.

    Alguem se sacrifica para fazer o serviço ?????

  3. Olá Max,

    Só uma correcção… a mim parece-me que "presuntuosos" vem da palavra presunto. É presunçosos. :))

  4. Olá Max: me parece que mais interessa os que foram do que os que ficaram, e 1 em cada 13 ou 14 é muito em 10 milhões. E todos estes que foram, o que estarão a pensar/fazer neste final de domingo?
    Como chamou atenção o Krowler, 25 de setembro os espanhóis que vão já tem agenda. Abraços

  5. O mal de muitos não é o facto de ficar em casa ou ir para a rua gritar, o mal é não saber distinguir os alvos a abater.
    Isto tudo resume-se a uma guerra entre povo vs burguesia/capital, e burguesia/capital vive da exploração do povo, sem nada produzir, apenas a aproveitar do sangue e suor do povo.

    Num sistema com pés de barro, bastaria começar a atingir o alvo sem gritos/sangue/força boicotando o consumismo de produtos não essenciais: coca-cola, macdonalds, hipermercados, gasolineiras (alternando-as bimensal), retirar dinheiro de bancos, não usar cartões de crédito, etc.

    São coisas simples que todos podem fazer.
    Quantos de nós vais a um mercado municipal comprar frutas/hortaliças/produtos vários tudo nacional, mais barato e sem corantes e conservantes?

  6. Olá Max,

    Ao contrário do que a Comunicação social " mainstream" vende, os portugueses não estão dispostos a mais sacrifícios e resignados, estão vivos e mais que nunca a dar sinais a quem governa que a corda não pode esticar mais, porque esta medida da TSU anunciada pelo homem dos 31 carros não é austeridade, é pura maldade!

    Um abraço

    Zarco

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