Europeu 2012: a prioridade

Domingo…

Antigamente o Domingo era o dia do futebol. Em Italia, digo. Às 15:00 começavam os jogos e havia os relatos em directo na rádio. Tudo acontecia nos vários campos de jogo ao mesmo tempo e era simpático ouvir as interrupções das vozes excitadas em ocasião dos golos.

Depois também este aspecto mudou e também o futebol teve que dobrar-se perante as exigências do mercado. Os dias de jogo ficaram assim “espalmados” ao longo de dois, três, até quatro dias.

Porquê? Basicamente por causa dos direitos televisivos: há emissoras que vivem em boa medida graças aos proventos dos jogos transmitidos em directo, por isso mais jogos significa mais receitas. Claro, assim a competição fica falseada, pois há equipas que entram em campo sabendo já qual o resultado realmente útil que devem conseguir.

Mas que importa?
Desta forma a atenção do adepto é mantida viva ao longo de mais dias, com uma teórica maior venda de jornais também e de todos aquele adereços que transformaram (há muito tempo) um jogo numa indústria.

É claro que a industrialização do futebol tem consequências ainda mais profundas.

Cada vez mais, é o desporto príncipe na equação panem et circenses (pão e jogos) que já os Romanos aplicavam: tinham percebido que a melhor maneira para manter calmo o povo consistia em fornecer comida e diversão. 

Cada vez mais é gerido por pessoas que pouco ou nada têm a ver com o desporto ou que desfrutam este para atingir visibilidade mediática e novas oportunidades de negócio.

Cada vez mais é algo acima da lei, que desfruta a importância do próprio papel para ignorar e, se for o caso, modificar as regras aplicadas aos mortais. 

Mas estas são coisas que todos sabemos, não há novidades.
As novidades estão ligadas aos Europeus de futebol, desta vez hospedados na Polónia e na Ucrânia, que começam na próxima semana. E eis alguns dados interessantes, cuja justificação pode ser encontrada em quanto dito até agora.

O diário desportivo espanhol As divulgou um estudo para identificar quais as selecções que vão gastar mais com a estadia em ocasião da competição. Gastos diários, relativo às despesas de alojamento.

A selecção campeã do mundo, a Espanha, que vai
ficar no Hotel Mistral Gniewino, a poucos quilómetros de Gdansk, vai pagar 4.700 € por cada dia; preço resultante da estadia de jogadores, treinadores, dirigentes e outros membros da
expedição, cerca de 40 elementos.

E as outras equipas? Eis a lista completa, com o nome da selecção, a localidade da estadia e a despesa diária:

1. Portugal – Opalenica 33.174 euros
2. Rússia – Varsovia 30.400 euros
3. Polónia – Varsovia 24.000 euros
4. Irlanda – Sopot 23.000 euros
5. Alemanha – Gdansk 22.500 euros
6. Rep. Checa – Wroclaw 22.200 euros
7. Inglaterra – Cracóvia 19.000 euros
8. Holanda – Cracovia 16.200 euros
9. Italia – Wieliczka 10.500 euros
10. Croácia – Warka 8.300 euros
11. Dinamarca – Kolobrzeg 7.700 euros
12. Espanha – Gniewino 4.700 euros

Portugal: 33.174 Euros diários. A selecção que mais gasta. Interessante.

As medidas de austeridade não se aplicam à Selecção. Não há aqui intervenções do governo, não há um primeiro ministro que rogue sacrifícios para um futuro melhor, não há uma oposição que pretenda um debate no parlamento. O futebol é a prioridade absoluta.

É justo.

Update

Rita (que agradeço) encontrou novos valores, tendo como base uma notícia do Jornal de Notícias. Segundo este diário, o valor pago pela Selecção seria de 8.120 Euros em vez dos 33.174 apresentados o post.

Pessoalmente acho que o novo valor faz muito mais sentido. Ok, fica a questão do “princípio”, mas entre 8 mil e 33 mil Euros a diferença é substancial.

Fica a dúvida: mas porquê um diário polaco (o Sport PL, verdadeira fonte da notícia, ao que tudo indica) deveria ter inventado valores tão afastados da realidade? Não sei responder mas, como afirmado, a minha impressão é que os dados do Jornal de Notícias possam ser mais reais.

O link do Jornal de Notícias fica aqui

Ipse dixit.

Fontes: AS (espanhol), Correio da Manhã, Sport.Pl (polaco), Jornal de Notícias 

12 Replies to “Europeu 2012: a prioridade”

  1. Não querendo ferir susceptibilidades, claro, afinal opiniões são opiniões, mas quando Marx disse que a religião era o ópio do povo, realmente ainda não tinha visto o poder da televisão, do futebol, das telenovelas e da sociedade de consumo de um modo geral.
    Já desconfiava, mas se visse isto, acho que se passa iria superar em muito as expectativas e a criatividade dele.

    É que para mim, conforto não é o consumo a que se assiste e que mais parece compensar uma satisfação existencial profunda.

    Os gastos da selecção revelam bem as prioridades… e na vida é mesmo tudo uma questão de prioridades.
    O que é que é de facto importante para cada um de nós…
    Teria algo de economicamente poético e irónico se os mais poupadinhos ganhassem.

    Ideias.

    Às vezes o mundo parece um dos quadros do Kandinsky, se olharmos para o original (geralmente enorme) e à distância, há uma série de detalhes que só mesmo com a devida distância se conseguem ver.

    Nada de novo no que digo, bem sei, mas apeteceu-me a partilha de ideias.
    Bom domingo.
    Um abraço
    Rita M.

  2. É Rita aqui na América do Sul não é diferente temos muitos campeonatos de futebol: Campeonato brasileiro, Copa do Brasil, Campeonato da segunda, da terceira divisão, campeonatos estaduais, Copa "por ironia" Libertadores da América, Copa dos campeões, Recopa e…UFC…"campeonato de cuspe à distância" e blá,blá,blá.Tudo isso só para o entretenimento.

    Na Roma antiga era "pão e circo", hoje em dia é circo e talvez pão.

  3. Sinceramente, nem é tanto o futebol ou as novelas e afins que me entristecem, acho que a palavra é esta.
    É mesmo a importância que isso tem na vida das pessoas e o que isso por si só reflecte sobre o que são prioridades, como o título do post diz.
    Já para não falar nos custos e valores de tudo isto.
    Realmente cada um é um mundo e cada um tem a sua realidade, mas isto mais parece que alguém está na realidade errada 🙂
    Um abraço
    Rita M.

  4. Não acredito, mais uma conspiração está sendo banalizada e espalhada pela mídia convencional:

    http://www.terra.com.br/noticias/ciencia/infograficos/planeta-x/

    Teorias sobre Planeta X ganham novo fôlego com trabalho brasileiro.

    "Uma das civilizações mais antigas que se tem notícia, os sumérios foram responsáveis por lançar as bases de diversas áreas de conhecimento da sociedade atual, da agricultura ao direito, tendo sido excelentes observadores dos astros. Por volta de 3500 a.C., por exemplo, os escritos e representações sumérias já organizavam nosso Sistema Solar de forma muito similar à que conhecemos hoje. A diferença para a atualidade é que na relação de planetas feita por eles estavam Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão e… Chamado pelos sumérios de Nibiru, mas também conhecido atualmente como Planeta X, esse último corpo celeste teria o tamanho de Júpiter e passaria pelo Sistema Solar a cada 3,6 mil anos, causando estragos pelo caminho, inclusive com danos à Terra…."

    Coitado do Max, além de ter que aturar a gente com essas conspirações, agora verá isso também na mídia jornalística padrão.

  5. Olá Rita!

    O link do JN: excelente, a questão da prioridade fica, sem dúvida, mas os valores mudam não pouco.

    Ontem procurei outras confirmações do diário AS e encontrei o artigo do jornal polaco Sport Pl: parece ser esta a fonte original da notícia.

    A pergunta é: mas porquê o diário polaco teria que inventar um notícia assim, com valores tão afastados da realidade? Não tenho resposta.

    Doutro lado, os valores apresentados pelo JN parecem fazer mais sentido. E isso apesar da Selecção ter escolhido um hotel de luxo (de luxo mesmo, dadas as imagens na internet…).

    Acho que a notícia do diário português fica mais perto da realidade.

    E que faço com o post? Boh?
    Sim, verdade que a questão fica, mas não gosto de apresentar dados duvidosos.

    Bom, para começar incorporar o teu link.

    Abraçoooooooo!

  6. @ Dramatic!

    Não tenho palavras…

    A existência do Cinturão de Kuiper (que chega até 50 vezes a distância entre a Terra e o Sol) e da Nuvem de Oort (entre 20.000 e 100.000 a distância entre Terra e Sol) são a melhor prova de que não existe um planeta como Nibiru.

    A razão é simples: se existisse, teria já "limpado" estes grupos de objectos, porque é isso que faz um planeta, por causa duma coisa elementar chamada "força de gravidade".

    O que pode existir (e mesmo assim com muitas dúvidas) é um corpo com uma órbita regular, tipo Plutão ou se calhar um pouco maior: mas isso não tem nada a ver com Nibiru.

    Nos últimos anos foram descobertos corpos além de Plutão (que até pouco era considerado o último planeta do Sistema Solar), alguns dos quais maiores do que o mesmo Plutão.
    O maior até agora encontrado é Eris, 30% maior de que Plutão, mas há outros: Sedna, Orco, Varuna, Quaoar…

    Mas isso, repito, nada tem a ver com Nibiru que, lembramos, é visto como um objecto de grandes dimensões que entra e sai do Sistema Solar.

    Pode existir o décimo planeta? Por enquanto não podemos responder, pois os nossos telescópios lá não conseguem chegar. Poderia existir, pelo menos em teoria. Mas, mais uma vez, teria uma órbita regular e bem afastada da Terra.

    O resto do artigo é assustador: que tem a ver a eventual passagem de Nibiru com a inversão dos pólos magnéticos?

    A melhor das afirmações é a seguinte: "Nibiru só poderia ser observado na época a partir de um local bem ao sul da Terra".
    Esta frase é uma obra prima. Por amor de Deus, peguem numa caneta, num papel e tentem encontrar a posição dum objecto que seja visível apenas do Pólo Sul do nosso planeta (que, lembramos, é uma espécie de esfera).

    Na verdade, a notícia original nada tem a ver com Nibiru: o que o astrónomo brasileiro afirma é que pode existir um planeta, de dimensões generosas, além da órbita de Plutão.
    E isso em teoria é possível tendo em conta algumas limitações (o suposto planeta não pode estar localizado demasiado perto do Cinturão de Kuiper ou da Nuvem de Oort, por exemplo).

    Mas para ganhar uns Leitores, nada melhor de que acrescentar as palavrinhas mágicas: Nibiru, Sitchin, Annunaki…Só para depois reconhecer no fundo do artigo (página 6 de 7) que a teoria não faz sentido.

    Abraço!

  7. “A pergunta é: mas porquê o diário polaco teria que inventar um notícia assim, com valores tão afastados da realidade? Não tenho resposta.”

    Sinceramente quando se fala de pessoas tudo é realmente possível… hipóteses não faltam:

    Porque a Polónia é dos países que gasta mais nessa lista? 😉

    Porque metade dos países tem o Euro e os outros não. Isto de fazer cálculos aos câmbios mexe com números e nos tempos que correm os números tendem a apresentar um excesso de zeros por todo o lado 😉

    Porque as pessoas simplesmente erram e não é só por cá 😉

    Sim, continua a ser um bom hotel e podemos sempre questionar se isso ajuda realmente nos resultados finais das equipas. Nestas coisas, podemos sempre questionar quem é que paga ou não as coisas. E dentro da conjuntura de rigor orçamental em que vivemos também podemos questionar-nos sobre qual será a diferença entre o valor que estava realmente previsto e o valor final. Orçamentos parece ser um problema internacional 😉

    Fico-me por aqui com a minha filosofia social de algibeira.

    “E que faço com o post? Boh?
    Sim, verdade que a questão fica, mas não gosto de apresentar dados duvidosos.
    Bom, para começar incorporar o teu link.”

    Mais uma opinião meramente pessoal… o conhecimento constrói-se com a recolha de informação.
    Os dados não estavam correctos, corrigem-se, aparece algo adicional, acrescenta-se.
    Se ficarmos sempre com a informação mais próxima da realidade que conseguirmos já se está a ir no bom caminho.

    A ideia base garantidamente mantém-se, as prioridades.

    Li esta manhã um artigo sobre a limpeza que o governo local fez para a recepção do evento… coitados dos animais de rua. Um verdadeiro massacre para dar uma boa imagem do país… prioridades de países que se dizem civilizados. E isto é mesmo um desabafo.

    Abraço
    Rita M.

  8. É verdade Max, tem toda razão.
    É de sensacionalismo que o povo gosta, então vamos dar isso ao povo.

    Não entendo como não fizeram um filme sobre isso ainda. Seria uma ótima ideia para atrair os fãs de ficção científica e ganhar uns trocados.

  9. Sobre o Nibiru e poque estou com algum tempo para contas:

    Eu como gosto de fisica vou tentar colocar as coisas nestes moldes.

    Estamos a falar de um planeta com dimensãoes aproximadas de Jupiter e que a cada 3600 anos atravessaria o sistema solar.

    A massa de Jupiter é de 318 vezes maior que a da terra, a densidade igual a apenas 0,24 da terrestre e a gravidade 2,87 vezes superior a da Terra. Isto porque é um planeta gasoso. Não comporta vida.
    Caso se tratasse de um planeta rochoso ( condição necessária para por suportar vida) com densidade semelhante à da terra, a massa comparada seria de 318/0.24. Qualquer coisa como 1325 superior à da terra.

    Para uma massa desta ordem de grandeza teriamos uma aceleração de gravidade g igual a 103g ou seja, 103 vezes superior à da terra.

    Isto significa que uma pessoa que pesasse 80 kg na terra se aterrasse em Nibiru pesaria qualquer coisa como 8240 kg. Ficava esmagada no chão.

    Outro dado a ter em conta para aqueles planetas errantes que andam por aí a semar confusão noutros planetas tem a ver com a proximidade do zero absoluto. Sem a presença de uma estrela a radiar energia, um planeta não tem condições de produzir vida.
    A temperatura no espaço ronda os -270. ºC . Isto significaria que Nibiru passaria muito tempo sujeito a esta temperatura. Para se produzir vida será necessário ter uma atmosfera estável resultante de uma orbita estável em torno de uma estrela.

    Em resumo: Considerando somente o efeito da gravidade e a baixa temperatura é tecnicamente impossivel existir vida inteligente chamada de Anunaki num planeta chamado Nibiru.

    As tabuas sumérias mostram umas figuras, para alguns os Anunaki com uma altura superior aos homens em cerca de 2.5 a 3 vezes. São muito parecidos conosco do ponto de vista fisiológico.

    Na terra existem milhões de espécies completamente diferentes umas das outras e que evoluiram em condições semelhantes
    Só mesmo com muita imaginação poderiam existir os Anunaki evoluidos num planeta com as condições acima descritas e logo por azar parecidos conosco.

    abraço
    Krowler

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