Eu sei, eu sei: tinha prometido ocupar-me menos de Portugal, pois como realidade é bastante aborrecida.
Mas que culpa tenho eu se as notícias mais divertidas chegam deste cantinho do planeta?
O Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho (por uma vez escrito de forma correcta), sabe que o governo dele tem poucas probabilidades de chegar até o fim da legislatura. Um problema sério para um homem que passou a própria vida na política, isso é, que não sabe fazer nada.
Então o simpático Pedro tenta novas estradas, porque na vida nunca se sabe.
E que tal entrar no mundo do espectáculo?
Verdade, dificilmente poderia ganhar um Oscar, mas um lugarzito como comediante está ao alcance.
Pouco convencidos? Então vejam as últimas declarações:
Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em
Portugal, um sinal negativo.
Ah ah ah ah ah, que pessoa espirituosa que temos no governo. Não é uma boa anedota? Eu acho ser.
Um acaso? Não, mais do que isso, um guião completo:
Despedir-se ou ser despedido não tem de
ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de
vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da
própria sociedade.
Pare, pare que dói-me a barriga! Ser despedido é a oportunidade da vida! É uma livre escolha também.
“Ó chefe, importa-se de despedir-me?”
“Queres demitir-te?”
“Não, não, quero ser despedido mesmo. Pode ser por justa causa? É preciso eu partir algo, tipo este computador da empresa?”
“Ó João, mas que se passa contigo?”
“Nada, é que quero aproveitar as oportunidades da vida.”
Os partidos da oposição não gostaram (falta de sentido de humor), mas eu acho hoje ter sido o dia mais importante de Portugal: finalmente descobrimos a verdadeira vocação do Primeiro Ministro. Pois até hoje havia dúvidas, mas nada mais. Agora, pelo contrário, tudo faz mais sentido.
Agora percebe-se como uma pessoa afirma desejar a retoma e ao mesmo tempo provocar a recessão. Num indivíduo normal isso seria sinal de problemas psíquicos (eu mesmo cheguei a pensar nisso), mas agora é evidente: era uma piada!
E quando o simpático Pedro prometeu não aumentar os impostos para depois aumentar os impostos? É ou não é um gajo hilariante? Será que as piadas nascem-lhe assim, de forma espontânea, ou terá autores?
Seja como for, temos que admitir: a seriedade com a qual faz as próprias declarações aumenta ainda mais o efeito cénico.
Será espontâneo, tudo bem, mas tem que haver um mínimo de preparação também, tipo os ilusionistas que experimentam os truques em frente dum espelho. Não é querer menosprezar, pelo contrário, é reconhecer o empenho e o profissionalismo.
E não sei se repararam, mas Pedro já preparou a melhor das suas piadas: imaginem em 2013, quando todo o País estiver à espera da retoma e der de caras ainda com a recessão. As gargalhadas, meus Deus, as gargalhadas!!!
Deixem-me dizer: Obrigado Pedro!
Como político és uma nulidade, mas só tu consegues trazer tanto bom humor neste País.
Ipse dixit.
Fonte: Público
Ao fim de um ano a ler posts no ii, vou finalmente discordar do Max.
Efectivamente ser-se despedido nem sempre é um sinal negativo.
O Coelho devia estar a pensar no Mourinho quando foi despedido do Chelsea. Levou no bolso muitos milhões. Eram muitos, mesmo muitos.
Krowler
Claro que P. Coelho tem razão. Ser despedido oferece muitas oportunidades na vida. Só um exemplo: a oportunidade de passar fome, que será certamente uma experiência muito enriquecedora e até pode representar o início duma bonita carreira como conferencista a respeito de técnicas de emagrecimento sem custos.
Este Passos Coelho é o maior cretino alguma vez eleito pelos portugueses. É um parasita da pior espécie, um boyzinho do partido e um lacaio do poder económico, um gajo que nunca trabalhou na vida (ou quando "trabalhou" foi em empresas dos barões do partido).
Nisso, e em muitas outras coisas, é uma fotocópia do anterior. O pior é que os portugueses nem sequer se podem queixar de terem sido enganados. Quando se cai uma, duas, três, nove vezes na mesma esparrela já não é ingenuidade, nem distração, é burrice mesmo. Mas nisso não somos diferentes de muitos outros povos. Como dizia o Gore Vidal: “Persuading the people to vote against their own best interests has been the awesome genius of the American political elite from the beginning."
E também: “The owners of the country also rule it and the electorate is nothing but a quadrennial chorus whose function is to ratify with hosannahs one or the other of two presidential candidates carefully picked for them by rulers who enjoy pretending that ours is really government of, by, and for the you-know-who.”
JMS
Um poema dedicado a esta corja que nos governa:
FEIOS, PORCOS E MAUS
Compram aos catorze a primeira gravata
com as cores do partido que melhor os ilude.
Aos quinze fazem por dar nas vistas no congresso
da jota, seguem a caravana das bases, aclamam
ou apupam pelo cenho das chefias, experimentam
o bailinho das federações de estudantes.
Sempre voluntariosos, a postos sempre,
para as tarefas de limpeza após combate.
São os chamados anos de formação. Aí aprendem
a compor o gesto, a interpretar humores,
a mentir honestamente, aí aprendem a leveza
das palavras, a escolher o vinho, a espumar
de sorriso nos dentes, o sim e o não
mais oportunos. Aos vinte já conhecem
pelo faro o carisma de uns, a menos valia
de outros, enquanto prosseguem vagos estudos
de Direito ou de Economia. Começam, depois
disso, a fazer valer o cartão de sócio: estão à vista
os primeiros cargos, há trabalho de sapa pela frente,
é preciso minar, desminar, intrigar, reunir.
Só os piores conseguem ultrapassar esta fase.
Há então quem vá pelos municípios, quem prefira
os organismos públicos — tudo depende do golpe
de vista ou dos patrocínios que se tem ou não.
Aos trinta e dois é bem o momento de começar
a integrar as listas, de preferência em lugar
elegível, pondo sempre a baixeza em cima de tudo.
A partir do Parlamento, tudo pode acontecer:
director de empresa municipal, coordenador de,
assessor de ministro, ministro, comissário ou
director-executivo, embaixador na Provença,
presidente da Caixa, da PT, da PQP e, mais à frente
(jubileu e corolário de solvente carreira),
o golden-share de uma cadeira ao pôr-do-sol.
No final, para os mais obstinados, pode haver
nome de rua (com ou sem estátua) e flores
de panegírico, bombardas, fanfarras de formol.
José Miguel Silva, Movimentos no Escuro (2005)
JMS