Revolución! Outra vez? Ah, pois…

E a Revolución?
Cá está.

Então: a maioria das pessoas parecem concordar, a melhor solução é a democracia directa.
Boa escolha. Problema: como implementa-la?
Aqui o discurso é complexo.

É possível uma evolução a partir deste sistema, ficando nos moldes da actual democracia? Ou, dito de outra forma: é possível mudar a sociedade “do interior”, usando as mesmas regras actualmente em vigor?

Já sei que alguns Leitores acham que a resposta seja “não”: para mudar, é preciso operar a partir “de fora”. Pode ser. Mas outros Leitores acham que tudo tem que acontecer nos moldes da legalidade, com um percurso claro e limpo.

Quem tem razão? Resposta simples: eu.

Há muito anos, nos tempos do liceu, conheci um grupo de pessoas que faziam parte dum movimento político extra-parlamentar italiano, Lotta Comunista (Luta Comunista). Este partido não reconhecia as dinâmicas parlamentares e achava que a única maneira de subverter a ordem constituída era ficar “de fora”, preparar um grupo de dirigentes que, em ocasião da revolução, teriam liderado o povo e, ao mesmo tempo, difundir a “Palavra” para que as massas dos trabalhadores tomassem consciência do estado dele e insurgissem.

O resultado era um grupo que mais parecia uma sociedade maçónica, desconhecido, que costumava reunir-se nas caves dos prédios.

Lotta Comunista ainda existe, ainda difunde o “Verbo”, ainda se reúne nas caves e ainda espera a revolução. Incapazes de ter um qualquer impacto na sociedade, ficará para sempre como um grupo parecido com uma sociedade maçónica.

O que significa isso? Significa que a escolha da semi-clandestinidade, do operar a partir “de fora” é arriscada e o perigo maior é ficar desconhecidos, não conseguir capturar as atenções dum número de pessoas suficiente para que haja pelo menos um início de movimentação. E um grupo de revolta que fique à margem é um grupo de falidos.

Formar um grupo político parlamentar? Um verdadeiro partido?
Esta, de facto, parece ser um opção ainda pior. Uma vez entrado em qualquer parlamento, para o novo partido começaria a contagem regressiva até tornar-se uma paródia de si mesmo e dos valores que defendia.

Exemplos não faltam. Em Portugal temos o Partido Comunista, em Italia a Lega Nord, no Brasil Dilma fazia assaltos e hoje ri ao lado da Merkel. pois não apenas os partidos mas também as pessoas mudam e não é permitido ter dúvidas quanto a isso.

Qualquer partido seria rapidamente absorvido e trazido de volta nos moldes da “normalidade”, com meios lícitos e ilícitos.

Um grande movimento de protesto popular? Parece uma boa ideia. Mas vejam Occupy Wall Street: ainda hoje não é claro quem está atrás deles (ou seja, é claro, mas não vamos tratar disso agora). Porque “atrás” há alguém. E se não houver, aparece em breve. Também neste caso não é possível ter muitas ilusões.

Então vamos com uma série de acções de tipo terrorista? Bombas, metralhadoras e assaltos?
Eu não concordo com isso, lamento. Acho uma solução estúpida e derrotada já antes de começar, por várias razões.

Muito mais inteligente a opção de Anonymous: infligir feridas utilizando as mesmas armas do inimigo, com revelações, por exemplo.

Mas nem todos somos hackers. Então?

A minha ideia é que, qualquer que seja a escolha, terá de ter um factor bem em evidência: a extrema rapidez.
Tem que passar pouco tempo entre o surgimento dum movimento e os resultados pretendidos. Caso contrário, as dinâmicas parlamentares ou extra-parlamentares tomarão o controle: veja-se o caso dos partidos políticos e de Occupy Wall Street.

Para ter rapidez, são necessários poucos pontos e extremamente claros. As pessoas não têm paciência para fazer funcionar os neurónios, não perdem tempo na leitura de grandes proclamas. Tudo deve ser imediato, com uma linguagem clara e directa.
Pela mesma razão, os objectivos devem ser poucos e claros.

Sobra uma questão: um movimento legal (um partido ou qualquer coisa de parecido) ou algo que opere em regime de quase-clandestinidade?

E porquê não os dois? Poderia ser um movimento em que uma parte desfrute os mecanismos constitucionais na mesma altura em que opera na internet ou nas ruas.

Objectivo? Um referendo, cuja pergunta deverá ser algo do tipo:

Ó cidadão preguiçoso, queres tu que o teu miserável País seja transformado numa sociedade onde:

  1. as leis e as medidas orçamentais sejam submetidas à aprovação directa de todos os cidadãos (com assembleias públicas, referendos regulares, votos via e-mail/sms/correio)
  2. não haja políticos profissionais

Eh? Queres ou não?

São duas simples perguntas que implicam uma autêntica revolução em qualquer sociedade onde actualmente operam os “representantes do povo”.

Mas antes de continuar, peço humildemente que o Leitor exprima o Sua sempre louvada opinião.
E, desde já, agradeço.

Ipse dixit.

5 Replies to “Revolución! Outra vez? Ah, pois…”

  1. Como tinha comentado no outro post sobre "a revolução", precisamos, antes de tudo, tanto aqui no Brasil, quanto em Portugal ou onde seja, combater as pessoas deste sistema sujo. É preciso citar os nomes, avançar com denúncias e mais denúncias contra eles. É tudo disputa de poder. Não é uma ideia que governa um país, é um grupo de pessoas. Um ideia ou movimento não assinam papéis.

  2. Vejo por todos os lados pessoas que aindam não conseguiram enxergar que o "sistema" atual nasceu falido…

  3. Tudo bem, Max: dos 10 milhões de portugueses, consegues que 1 milhão responda – isso seria a glória – e dos que respondem, a maioria significativa concorda com a democracia direta. E então, que fazes com o resultado?
    Quanto ao desencadeamento de um partido popular, aprendi muito com a história do Partido dos Trabalhadores (PT), no Brasil. Começou na base, sim: grupos de vizinhos se reuniam para discutir os problemas do país, e levavam relatórios a instâncias maiores, as greves do ABC paulista, ainda no final da ditadura, agitavam milhares, contribuíram para o movimento das diretas já, e significaram desdobramentos do movimento popular, que contava com uma fração de intelectuais e dirigentes de movimentos sociais. Na hora do "assalto ao poder", aqueles que se alçaram a "líderes do petismo" traíram as tradições trabalhistas, único legítimo e histórico filão político popular do povo brasileiro, e constituíram um partido político tão escroto quanto os demais, ao ponto de sequer apoiar as iniciativas governamentais de Lula e Dilma, ligados a esse mesmo partido. Por sinal, hoje temos uma tragédia parlamentar, na realidade, sem legenda e sem programa. Apenas: o lobby dos evangélicos, o lobby dos ruralistas, o lobby dos banqueiros, e por aí vai, com um programa em comum: a corrupção. Logo, penso que iniciativa popular para virar partido político…nem pensar. Abraços

  4. (continuando…)Por outro lado, concordo contigo, com Marcelo e Mario. Toda iniciativa capaz de levar a denúncia e a explicitação dos acontecimentos, me parece extremamente útil. As pessoas sabem coisa nenhuma, tanto aqui, como em Portugal, como apontas (e não só tu). Então elas acreditam que os males são passageiros e que, provavelmente pouco afetará suas famílias, que é o que lhes interessa, e veja lá. Mesmo que tapem os ouvidos, a melhor coisa a fazer, penso eu, é escancarar a verdade geopolítica e econômica, de forma clara e racional, SEM MISTURAR COM DESÍGNIOS MÍSTICOS, CATASTROFISTAS, RELIGIOSOS DE QUALQUER MATIZ, SOB PENA DE CONFUNDIR TUDO, E JOGAR MAIS TREVAS NO IMAGINÁRIO DOS INFANTILIZADOS.Abraços

  5. Enquanto tivermos o sistema monetário mandando no mundo… Vai ser difícil ser diferente do que estamos vivendo!
    Eis um vídeo que vale a pena correr o mundo inteiro: http://www.youtube.com/watch?v=KphWsnhZ4Ag – Para ativar as legendas, use o botão "CC" na parte de baixo da tela de reprodução do vídeo.

Obrigado por participar na discussão!

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