Borboletas

Paul Ralph Ehrlich é um simpático cientista especializado em borboletas.

Tratasse só de borboletas não haveria problemas: o facto é que Ehrlich, que pertence a uma família de antigas tradições judaicas, é um apoiante das teorias de Thomas Malthus.

Este defendia o controle da população, dado que demasiadas pessoas significam pobreza e falta de desenvolvimento económico.

Assim, de vez em quando, o simpático Ehrlich esquece das suas borboletas e começa a falar de homens. Homens em demasia.

Quanta população
podemos manter dependente do estilo de vida? Falo de 1.5-2.000.000.000, pois é possível ter cidades maiores, mais activas e uma natureza não contaminada.

Pois, a natureza. É preciso defender a natureza. Greenpeace, WWF, as várias ONG. Tudo em prol da Natureza. E os homens? Demais.

Se
você quer um mundo como
aquele das galinhas de bateria, cada uma com um mínimo de espaço e comida e onde todos podem sobreviver, então seria possível sustentar a longo prazo cerca de 4 ou 5 biliões de pessoas, mas já temos 7 biliões. Então temos que fazer alguma coisa, humanamente possível, para uma
“diminuição” da
população.

Interessante este ponto de vista: temos que fazer “algo de humanamente possível” para “reduzir a população”. Será que o simpático professor Ehrlich tenciona dar o exemplo, atirando-se pela janela?
Não parece, pois a coisa curiosa é que quando estes especialistas falam, os em demasia são sempre “os outros”. Eles não, nunca são demais, aliás, até são poucos.

A questão é, podemos exagerar, com um desastre como uma nova praga mundial ou
uma guerra nuclear entre Índia e Paquistão? Se continuarmos com o
ritmo de crescimento, podemos estar perante muitos desastres.

Caso o Leitor não tenha percebido, o simpático Ehrlich decidiu deixar algumas sugestões. E continua:

Alguns
desastres são de “libertação lenta”, com as pessoas que estão cada vez com mais fome, ou ainda mais catastróficos; porque há uma maior
possibilidade de que haja alguma transferência dum vírus estranho que
pode passar dos animais para os homens, poderia haver muitas mortes.

Tipo “gripe das aves”? Olha o acaso, já tivemos… provas gerais?

Temos 1 bilião de pessoas que passam a fome hoje e estamos a chegar aos 2,5
biliões. Vamos para a situação em que para alimentar as pessoas temos
cada vez menos terras para cultivar, com a água que é cada vez mais
purificada e mais transportada, estamos a ter um impacto desproporcionado em como podemos alimentar as pessoas duma população que está a aumentar. A maioria das previsões de Population Bomb mostraram estar corretas.

Obviamente Population Bomb é um livro escrito por…adivinhem? Exacto: Paul Ralph Ehrlich, em 1970. 

Naquele tempo eu escrevi sobre as mudanças
climáticas e não sabia, então, se teria sido aquecimento ou
resfriamento.

Estas sim que são previsões correctas. Afinal, aquecimento ou arrefecimento, não muda muito…

Pensamos que se tornará um problema
muito sério até o final deste século. Agora sabemos que é um problema de aquecimento começado neste século [na verdade começou no século passado, mas para uma pessoa que confunde aquecimento com arrefecimento estes devem ser pormenores, ndt], não sabíamos da perda de
biodiversidade. As coisas estão a piorar mais do que tínhamos esperado. Temos agora a ameaça de uma grande epidemia. Eu tenho uma visão muito escura do que vai acontecer aos meus netos.

E com um avô assim não admira.

Os
políticos são capazes de controlar o desastre financeiro [nem por isso, ndt], mas não os recursos do planeta que fornecem o nosso alimento,
a nossa saúde: aqueles estão a deteriorar-se e vai demorar muito tempo para fazer que as coisas funcionem, mesmo começando agora. É difícil pensar em algo que apareça do nada para nos salvar. Espero que alguma coisa aconteça, mas seria verdadeiramente um milagre.

Não sei porque, mas este “espero que alguma coisa aconteça” soa mesmo mal.
Entretanto, o emérito professor concorda com o relatório da Royal Society, segundo a qual a população humana e o consumo não são repartidos de forma correcta. E era preciso um relatório da Royal Society para percebe-lo.

Devemos gerir tudo junto. Temos um consumo excessivo entre os ricos e muito pouco entre os pobres [sim, professor: deve ser por isso que alguns são definidos “ricos” e outros “pobres”, ndt].
Isto implica que estamos a fazer algo terrível, que é o acesso
aos recursos, a distância e a redistribuição entre ricos e pobres.
Mas os EUA fazem o oposto. O Partido Republicano é descontroladamente
em favor de uma maior redistribuição, para pegar o dinheiro dos pobres
e entrega-lo aos ricos.

Também o Leitor está a ouvir uma vozinha tipo “Vota Obama! Vota Obama!”? Se calhar é só uma minha impressão.

Mas vamos esquecer o aspecto político. E falemos do simpático professor Paul Ralph Ehrlich. Este não é um idiota qualquer. Este é um idiota que tem uma série de reconhecimentos entre os quais lembramos:

  • The John Muir Award do Sierra Club
  • The Gold Medal Award do WWF
  • Um MacArthur Prize Fellowship
  • The Crafoord Prize, da Royal Swedish Academy of Sciences, considerado como o maior prémio no âmbito da ecologia.
  • ECI Prize
  • Um World Ecology Award do International Center for Tropical Ecology, University of Missouri,
  • O Volvo Environmental Prize 
  • O prémio United Nations Sasakawa Environment Prize
  • O Heinz Award para o Ambiente
  • O Albert Einstein Club Commemorative Plaque
  • O Tyler Prize for Environmental Achievement
  • O Dr A.H. Heineken Prize for Environmental Sciences
  • O Blue Planet Prize
  • O Eminent Ecologist Award da Ecological Society of America
  • O Distinguished Scientist Award doAmerican Institute of Biological Sciences

Sem esquecer o prémio da Royal Society de Londres ainda neste ano, óbvio.

Se estes prémios tivessem existido na época dos Nazistas, teria sido preciso invadir um País só para guardar todos os reconhecimentos.
Outros tempos.

Hoje este fulano é uma pessoa que conta. Faz parte do restrito círculo de pessoas que “fazem tendência”; são ouvidas, consultadas. Aconselham, indicam, prevêem. Ehrlich escreve livros (mais de 30), artigos, concede entrevistas e chateia borboletas. Ehrlich é o analista populacional mais prestigiado.

Ser uma aberração e raciocinar como tal compensa.

A sua linha de pensamento é simples: o mundo tem recursos limitados, há muitas pessoas, temos que eliminar as pessoas. Por isso é tido em grande consideração.

Se eu fosse o gerente dum supermercado que está preste a acabar os refrigerantes e por isso decidisse matar os clientes, seria considerado um emérito idiota (e um criminal). Alguém poderia aconselhar gerir de forma melhor os refrigerantes e ao mesmo tempo encontrar alternativas. Faz um certo sentido.

Ehlrich, pelo contrário, insiste que a coisa melhor é eliminar os clientes. Ninguém acusa o simpático professor de ser um idiota (e um criminal). Vice-versa, ganha prémios.

Deve ser por culpa das borboletas.

Ipse dixit.

Fonte: The Guardian

7 Replies to “Borboletas”

  1. Com os melhores cumprimentos do SISTEMA MONETÁRIO nas mãos das nossas Queridas Famílias…

    Nem sei porque nos enfadamos com isto!

    Deixa correr! Quanto mais depressa lá chegarmos melhor…

    Além disto, outro dia ouvi uma das melhores visões sobre "A Grande Depressão"… Ela não foi senão uma "extensão das férias para milhões de pessoas que preferiram o lazer ao consumismo"

    Melhor que isto é impossível… Acho que devemos todos nos dedicar ao "LAZER livre de CONSUMISMO"…

  2. Olá Max: está cheio o mundo de fdp repletos de títulos acadêmicos a puxar o cordão dos idiotas que repetem, circunspectos, que o mundo tem humanos demais, e que esta é a razão das suas mazelas. Este cidadão do post fala isso para atender os seus interesses, ele é muito bem pago para dizer m. Mas e os do mundo comum e real, iguais a nós, que serão os vitimados para o decréscimo de gente no planeta,repetem asneiras porque? Não sei.
    Este planeta não precisa ter nem escassez, nem acúmulo, se nele houver distribuição equitativa de terras, plantações, gentes e bichos. A finitude do ambiente está ligada a produção artificial de dejetos e a exploração irregular e massiva dos recursos naturais, e não aos ciclos de vida de pantas e bichos, sejam humanos ou não.Não sei o que me irrita mais: a canalhice dos espertos, ou a estupidez dos imbecis! Abraços

  3. Oi Max,
    Generalizar o conceito de um povo é fácil demais.
    Combater uma idéia (que é muito mais concreto) demanda muito mais esforço mental, o que modestamente acho que é o que fazemos nós que vimos dialogar em teu blog.
    Saludos!

  4. Para variar é sempre um judeu a dar palpites sobre os destinos da humanidade, quem sabe se eles tivessem uma pátria (só deles) e não o mundo, pelo menos teríamos menos palpites…

Obrigado por participar na discussão!

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