MMT – Parte II

E agora: segunda parte da MMT.
Satisfeitos?

Não lembram o que é a MMT? Não faz mal.

Eis um resumo: MMT significa Modern Money Theory, gentilmente explicada por Leonardo, o único cão licenciado em Economia Aplicada e Disfarçada na Real Universidade do Alto do Índio, Almada (Portugal).

Para mais pormenores, e para ler a primeira parte, é favor clicar neste link.

Em frente.
– Boa tarde Leo.
– Boa tarde para si e para todos os ouvintes.
– É uma entrevista escrita, não há ouvintes.
– Que blog miserável…
– Leo, hoje continuemos com as explicações acerca da MMT?
– Exacto. Mas para perceber é preciso fazer o ponto da situação.
– E fazemos este ponto.
– Isso significa repetir coisas que provavelmente tu já trataste neste raio de blog. É preciso, percebes?
– Percebo.
– Duvido. E alguns Leitores podem pensar “Epá, mas enfim, mas o que é isso, então?”
– Porque são coisas já ditas?
– Exacto.
– Bom, se é preciso.
– É.
– Então tudo bem.

– Hoje a moeda que circula é toda emitida pelo Estado.
– Sim, mas já sabemos isso.
– Cala-te.
– Desculpa, Leo.
– Na prática, cada moeda, cada cêntimo é o quê?
– Riqueza?
– Ignorante. É uma promessa: eu, Estado, dou-te este pedacinho de metal, com o qual assumo que devo-te alguma coisa em troca do mesmo pedacinho de metal. Isso é a moeda.
– Interessante.
– A moeda soberana é sempre de propriedade do Estado e é o Estado que emite a moeda.
– E o Euro?
– Olha, não começar a complicar, tá bom?
– Ok Leo, desculpa.
– O Estado cria a moeda em primeiro lugar, porque é o Estado que gasta primeiro, é o primeiro que monetiza os bens, os serviços; depois os cidadãos podem fazer o mesmo, mas só depois do Estado ter originado a moeda.
– Faz sentido.
– Claro que faz. Neste processo de monetização o Estado é assistido pelo Banco Central. É com a ajuda do Banco Central que o Estado monetiza os bens e os serviços. Agora: todos conhecemos o conto dos antigos que, fartos de trocar ovelhas, inventaram a moeda. Esta história é falsa.
– Ahe?!?
– Sim, mas agora não interessa. O que interessa é que numa certa altura foram inventadas as moedas. Sucessivamente foram inventadas as notas também, e foi decidido que o dinheiro em circulação pudesse ser convertido em algo de precioso, algo que fosse um valor “real” por assim dizer. Da-me uma bolacha.
– Toma.
– Muito bem. Até 1944 e até 1971 depois, o cidadão podia teoricamente levar o seu dinheiro até um banco e pedir que a quantia fosse convertida em ouro equivalente. Eu, cidadão, dou-te 100 Dólares de papel e metal, tu, banco, entrega-me o equivalente em ouro.
– Sim, mas depois que faço com o ouro?
– Nada, por isso ninguém pedia a conversão. Mas em teoria esta era possível. Este era um válido sistema para controlar a quantia de moeda em circulação e, ao mesmo tempo, para controlar a actividade dos bancos. De facto, cada banco podia emitir tanta moeda quanto ouro havia no cofre, não mais. Só que havia problemas também, e não poucos.
– E quais?
– Havia sempre o problema dos roubos (com um roubo o ouro do banco desaparece), havia o problema que, em caso de crise, os cidadãos podiam reclamar todo o ouro dos bancos; e estes não tinham possibilidade de converter toda a moeda em ouro, porque já na altura havia mais moeda do que ouro. Depois havia outros problemas, mais de tipo económico, que não vamos tratar aqui. 
– E porque não?
– Porque não. O que interessa é que em 1944, com os acordos de Bretton Woods, e em 1971, com a decisão do presidente americano Nixon, a convertibilidade da moeda (Golden Standard) foi arquivada.
– Ó Leo, isso significa que se agora vou num banco, este não converte o meu dinheiro em ouro?
– Exacto.
– Safados…
– O fim do Golden Standard significa isso: as moedas não podem ser convertidas em ouro. Podem ser convertidas em outras moedas, por exemplo se formos para o estrangeiro, mas nenhum banco trocará moedas com ouro. Da-me uma bolacha.
– Outra? Toma…
– Agora presta atenção.
– Presto.
– As moedas hoje podem ser distinguidas em soberanas e não soberanas. O que significa isso?
– Sei lá eu, és tu o cão licenciado.
– Correcto. A moeda soberana deve ser:
1. de propriedade do Estado
2. não convertível, como explicado acima
3. floating, isso é, as autoridades já não prometem troca-la com outras moedas segundo valores fixos, portanto o câmbio é flutuante.
Dólar, Yen, Libras, são todas moedas soberanas porque respeitam estes critérios.
– Ohhh…
– A moeda soberana, sempre emitida por um Estado, é sempre inventada a partir do nada. O Estado emite a moeda soberana e os cidadãos podem usa-la, pedindo a moeda emprestada ou ao ganha-la.
– Como assim?
– Repara: antes havia a obrigatoriedade de emitir moeda segundo as reservas de ouro, agora nem por isso. É só ligar a impressora. O Euro, pelo contrário, não é uma moeda soberana: nenhum Estado tem a propriedade do Euro, e não há um banco central que emite o Euro mas um conjunto de bancos centrais. O Euro não é moeda soberana, não há portanto um Estado que emita o Euro; os Estados e os cidadãos podem utiliza-la, pedindo a moeda emprestada ou ao ganha-la.
Esta é a origem da catástrofe financeira europeia.
– Safados, outra vez…
– Mas agora não interessam os problemas do Euro. Vamos em frente, pois o que importa realçar é que, em ambos os casos, a moeda nunca pertence ao cidadão. Podem usa-la, podem pedi-la emprestada, podem ganha-la, mas nunca a moeda pertencerá aos privados. É fundamental entender isso, compreendes?
– Sim, compreendo: a moeda nunca é dos cidadãos.
– Isso mesmo. No caso da moeda soberana, esta é e sempre será do Estado. O qual “inventa” a moeda do nada. O Estado nunca pode ficar sem moedas, porque é o mesmo Estado que cria a moeda.
– Espera, Leo, espera…então, a dívida pública? Como é que há dívida se o Estado tem todas as moedas que desejar? É só ligar as impressoras, como dizes…
– Exacto, este é um ponto que será desenvolvido mais à frente. Mas a moral é a seguinte: o problema da dívida é um falso problema.
– Ohhhh…
– Mas vamos em frente. Hoje as moedas não são convertíveis em ouro, pelo menos as maiores. Então, quanto valem?
– Está escrito em cada nota…
– Mas porquê tenho um dono tão atrasado?
– Azar?
– Provavelmente. Aquele é o valor nominal da moeda. Se numa nota está escrito 100 Euros, isso não significa que o valor daquele papel com cores seja 100 Euros. Esta é uma convenção, na verdade a nota não deixa de ser um pedaço de papel com um pouco de cor. Cujo valor é zero. Bolacha.
– Toma.
– Hoje a moeda é emitida em várias formas. M1, M2, M3…estes são os nomes utilizados pelos técnicos. Mas tudo isso não deixa de ser um pedacinho de papel com um pouco de cor. Nas moedas electrónicas nem isso, é apenas o “click” dum rato. Mais: 80-90% de toda a moeda em circulação é constituída por “click” de ratos.
– Fogo, estes ratos são riquíssimos…
– Minha nossa…dizia: quase 90% do dinheiro em circulação é só electrónico, não há nada de concreto. Então é preciso dar um salto para frente para perceber o que é o dinheiro. Uma das ideias mais fortes no mundo é aquela segundo a qual o dinheiro é um “valor”. Nada de mais errado: o dinheiro nunca é valor.
As moedas, as notas, são apenas um código. Este código dá acesso aos serviços, aos bens. Mas como qualquer outro código, não existe, é apenas um meio e tem valor apenas se associado a outra coisa. E esta não é filosofia de treta, é a chave para entender como funciona todo o mundo da economia.
– Então, afinal os ratos que têm tanto dinheiro, afinal não têm nada? Estúpidos bichos…Ahi, Leo, pára de morder-me, pára!

Ipse dixit.

MMT – Parte I
MMT – Parte III (muito em breve)

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