O automóvel e o ar comprimido

Meus senhores, então é assim: pouco tempo para escrever, portanto aproveito para satisfazer um pedido do Nobre Saraiva, que há alguns tempos atrás perguntou “Então, os carros que se mexem com ar comprimido, eh?”.

Porque Saraiva tinha razão: os carros que andam com ar comprimido existem mesmo.

Inventado há mais de 10 anos, tal meio de transporte conseguiu obter a homologação só nos últimos tempos. Os inventores, a família francesa Negré, afirma ter sido obstaculizados e desacreditados, além de não ter recebido algum tipo de financiamento.

Agora os Negré apresentam uma inteira gama, com a marca MDI, que vala  pena observar.

AirPOD 
Carro pequeno (2 metros de comprimento), com capacidade para 4 ocupantes.
Com uma potência de miseráveis 5 cavalos, é um automóvel no verdadeiro sentido do termo, não faltando nada. Até possui um computador de bordo, sistema para o controle da estabilidade, recuperação de energia nas travagens, airbags, direcção assistida.
Permite alcançar 70 km/h, tem uma autonomia de 220 km em cidade, carrega-se em 90 segundos, percorre 100 km com 0.50 €.
OneFlowAir
Carro um pouco mais comprido (3,4 metros), para cinco pessoas, 15 cv de potência, alcança 110 km/h, pode ser equipado com um adicional motor de combustão interna, o que eleva a autonomia até 900 km.
Em modalidade “ar comprimido” consegue percorrer 100 km. Em modalidade “dual fuel” isso é, desfrutando também o combustível fóssil) consome 1,7 litros por cada 100 km.
Pormenor interessante: como combustível pode ser utilizada a gasolina, o gasóleo, o etanol, óleos vegetais…
Preço: 5.300 Euros.
MiniFlowAir
O mesmo conceito do modelo anterior, só em miniatura.
Com um comprimento de 2.65 metros, consegue transportar 3 pessoas, debita 50 cv, atinge 130 km/h, consome 1.8 litros de combustível por cada 100 km e tem uma autonomia de 1.500 km (50 em modo “ar”).
Preço: 9.200 Euros.

CityFlowAIR
Um carro destinado ao transporte de objectos também pois de facto é uma espécie de pick-up (isso é, com uma ampla zona de carga descoberta na parte posterior do veículo). Em alternativa, pode ser um verdadeiro furgão, como na imagem ao lado.
As especificações são idênticas ao modelo anterior, sendo o CityFlowAIR apenas mais comprido (4.1 metros).
Preço: 13.000 Euros.

Em projecto há também o MultiFlowAIR, um transporte público modular, alimentado unicamente com ar comprimido para assegurar zero emissões poluentes. 

Muito interessante os modelos alimentados por ar comprimido, mas não podemos esquecer os de dupla energia; estes motores de dupla energia têm uma maior autonomia e garantem:

  • Menos de dois litros de combustível por cada 100 km percorridos
  • Zero emissões NOx (óxidos de azoto)
  • Emissões 3 vezes inferiores de C02 em comparação com os motores clássicos.

O dono da empresa, Cyril Guy Négre, ex engenheiro da Williams (Renault), em 2007 assinou um acordo com a casa automobilística indiana Tata, pela construção dum veículo citadino: velocidade máxima 50 km/h, autonomia 200 km. Em Junho de 2009 o AirPOD é adoptado como veículo de serviço no aeroporto de Amsterdam.

Desde já é possível reservar um dos modelos no site da empresa (link no fundo do artigo). Mas atenção: a empresa fadigou não pouco para obter a homologação em França, nos outros Países é claro que as dificuldades iriam repetir-se.

Tudo simples então? Não, pois ainda há alguns problemas técnicos, nomeadamente a formação de gelo.
O principal problema do motores que funcionam com ar comprimido é que a expansão do gás subtrai calor ao ambiente, o ar no motor atinge os 40ºC negativos e a presença de humidade no ar comporta a formação de gelo no mesmo motor.

Négre afirma ter ultrapassado o problema com um sistema  politrópico, mas não peçam o que isso pode significar porque não faço ideia. Todavia gelo no motor foi o que o jornalista do Guardian encontrou durante uma breve prova do carro:

Ao contrário dos convencionais motores de combustão interna, movidos a ar motores, gelo espesso forma-se rapidamente sobre o motor. Isto significa que a única característica que vem de graça no carro será o ar condicionado.

Outra empresa que apresentou um modelo movido com ar comprimido foi nada mais nada menos de que a Honda.

Em 2012 apareceu a Honda Air, protótipo de carro desportivo (imagem ao lado) que prontamente desapareceu da cena.

Até que qualquer referência ao modelo foi apagada no site da Honda: hoje carros menos poluentes significa tecnologia híbrida, gás e etanol. Todos produtos que funcionam ainda com o paleolítico motor de combustão interna.

No máximo fala-se de fuel cell, especificando que em qualquer caso será o futuro, não o presente. 

A verdade é que nenhuma grande empresa parece interessada no desenvolvimento dum motor de ar comprimido. Um empresário privado, Négre, sem financiamentos ou outras ajudas, conseguiu montar uma empresa que produz carros movidos com ar comprimido. Ainda há problemas técnicos, como vimos, mas a minha pergunta é: que aconteceria se uma ou mais grandes empresas, com as imensas capacidades delas, decidissem investir na pesquisa e no desenvolvimento?

Talvez nada, talvez o motor de ar comprimido seja um beco sem saída, destinado a conviver com o problema do gelo. Mas a impressão é que falte a vontade para abandonar os combustíveis fósseis. Isso seria uma revolução, algo que subverteria a sociedade tal como é conhecida. E ninguém quer correr este risco, para não perder as posições de poder. 

Por isso, lamento, mas não será possível livrar-nos do petróleo e derivados, pelo menos no futuro próximo. 

Ipse dixit. 

Fontes: MDI, The Guardian, Top Speed

17 Replies to “O automóvel e o ar comprimido”

  1. Só não é possível porque o investimento é mantido nos motores a combustão, ou nos motores que mantêm a dependência do SISTEMA… Para por exemplo, se sacar mais 15 cavalos de um motor de 1300cc3 quanto é que se investe? Não sabem… busca busca!

    Se investissem o mesmo montante na tecnologia de ar comprimido, e não só, de certeza absoluta que já haviam soluções… sem geleira incluída!

    Agora claro se todos querem andar a 200Km/h (ou mais) e em carros todos artilhados então não se queixem dos preços e continuem até esgotar!

    E a desculpa é absolutamente fantástica, pois é o protecionismo absoluto e descarado aos amigos do petróleo… para não variar!

    Pode ser que passemos de Ferrari para Cavalo… Se calhar até preferem ao carro a ar comprimido!

  2. Max… FAVOR!!! Vê se meu comentário não caiu no SPAM outra vez! É que fiz via windows e desapareceu…

  3. Caro INFORMAÇÃO INCORRECTA

    Vou lançar aqui no teu blogue a seguinte idéia.

    Como se aproxima o 25 de abril, porque não convocar atraves da net, criando no facebook uma página, uma convocatória para afrontarmos os palhaços que nos desgovernam no dia da liberdade.

    Tanto na AV. DA LIBERDADE, ou na ASSEMBLEIA DOS PALHAÇOS DEPUTADOS, ou caso o ANIBAL SE ESCONDA EM BELEM na frente da casa dele, uns bons milhares de PORTUGUESES COM COLHÕES PRETOS, A GRITAREM A plenos pulmões os nomes deles , e a chama-los de LADRÕES COMO MERECEM SER CHAMADOS.

    Fica aqui a idéia, me retorne se achar conveniente.

    Um abraço.

    Ramiro Lopes Andrade

  4. E dos carros elétricos também não se fala nada…

    Procurem informaçao sobre o "gaivota", o carro português que se movia graças ao vento que apanhava de frente.

  5. Pelo que entendi o Ramiro está promovendo uma "primavera" portuguesa? Era só o que faltava…e depois "ajuda humanitária"?

    Quanto ao carro a ar, sei que existem protótipos de carros movidos a água que também acabaram sumindo de vista.

  6. Não adiantará nada se o compressor que comprimir o ar que será usado nele usar energia elétrica oriunda do usina atômica ou térmica. Acordem …

  7. Vocês já ouviram ou leram sobre o motor Johnson (acho que é assim). Um motor magnético sem energia extra que não seja o magnetismo? Está patenteado nos EUA.

  8. Carro = status!! Os homens sentem-se mais machões com uma bomba potente!… e talvez lhes compense a potência que lhes falta noutro sítio.
    As meninas bonitas vão ajudando na publicidade e estão sempre prontas para uma volta em potência.
    Carros a ar comprimido?! Veremos!!! Espero viver para ver!! ehehheheheh!! Já começaram a tirar o tapete em 2007, a todos que pensam que vão ter esses luxos por muito tempo.

  9. Sou assíduo observador da tecnologia que já se conseguiu para que carro a ar comprimido não seja apenas sonho. Agora é preciso é que haja investimento para que os problemas ainda verificados sejam ultrapassados.
    Mas o que me chamou a atenção é a energia necessária para se obter o ar comprimido, que é um facto, e que pode acabar por ser produzida por usinas atómicas. Sim é um facto. Mas no final sempre se verifica uma grande quebra na utilização dos produtos com origem em fósseis. Não sou minimamente a favor de energia atómica. Agora a pergunta que me ocorre muitas vezes ao ver a água que sai das turbines das barragens para a produção de energia e o potencial de força que ainda comporta. Porque não aproveitada para impulsionar compressores com vista à acumulação de ar comprimido que, poderia, tal como o gás ser distribuido em rede?

  10. Fada do bosque!
    Você diz, com alguma graça talvez:
    "Os homens sentem-se mais machões com uma bomba potente!… e talvez lhes compense a potência que lhes falta noutro sítio."
    Espero que isso apenas exprima as suas experiências pessoais.
    Mas sabe, homens, alguns dos quais terão essas taras, estão na maioria na base da descoberta e investigação científica que conduziram aos progressos a que todos podemos aceder em todas as áreas. Mas sem desprestígio também para algumas grandes MULHERES, no geral são, eram talvez, mais passivas em certas áreas, porque hoje estão bastante "p'rá frentex". Para quê essa ironia? Somos seres humanos iguais em valor, mas com as devidas diferenças que nunca poderão nem deverão ser asidas para subalternizar nenhum deles. E actualmente há já também, utilizando seu ponto de vista, grandes MACHONAS… mas isso é bom…

  11. O SENAM deixou uma tão boa pista… e ninguém pegou!

    Esqueçam as Centrais Nucleares!!!

Obrigado por participar na discussão!

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