A Rainha pusher

Sexta-feira, até que enfim…

Então vamos com alguns notícias “soft”, tanto para bem dispor o Leitor em vista do fim de semana.

Por exemplo, esta, no limite entre gossip e crime: será que a Rainha da Inglaterra é uma pusher?

Exagerado? Sim, claro. Mas valem a pena algumas linhas, pois a noticia não é dum blogger com um trip acabado mal.

A Financial Services Authority (FSA) condenou o banco da rainha britânica, Coutts Bank, a uma multa de 8,75 milhões de Libras (nada mal) para não efectuar os controlos adequados sobre “pessoas politicamente expostas” e não ter impedido lavagem de dinheiro.

As deficiências do Coutts foram graves, sistemáticas e existência delas foi oficialmente autorizada ao longo de três anos. Implicaram um risco muito elevado, pelo banco, de gerir o produto do crime, como afirmado pela FSA num comunicado publicado no seu site oficial.

A notícia chega menos de uma semana após as afirmações de um candidato francês das eleições presidenciais, segundo o qual a rainha britânica deve a sua fortuna aos rendimentos do tráfico de droga e aos relacionamentos com os “banqueiros judeus da cidade.”

No passado 21 de Março, Jacques Cheminade, candidato independente para o Palácio do Eliseu, afirmou aos microfones da emissora LCP:

Uma parte da fortuna da Rainha da Inglaterra vem do tráfico de drogas. Não toda a riqueza, existem várias outras fontes. Mas duma série de operações, incluindo, sim, o tráfico de drogas.

Conhecido como “O banco da Rainha”, Coutts tem sido criticado por falhas “significativas, generalizadas e inaceitáveis”, como descrito por Tracey McDermott, chefe de investigação dos crimes financeiros:

O valor da multa mostra a seriedade com que nós vemos as suas escolhas negativas.

Na verdade como notícia não é grande coisa: os primeiros a gerir o trafico das drogas foram os Estados e em caso de dúvidas façam um breve pesquisa no Google com a expressão “Guerra do Opio”, algo relacionado com a China. A tal propósito, muita divertida é a descrição de Wikipedia, versão portuguesa:

Em 1830, os ingleses haviam obtido a exclusividade das operações comerciais no porto de Cantão. Exportador de seda, chá e porcelana, então em moda no continente europeu, a Inglaterra tinha uma grande dificuldade comercial em relação à China. Para compensar suas perdas económicas, a Grã-Bretanha vendia ópio indiano para o Império do Meio (China).

Coitada da Grã-Bretanha, o que podia ter feito? Afinal estava em crise, tinha uma “grande dificuldade comercial” em relação à China, a única solução era vender um pouco de ópio, que não faz mal a ninguém.

A realidade era muito mais prosaica: a China tinha proibido o consumo e o comércio de ópio e isso teria representado uma grave perda para os cofres ingleses. E Sua Majestade respondeu com o envio duma equipa naval que destruiu a frota chinesa, sitiou Cantão, bombardeou Nanquim e ameaçou a capital, Pequim.

E as guerras nem foram bem duas: a Primeira Guerra do Ópio (1839-1842) e a Segunda Guerra do Ópio (1856-1860), na qual participou também a França. Entre 18.000-20.000 mortos chineses ou feridos só na primeira ocasião.

E tudo por causa duma droga, o ópio. Desejamos falar de México e da CIA? Não vale a pena, voltemos ao nevoeiro londrino.

Coutts Bank não é um banco qualquer: é o banco da família real inglesa, onde ser aceite como cliente não é simples e não depende unicamente do dinheiro possuído.

Em Outubro de 2010, a FSA visitou o banco Coutts como parte da análise temática da gestão dos bancos. E o que a FSA encontrou não foi nada simpático: a investigação descobriu a Coutts não aplicava controles sérios ao iniciar o relacionamento com clientes de alto risco e não acompanhava de forma adequada essas relações “arriscadas”. A FSA determinou que a Coutts falhou em fornecer um nível adequado de controle.
Mais especificamente, Coutts Bank falhou nos seguintes pontos:

  • reunir informações suficientes para estabelecer as fontes de riqueza e os recursos dos clientes de alto risco;
  • identificar e/ou avaliar a intelligence adversa utilizada para encobrir os clientes de alto risco e tomar medidas adequadas em relação a tal intelligence
  • manter actualizadas as informações acerca dos clientes de alto risco;
  • vigiar as transacções feitas pelos clientes de alto risco.

Na prática: o banco estava a borrifar-se para as actividades dos clientes e a transparência das operações era um aspecto propositadamente ignorado. Os clientes podiam fazer tudo e mais alguma coisa, o banco não teria feito perguntas incomodativas.
 
Tracey McDermott afirma:

As falhas de Coutts foram significativas, generalizadas e inaceitáveis. A sua conduta ficou bem abaixo dos padrões que esperamos. Coutts expandiu a sua base de clientes com o aumento dos relacionamentos com clientes de alto risco.

O ambiente regulatório em relação ao crime financeiro também havia mudado. É, portanto, particularmente decepcionante que Coutts não tomou medidas adequadas para gerir os riscos. Esta multa deve servir de alerta para outras empresas que não só devem constantemente a rever e adaptar os seus controles para os riscos de crimes financeiros dentro das empresas, mas que também devem efectuar alterações para reflectir as mudanças das normas legais.

O Banco Coutts concordou em negociar e, portanto, pode usufruir dum desconto de 30%; se assim não fosse, o FSA teria imposto uma sanção pecuniária de 12,5 milhões de Libras.

Deus salve a Rainha. E o banco dela.

Ipse dixit.

 Fontes: Financial Services Authority, Wikipedia,

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