Apagar o passado

Pergunte a qualquer político porque entrou na política: provavelmente a resposta será que “queria trazer a mudança”. E, de facto, mudanças há. Mas não forma como o Leitor poderia pensar.

Uma análise do Bureau of Investigative Journalism feita pelo diário The Independent revelou que os deputados e funcionários que trabalham na Câmara dos Comuns têm sido responsáveis ​​por cerca de 10.000 alterações nas páginas da enciclopédia online Wikipedia.

Quase um em cada seis deputados tiveram as páginas onine de Wikipedia alteradas a partir do Parlamento e dezenas forma as tentativas de apagar as embaraçosas consequências do escândalo das despesas de 2009.

Mas algumas alterações não têm nada a ver com o parlamento inglês. Uma é relativa a um plano para espionar as Nações Unidas, outra acerca dos snacks Pringles e foi também apagada a referência aos Países onde o incesto é ainda legal.

Todos os usuários de internet no interior do Parlamento inglês passam atravesso dois endereços IP: o sistema mantém um registo completo de todas as alterações feitas. E o quadro pintado é revelador.

Uma das tentativas mais persistentes e bem sucedida para editar as informações foi feita pelo deputado Joan Ryan. Pelo menos 10 tentativas têm sido feitas a partir de computadores no Parlamento para remover informações sobre as despesas de Ryan e mais de 20 para suprimir outras informações, algumas do seu círculo eleitoral de Enfield.

E, de facto, agora já não há nenhuma menção das despesas parlamentares de Ryan na sua página da Wikipédia.

Quando contactado pelo Bureau, admitiu ter alterado as informações:

Altero sempre o que houver de enganoso ou as informações falsas.

Falsas e enganosas?

Em 2009, o Daily Telegraph informou que Ryan tinha reivindicado mais de 4.500 Libras para trabalhos de casa no seu círculo eleitoral de Enfield , antes de mudar para um apartamento no sul de Londres. Ryan insistiu na altura que o dinheiro não era destinado à remodelação da nova casa de Londres: eram simplesmente despesas de trabalho. Pena só o parlamento não ter acreditado e a simpática Joan ficou assim obrigada a devolver o dinheiro mais juros.

Também outros parlamentares tentaram expulsar a história das despesas das páginas de Wikipedia. Como Clare Short, que na altura tinha recebido indevidamente 8.000 Libras de dinheiro público. Mas foi um mal entendido, como agora afirma.

A página de Fabian Hamilton foi editada porque, segundo ele, foi submetido a “uma campanha desleal, alvo pessoal dos seus adversários políticos que usaram despesas exageradas e informações falsas para tentar desacreditar o político. E acusa o Daily Telegraph de ter deliberadamente mal interpretado os dados. Hamilton devolveu o dinheiro. Com juros.

Num outro caso, seis foram as tentativas feitas ao longo de 2006 e 2007 para editar no Wikipedia um comentário dado por Philip Davies ao diário The Sun acerca de muçulmanos e actos de vandalismo:

Se há alguém que deve ser fo**do estes são os muçulmanos que fazem esse tipo de coisa.

Politicamente não muito correcto.
Mas outros utilizadores da enciclopédia livre prontamente reinserem cada vez a frase.

Abordado pelo Bureau, Davies nega o envolvimento:

Não, certamente não sou eu que remove ou pede alguém para fazê-lo. Quem sabe alguma coisa sobre mim sabe que eu não me importo do que as pessoas dizem sobre mim. Muito menos me preocupo com o que poderia dizer Wikipedia.

Um caso de edição involuntária?

Ipse dixit.

Fonte: The Bureau of Investigative Journalism

2 Replies to “Apagar o passado”

  1. Esta é a pior notícia do dia… Eu já há algum tempo tinha visto que a informação sobre contraceptivos após relações sexuais, tinha sido suprimida na sua maioria. Na altura não percebi que fosse um fenómeno global.

  2. Ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, criação de um novo modelo de responsabilidade do FMI, Banco Mundial, etc… Até o jornalismo convencional já ta usando o termo Nova Ordem Mundial, com todos já anestesiados nem precisam mais substituir estes termos, vai na cara dura mesmo:

    http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5691662-EI306,00-Dilma+defende+nova+ordem+mundial+e+reformas+na+ONU.html

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