Fukushima: um estudo

“Fisicamente” é um bom site italiano: escrito por especialistas do sector (físicos da matéria, físicos nucleares, etc.), trata da física e dos fenómenos a esta ligados.

Agora um grupo de pesquisadores publica um estudo acerca de Fukushima. Baseado na avaliação das principais variáveis ​​no núcleo (temperatura, pressão, nível) como registados pelos instrumentos das unidades 1, 2 e 3 no momento do acidente, o relatório foi apresentado na localidade japonesa em ocasião do primeiro aniversário do terremoto.

O relatório desmente as afirmações da Tepco, a sociedade privada que gere as usinas nucleares japonesas. Segundo os Japoneses:

  1. o sismo foi de grau 9, consideravelmente superior aos limites do projecto dos reactores nucleares
  2. os três reactores em funcionamento foram regularmente desligados após o acidente e os sistemas de refrigeração entraram normalmente em função
  3. a onda do tsunami tinha danificado todos os sistemas eléctricos e diesel de emergência a diesel, e isso provocou os incidentes nos núcleos do reactores 1, 2 e 3.

Segundo o estudo, pelo contrário:

  • o terremoto era sim de 9º, mas o epicentro estava situado no mar, cerca de 125 km da costa; em Fukushima as ondas sísmicas alcançaram o 6º ou 7º grau, tal como confirmado pela Agência Meteorológica Japonesa. Isso significa um terramoto 900 vezes menos forte do relatado. Entre um 9º e um 6º é de 900 vezes.entre  entre 6 ª e 7 ª série que é aproximadamente 900 (novecentos) vezes menor.
  • os dados registados pelos sismógrafos localizados em Fukushima indicam que a grande maioria das ondas sísmicas foram de intensidade menor daquelas previstas pelo projecto da central.
  • apesar disso, o sismo, independentemente do tsunami, tem posto fora de serviço a central eléctrica da usina (situada num lugar não atingido pelo tsunami), privando toda a usina de energia central eléctrica externa.
  • para além dos acidentes nos três reactores, tem havido sérios danos nas piscinas de combustível irradiado e pelo menos duas das piscinas estavam localizadas em lugares significativamente mais elevados do que as ondas do tsunami, pelo que os danos foram causados ​​pelo sismo.
  • 50 minutos após o terremoto, o tsunami desactivou os motores diesel de emergência (que tinham entrado em funcionamento), mas os sistemas de refrigeração tinha evidenciado avarias antes da chegada da primeira onda.

Quanto aos danos, a fusão dos núcleos das unidades 1, 2 e 3 é agora certa.

Em particular, o núcleo do reactor 1, depois de 40 minutos do acidente (antes da chegada das ondas do mar) encontrava-se completamente descoberto e tinha alcançado uma temperatura de 2.800 graus. A Tepco somente após 15 de Maio admitiu que o núcleo estava full melted (completamente derretido) e que a massa fundida tinha perfurado o casco até vazar na base do contentor primário, coisa nunca acontecida na história da energia nuclear.
Para os núcleos 2 e 3 é estimada uma fusão entre 25 e 60%.

Para todos os três reactores foi detectado o vazamento de água altamente contaminada.

Os danos nas piscinas de combustível irradiado são um tipo de incidentes que nunca tinham sido tomados em conta, e que revelaram ser de estrema gravidade.

As piscinas são destinadas a desempenhar uma função estática, enquanto acomodam o combustível irradiado descarregado do núcleo: não existem barreiras de contenção nem sistemas de refrigeração e de fornecimento de energia de emergência.

Os reactores 3 e 4 eram alimentados com combustível misto de urânio e plutónio, o Mox: para além das enormes quantidades de água altamente radioactiva descarregada no mar, ainda estão acumuladas nos edifícios mais de 100.000 toneladas de líquido, cujo tratamento é um problema não resolvido.

A propagação da contaminação radioactiva e a avaliação dos possíveis danos para a população são difíceis de definir, mas a preocupação tende a aumentar ao invés de se dissipar. Para as áreas evacuadas, caso não sejam consideradas definitivamente perdidas, só é possível imaginar o esfolamento do solo (modelo Seveso): tarefa titânica com resultados incertos (e onde pode ser armazenado o terreno radioactivo?).

As pesquisas do Governo têm encontrado plutónio e estrôncio radioactivos em localidade até 80 km da central. Em 27 de Outubro, o Instituto de Radioprotecção e Segurança Nuclear (IRSN) detectou uma concentração de césio 137 que é 27 milhões de biliões de becquerel no oceano na frente da central, vinte vezes o valor admitido em Junho pela Tepco.

Finalmente, no que respeita à propagação da contaminação radioactiva fora do Japão, traços significativos foram encontrados na Rússia (Krasnoyarsk), na Califórnia e na Áustria. Um grupo espanhol de pesquisa tem encontrado altas concentrações de iodo, telúrio e césio na Península Ibérica entre 28 de Março e 7 de Abril: chegaram de Fukushima através do Oceano Pacífico, da América do Norte e do Oceano Atlântico.

Os aspectos críticos da tecnologia nuclear realçados em Fukushima têm um impacto bem maior do que no caso de Chernobyl: na usina soviética o acidente tinha sido originado por um erro humano, enquanto em Fukushima a responsabilidade são as deficiências projectual, na gestão do risco sísmico, nos sistemas de emergência, no risco de black out, nas operações da salas de controle, nas piscinas de combustível radioactivo, mas também nos novos reactores avançados (AP1000, ESBWR, EPR) desprovidos de adequado sistema de contenção.

A pergunta, uma entre as muitas possíveis, é: quantas centrais nucleares como Fukushima há no mundo?

Ipse dixit.

Fonte: Fisicamente

6 Replies to “Fukushima: um estudo”

  1. Max,

    Por falar em desgraças, li não me lembro onde, que o projecto Moisés para Veneza foi cancelado, pois não era mais do que um engodo para alguns ganharem uns bons milhões. Entretanto tenho visto informação de que Veneza continua a afundar, não devido ao AGA, mas a factores de sedimentos.
    Gostaria que desses uma vista de olhos neste artigo e me dissesses o que pensas sobre o assunto:

    http://pasquinonews.wordpress.com/2012/03/21/s-o-s-venezia-affonda/

    Obrigada.

    Quanto a Fukushima, já tentei saber mais do nosso perito Delgado Domingos, mas… é muito pouco ou então percebi mal…

    Deixo aqui o link de um pdf.

    http://jddomingos.ist.utl.pt/NUCLEAR/ISEM_Fev-2012.pdf

    O Voz é capaz de gostar desta parte:

    "Stocks nacionais de Urânio altamente enriquecido"

    "Stock actual de bombas nucleares".

    Vejam lá o stock do Irão…

    Obrigada
    Um abraço.

  2. FADA… já o guardei e vou ler! Mas já gostei da pág 9 um gráfico que espelha bem a Ilusão do "Nuclear Verde" ou "Energia Limpa" ou "Energia sem emissões de GEE"

    a 1ª pergunta (do link) é para responder?!?

  3. Bem… de qualquer forma fica a seguir uma ligação para abrir o apetite sobre o Japão e o terramoto "natural" ihihih

    Clicar ali

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