A propósito: a Grécia…
Alt! Mas não era esta Sexta-feira, o dia das notícias light?
E desde quando a Grécia é um assunto sério?
Por isso: breve actualização acerca da situação na Grécia, da qual falámos ontem. A corrida para o swap foi uma estrondoso sucesso. Ontem, na autoradio, ouvi dizer que a quota de 85% tinha sido alcançada mas que os resultados oficiais só teriam sido conhecidos no dia a seguir (hoje). Nem o tempo de chegar em casa e já os diários online apontavam 90, 95, 100, 170%…
Na prática todos, mas mesmo todos foram de joelhos até Atenas para pedir: “Por favor, não quero ganhar muito, cortem a rentabilidade dos meus Títulos!”. Estes “todos” eram os bancos, sem dúvida, mas também privados “normais”, cidadãos comuns que tinham investido parte das próprias poupanças nos Títulos de Estado gregos. E agora perderam 75% do valor. Justo assim.
E se a mesma coisa tivesse que ser feita em Portugal? Em Espanha, Italia, Irlanda? Porque a realidade que é agora a Grécia usufruiu dum desconto nada mal, enquanto os outros ficam com a dívida toda. Foi criado um precedente, estúpido seria não ter em conta este aspecto: porquê a Grécia sim e os outros não?
Pouco mal, entretanto a Grécia é salva o pode dirigir-se sorridente na estrada duma falência ordenada, de tipo soft. E era isso que interessava.
Hoje, mesmo nestas horas, a ISDA (a associação que regulamenta os derivativos) está reunida para considerar se houve ou não um credit event e, portanto, se os credores com CDS (Credit Default Swap) na mão terão de ser reembolsados ou não. Tinham apostado na falência da Grécia (este é um CDS, uma aposta), o facto do Estado ter trocado os Títulos por outros, não tendo dinheiro para pagar os actuais, não significa que a Grécia faliu?
Fácil previsão: não, não houve credit event, nada de reembolso.
Justo assim. Afinal, como vimos, foram os que possuíam os Títulos que “voluntariamente” decidiram perder dinheiro. A pantomina pode continuar com a capa da oficialidade e do “tudo nos moldes da lei”.
E depois é Sexta-feira, nada de preocupações.
Mas será mesmo assim?
Não, não é.
Comecemos com os números: a participação não foi de 90 ou 95%, foi de 85%. Este é o dato oficial e mesmo assim são lícitas algumas dúvidas. Mas vamos em frente. A União Europeia pedia 90% para activar o próximo resgate. Mas eis a surpresa: o prazo para participar no swap foi alargado até o próximo 23 de Março.
“Ehi, mas isso não foi o que a televisão disse!”.
Não, claro que não. Na verdade existem dois tipos de Títulos de Estado gregos.
Ok, vamos simplificar ao máximo: a realidade é que ainda há Títulos de Estado que não foram trocados com o swap. E a percentagem dos Títulos já trocados fica bem abaixo do 90% pedido. Nesta altura, o Estado grego poderia obrigar os detentores de Títulos a aceitar a troca, mas, como vimos ontem, isso significaria activar os CDS com consequentes pagamentos. Não é uma situação simples.
Com um alargamento do prazo até o dia 23 de Março (notícia ignorada por todos os media mas que é possível encontrar nos links do New York Times e do Telegraph, ver mais abaixo) espera-se que o tão desejado 90% seja alcançado. Na prática, trata-se de rescrever as regras com o jogo já começado. Não é tão simpático, mas para o Euro isso e muito, muito mais…
Tá bom, mas é Sexta-feria, descontraiam…
Ipse dixit.
Relacionado: Grécia? Swap!
Fontes: New York Times, The Telegraph