A Grécia. Pois, a Grécia.
A seguir um artigo que pode parecer complicado, mas não é.
Tenham fé e vejam.
Esta noite às 21 será a hora de X para Atenas. Após semanas de negociações, finalmente o País vai saber qual o próprio destino: uma falência descontrolada, com provável regresso à Dracma, ou uma sobrevivência, a submissão forçada ao verbo de Bruxelas e uma falência adiada.
Tudo depende do que acontece com o assim chamado PSI, que termina em poucas horas. PSI significa Private sector involvement, envolvimento do sector privado e refere-se ao plano que inclui o envolvimento dos credores privados no resgate do País.
Em essência, todos os bancos, seguradoras, fundos de investimento e até mesmo simples os poupadores que possuem Títulos gregos são chamados a aceitar um corte dos próprio créditos, um corte nominal de 53,3%. Isso significa perder cerca de 75% do dinheiro investido.
A operação é realizada pela troca (swap) dos Títulos em carteira com outros títulos, estes últimos com prazo alargado e rendimento menor. Se tudo correr segundo os planos, a dívida do governo grego será cortada de cerca de 100 biliões de Euros. Mas não é tudo. Na semana passada, os líderes da Zona Euro têm subordinados ao sucesso do plano o pagamento do novo pacote de ajuda internacional para Atenas (130 mil milhões de Euros).
Agora, para que o PSI (o envolvimento dos privados) seja realmente eficaz, é necessário que a adesão dos credores (privados) seja de mínimo 90%. Isso é, que 90% aceitem a troca de Títulos, o swap. Na verdade a nível menor não pode ficar abaixo de 66%. Mas é uma situação complicada: com 90% de adesão não haveria problemas, entre 66 e 90% não é claro o que pode acontecer.
Atenas estima uma adesão entre 75 e 90%, por enquanto os dados falam de 60%.
Com um swap entre 66 e 90% Atenas poderia utilizar a assim chamada “cláusula de acção colectiva” (CAC), que exige que todos os credores privados sejam forçados a aceitar o swap e perder dinheiro.
Na prática, o swap deixaria de ser uma escolha mas ficaria como uma obrigação imposta pelo governo de Atenas.
Parece um detalhe, mas não é: o que está em causa é um oceano de dinheiro.
Tentamos fazer um pouco de clareza.
A ISDA (e quem é esta agora? É a associação internacional que regulamenta os swaps e os derivativos) determina que o swap numa base voluntária não seja um “evento de crédito” e, portanto, não implica o reembolso dos Credit Default Swap (CDS). O CDS, para simplificar ao máximo, é uma espécie de aposta: compro um CDS porque acho que o tal País vai falir no prazo de X meses.
A ISDA diz isso: se o swap é voluntário, então não há falência porque é o credor que voluntariamente aceita reduzir o próprio crédito. Se Atenas, pelo contrário, forçasse os credores a aceitar perdas, sem escolha, a ISDA seria obrigada a reconhecer a insolvência da Grécia e os CDS deveriam ser pagos. Porque um País que obriga os credores a aceitar perdas é um País falido (na verdade a Grécia está já falida, mas esta é uma coisa que não pode ser dita: oficialmente está bem, só com alguns leves problemitos…).
Agora, há muitos CDS espalhados pelo mundo fora, porque muitos acreditam numa falência de Atenas e apostaram com o CDS. Com Atenas falida, a aposta deveria ser paga. Mas quem deveria pagar? E quanto? E a quem?
Nesse ponto poderia provocar-se um efeito dominó que hoje é impossível quantificar com precisão. Os CDS são sempre negociados num mercado paralelo, não regulamentado, o que significa que ao longo do tempo foram criadas interconexões financeiras que é impossível reconstruir. Os CDS gregos podem ter sido trocados com outro tipo de Títulos, podem servir como forma de pagamento, como seguro…as possibilidades são múltiplas.
Não se sabe nada de certo ao detalhe, mas após o desastre do Lehman Brothers (que teve repercussões globais nascida mesmo neste tipo de esquema) ninguém pode fazer previsões.
É claro que este castelo de cartas é baseado numa enorme hipocrisia. O requisito essencial para evitar o colapso é que o swap seja voluntário, mas tal não é: os credores sabem perfeitamente que 1. ou aceitam o swap e perdem dinheiro (e muito) 2. ou não aceitam o swap e perdem tudo. E isso simplesmente porque a Grécia está falida, não tem dinheiro para pagar os seus Títulos.
Mas dizer isso, nem pensar…
Ipse dixit.
Fonte: AltreNotizie
olá Max: acho que o primeiro post tem a ver com o segundo. Como é que as pessoas não vão se suicidar vendo desmoronar os seus sonhos, a sua suposta segurança, o desaparecimento do dinheiro que as sustentava e mantinha seus pais, bem como parecia garantir o futuro dos seus filhos? Como é que as pessoas não vão se suicidar, quando acreditavam que podiam confiar no "sistema", que ninguém ia despojá-las dos seus bens, que bastava trabalhar bastante e honestamente e, eis o futuro garantido? Só não se suicida três tipos de gente: aqueles para os quais o "sistema" existe, aqueles que o "sistema" mata, sem que eles precisem matar a si próprios, e aqueles que nunca acreditaram no "sistema", e que vivem buscando rotas de fuga e sobrevivência. Abraços