…e agora: Terra Cava!

Tá bom, é Domingo, vamos tratar dum assunto mais levezinho.
Por exemplo: a Terra é cava? Eu bem disse: “assunto levezinho”.

Não ria o Leitor: nos Estados Unidos há até grupos de pessoas que acreditam numa terra plana e estão convencidas de que todas as fotografias tiradas do espaço sejam falsas.

E por aqui? Por aqui não são poucas as pessoas que acreditam numa Terra oca. E navegando na internet é simples encontrar blogues e sites que defendem esta hipótese. De facto, a ideia fica apoiada em “provas” mais solidas respeito às da Terra plana. No entanto, como iremos verificar, a Terra não é oca.
Lamento, mas não é mesmo.

Ma qual a ideia?
Simples: segundo a teoria, num dos Polos haveria uma abertura que permite aceder ao mundo subterrâneos. Aqui haveria uma segunda Terra, iluminada por um segundo Sol. Obviamente neste Terra dentro da Terra viveriam outras pessoas. As quais provavelmente têm blog que defendem como no interior da Terra deles haja  uma outra Terra. Praticamente uma Matrioshka, a boneca russa com dentro outras bonequinhas todas iguais, apenas mais pequenas.

Tudo bem: mas quais as “provas”?
A mais importante é sem dúvida o testemunho do Almirante Byrd.

O diário do Almirante Byrd

Richard Evelyn Byrd é um autêntico herói americano.

Em 1926 anunciou ter alcançado o Polo Norte de avião; entre 1928 e 1947 efectuou numerosas expedições na Antárctica, em 1929 sobrevoou o Polo Sul, combateu como piloto na Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e 1947 organizou a expedição Highjump por conta do Exército dos Estados Unidos. Até que em 1957, farto de tanta notoriedade, decidiu morrer enquanto dormia.

Mas que tem a ver Byrd com a Terra Cava?
Explica Wikipédia:

Em Fevereiro de 1947 levantou voo em Spizbergen, Islândia, para sobrevoar o Polo Norte. Sobrevoou e voltou. A história oficial termina aí – justamente onde começam as lendas. Entusiasta da teoria da Terra Oca afirmam que Byrd encontrou a entrada que leva ao mundo subterrâneo de Agartha. Existe até um suposto diário de bordo escrito pelo almirante. A aventura começa com uma forte turbulência a 2.950 pés de altura, às 9h55 da manhã de 19 de Fevereiro de 1947. Depois prossegue:

10h00 – Estamos passando por uma montanha baixa em direção ao Norte. Depois da montanha existe o que parece ser um vale com um pequeno rio correndo no centro. Não deveria existir uma área verde lá em baixo! Algo está totalmente errado e anormal aqui! (…) Nossos instrumentos de navegação estão malucos! O giroscópio está apontando para baixo!

10h05 – (…) A luminosidade parece bem diferente. Não conseguimos mais ver o sol. Descemos até 1400 pés e fizemos uma nova curva. Agora estamos vendo um grande animal logo abaixo de nós. Parece um elefante! Não!! É um mamute! Isso é incrível!

10h30 – Encontramos montanhas verdes abaixo de nós. O indicador de temperaturas indica 74 graus Fahrenheit (23 °C)! Fascinante!

A história prossegue com o avião de Byrd sendo abordado por discos voadores que o forçam a pousar. Ele é recebido por emissários de Agartha, que o aceitam como hospede mas expressam preocupação com os testes nucleares realizados na superfície. Depois de uma rápida estadia, Byrd e sua tripulação são conduzidos para fora da Terra Oca.

Segundo os teóricos da terra Cava, todas as fotografias da Terra tiradas do espaço são falsas, com a entrada do mundo subterrâneo ocultada. E as palavras do Almirante Byrd são a melhor confirmação da existência dum outro mundo no interior da nossa Terra.

No entanto, não seria mal reflectir um pouco. E a coisa melhor é começar mesmo com as palavras de Byrd.

Terra Cava? Não, obrigado

Ponto um: Byrd, herói e aldrabão

A suspeita de que em 1926 Byrd não tinha alcançado o Polo Norte sempre existiu, baseadas nos diários de bordo do Almirante: feitas as contas, teria sido muito difícil alcançar o Polo com os dados fornecidos.
Até que em 1996 foi efectuada uma análise mais acurada das páginas do diário: então foi possível descobrir dados alterados (mas ainda legíveis após cuidados procura) para “ajustar” o voo às expectativas.

Na verdade Byrd não tinha conseguido alcançar o Polo: uma vez percorrida 80% da distância e percebido que não teria chegado ao objectivo, o Almirante decidiu simplesmente alterar os dados e voltar em Pátria para anunciar um sucesso nunca conseguido.

Ora, este é a principal testemunha acerca de Agartha, a terra no interior da Terra Cava. Pode ser que nesta ocasião Byrd decidisse relatar a verdade…mas os antecedentes tornam as palavras dele um pouco suspeitas (no mínimo). Podemos dizer assim: se este fosse um tribunal, o testemunho de Byrd seria provavelmente invalidado. E faria todo o sentido.

Ponto dois: as fotografias

Até poucas décadas atrás, o Nasa e a agência espacial da União Soviética eram as únicas fontes em matéria de fotografias do espaço. Pensar em operações de cover up (por exemplo com a manipulação de imagens) era simples. Hoje já não é assim.

Além de Americanos e Russos, hoje no espaço há satélites da Agência Espacial Europeia, da China, do Canada, da Índia, do Japão, da França, da Italia, do Reino Unido, da Holanda, da Dinamarca, da Bulgária, da Ucrânia, de Taiwan, do Irão, da Alemanha, da Austrália, da Espanha, de israel, da Indonésia, do Paquistão, da Noruega, do Brasil, da Suécia, da Argentina, da Venezuela, das Filipinas….

Que vamos fazer: pensamos numa conspiração internacional de Rússia, israel, Venezuela, Irão, China, Taiwan, Paquistão e Estados Unidos para ocultar a Terra Cava?

Ponto três: os terremotos

As teorias acerca da constituição interior do planeta provêm também de dados recolhidos com os instrumentos para traçar o percurso das ondas sísmicas. Aliás, determinadas ondas são normalmente utilizadas para estabelecer como é feito o nosso planeta no interior.
Ao lançar uma onda da qual conhecemos as características e a observar o comportamento dela ao atravessar o planeta, podemos ficar com uma ideia do material e das várias camadas que compões o subsolo. Tais experiências são conduzidas de forma constante na tentativa de melhorar o nosso conhecimento.

Mas as ondas nascem também de forma natural (infelizmente), em ocasião dos terremotos.

E aqui o discurso fica parecido com aquele dos satélites: tais instrumentos de observação indirecta estão espalhados pelo globo. Também neste caso uma mega-conspiração? Todos os dados são alterados para esconder o facto que as ondas, uma vez chegadas no subsolo, encontram um novo Sol e uma nova Terra?

Assim: alterar todas as imagens, todos os dados dos sismógrafos…esta é uma conspiração que da uma trabalheira, não é?

Ponto quatro: temperatura

Nas minas há um dado adquirido: a cada 30 metros de profundidade a temperatura aumenta de 1ºC. É normal, pois o nosso planeta não é uma bola de rocha, mas é algo de vivo, com uma intensa actividade do subsolo, incluído um núcleo de metal fundido. Além disso há a pressão que faz aumentar as temperaturas.

Por isso, no interior da Terra Cava coisa que não pode faltar é um bom sistema de ar condicionado: na zona do manto (abaixo da crosta, entre 35 e 5.000 km) as temperaturas variam entre os 400 e os 900 ºC. Mais perto do núcleo atingem os 4.000ºC. No núcleo a temperatura média ultrapassa os 5.000ºC.

Por isso já sabem: se a intenção é visitar Agartha, melhor não esquecer um fato de banho. E um creme contra os escaldões.

Ponto cinco: as tradições

Seria possível falar da física do planeta, porque, por exemplo, a Terra não pode ter uma massa inferior à aquela que tem (e a massa seria bem inferior se o interior fosse oco). Mas não vamos por aí: pensamos, pelo contrário, nas tradições.

Muitas vezes as tradições e os mitos dos antigos povos ocultam acontecimentos reais. Exemplo mais conhecido: a história do Dilúvio, presente não apenas na Bíblia mas na maioria das religiões e dos mitos do planeta.

Se Agartha ou qualquer outro mundo subterrâneos existisse, deveria haver mitos, lendas, tradições bastante numerosas acerca disso. Afinal a Terra oca não é um pormenor: falamos dum mundo no interior do nosso mundo.

Mas a única referência digna de nota no passado pode ser encontrada apenas na tradição do Tibete, no tantra Kalachakra, que é descrito como um reino subterrâneo com o nome de Shambhala.

Todas as notícias acerca de Agartha (que é identificada com Shamhala) derivam do escrito francês Louis Jacolliot que em 1873 retomou a lenda. Mais tarde outros escritores e ocultistas (em particular entre o final de 1800 e o início de 1900) utilizaram a mesma lenda, como no caso do livro de sucesso The Smokey God or A Voyage to the Inner World, de Willis George Emerson (1908). 

Mas esta visão nasce duma interpretação errada do mantra: no Kalki (कल्कि), décimo e último Maha Avatara (grande avatar) de Visnu, Shambhala é na realidade Sambhal, localidade da região indiana de Uttar Pradesh onde surgirá o novo reino da humanidade iluminada.

Resumindo: há muitas razões para desconfiar da teoria da Terra Cava. Aliás, é difícil encontra algo que possa utilizado como “prova” ou simples indício para apoiar tal hipótese.

O que afinal não é tão mal: já nem conseguimos gerir de forma decente uma Terra, faltava só outra…

Ipse dixit.

Fontes: Wikipedia

9 Replies to “…e agora: Terra Cava!”

  1. Não era uma "entrada" para o centro da terra…era um portal dimensional para uma dimensão que existiria dentro da terra, segundo o que andaram a escrever.
    E no hinduísmo, parece que krishna era um embaixador de agartha, também falada no budismo. Estranho, sem dúvida.
    Outra história também estranha é a da equipa de cientistas de leste que estava a fazer um buraco, e de repente, a temperatura subiu bruscamente, e começaram a captar sons de sofrimento agonizantes e perturbadores. O chefe da equipa diz hoje que era ateu, mas como cientista passou a acreditar no inferno. Uns dias depois, saíram novos sons em "russo" do buraco, dentre os quais se distinguiam as palavras "foi conquistado" ou "conquistou", não sei bem…
    Pesquisem sobre o assunto para saberem do que se tratou.

  2. A forma irónica e superficial que trata um assunto que é demasiado sério, demonstram a ignorância e necessidade de protagonismo bararto.
    Aconselho-o a estudar mais e falar do que realmente sabe.

    "Não vá o sapateiro além da chinela"

  3. Olá Anónimo!

    A forma séria e malcriada com a qual trata um assunto que é demasiado estúpido, demonstram ignorância e necessidade de rever pelo menos os princípios básicos da física.
    Aconselho-o a estudar mais e comentar acerca do que realmente consegue entender.

    "Antes de falar, controlar que a língua esteja em comunicação com o cérebro"

    Abraço.

  4. Lí o post e não era para comentar pois apesar de ser uma ideia curiosa, entendo não ser mais que isso. No estanto a ideia do Max é boa para desmistificar o assunto.

    Já tinha lido umas coisas sob o mesmo há uns tempos atrás. Fica a fé daqueles que acreditam numa terra oca; respect.

    Krowler

  5. Olá Max: se me permites, creio que qualquer um tem algum tipo de fé, ou seja, crenças: eu creio na capacidade de alguns humanos de se auto organizarem, se auto regularem e superarem obstáculos aparentemente intransponíveis. Penso que tu vens demonstrando fé na capacidade racional das pessoas para compreenderem os acontecimentos. Da fé ninguém demove a gente, por isso é fé.Terra Âncora é um sinal da minha fé. Informação Incorrecta é um sinal da tua fé. Não vais demover alguns leitores que assumam determinadas posturas como objeto de fé sobre o assunto deste post,ou sobre qualquer outro assunto. E algumas reações hostis nada mais são do que ver ameaçadas suas crenças. Nesse grupo imenso de pessoas predominantemente movidas pela fé, venho percebendo o crescimento de forma, digamos, exponencial daqueles que reagem como homens/mulheres de fé para toda e qualquer abordagem, juntando argumentos que endossem suas crenças, caracterizando um tipo de pensamento típico dessas mentalidades em expansão no mundo: o pensamento mágico. Acreditam e pronto, ou não acreditam e pronto. Mas vejo uma grande vantagem em posts, como este, em que tratas um objeto x,dado a muitas interpretações baseadas na fé, a luz do teu entendimento: o alcance que tem para os indecisos, aqueles que não tomam o x como objeto de fé, mas também não tem muitas pistas para posicionar-se para além do "sei lá". Do meu ponto de vista, que nada mais é que a vista de um ponto, acho os argumentos que arregimentas suficientes, para não dizer até óbvios. Mas é só isso. Grande abraço

  6. òtimo post Max, desmistifica aquilo que muitas vezes lemos e por vezes achamos possível ser a realidade.
    Me lembrou o melhor livro que lí até hoje que na verdade foram 8 livros de J.J. Benitez, Operação Cavalo de Tróia, lançado o 9 agora (ainda não lí), até hoje acho uma das história mais credíveis, mas sou como tu em certos aspectos, e penso sempre: Será verdade mesmo???
    Ainda acho a dúvida o maior incentivo para buscarmos a verdadeira certeza da vida.

    Um grande abraço

  7. É muito interessante a matéria, porém fica a dúvida a terra é oca, ou não? se partirmos para o lado científico da coisa poderemos ver que existe inúmeras situações históricas que foram provadas equivocadas, senão vejamos a questão do heliocentrismo e do geocentrismo e já existe uma terceira teoria que diz qua as duas anteriores estão erradas. Se pouco conhecemos do universo exterior, se pouco conhecemos sobre nós mesmos o que poderemos dizer com certeza irrefutável do nosso próprio planeta?

  8. Uma vez estava conversando com minha avó sobre outras dimensões. Ela me perguntou:
    – Carol, você sabe que existem os seres intraterrenos?
    – Sei vó.
    -E você sabe qual é o meio de locomoção deles?
    – Naves.
    Mas eu estava errada.
    – Os intraterrenos se locomovem com unicórnios alados.

    Ok, escrevi isso por que achei muito engraçado (na verdade, ainda acho muito engraçado)

    Como estudante de física, acredito fielmente nas leis que regem o universo, e não acredito na terra oca. Mas se universos paralelos existem, por que não acreditar que os intraterrenos vivem numa outra dimensão dentro da nossa terra?

    E se existem, as leis da física são as mesmas ou diferentes? Será que existem mesmo unicórnios alados(quero um pra mim!!) Nossa.. é muita coisa para pensar..

Obrigado por participar na discussão!

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