2012: As previsões dos outros – Parte II

Sempre dos Estados Unidos chegam as previsões de Jack Rasmus.

Economista, Ph.D em Economia, professor universitário da Universidade de Santa Clara (Califórnia), Rasmus é conhecido por ter publicado em 2006 The War At Home: The Bush-Corporate Offensive Against American Workers and Their Unions e, mais recentemente, PIC Recession and Global Financial Crisis, livros nos quais analisa as causas da actual crise dos Estados Unidos e as perspectivas de curto e médio prazo.

E que diz Rasmus acerca de 2012? Eh? Que diz? Não sei, calma, vamos ler a síntese das previsões dele. 

Os Estados Unidos vão experimentar uma recessão double dip [de duplo mergulho, ndt] no início de 2013 [estúpido Rasmus, mas não eram as previsões para 2012?…], ou no caso de outra crise bancária na Europa, talvez até antes, em 2012 [ainda bem].

Apesar das contínuas notícias de recuperação económica nos mídia e na imprensa especializada nos últimos meses, não há nenhuma recuperação do emprego, sector imobiliário ou finanças públicas. O crescimento do emprego tem parado ao longo de 2011 de acordo com os dados mensais do Departamento de Trabalho. A medida mais ampla do desemprego, o índice U-6, tem-se mantido constante e permaneceu em 16% (25-26 milhões) no ano passado.

Governos estaduais e locais continuam a despedir trabalhadores na média de 20.000 por mês. Esperamos escassos efeitos a nível federal, apesar da eleição de 2012. O primeiro trimestre de 2012 irá gravar novamente um significativo abrandamento do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).


No segundo trimestre de 2012, a crise da dívida da Zona Euro vai tocar o seu pico, enfraquecendo ainda mais a economia dos EUA. É possível que esta possa entrar numa recessão, se a crise do Euro for mais grave. Mais provável, no entanto, é a cena duma recessão de double dip no início de 2013, com os maiores cortes ao deficit de Congresso e da Administração.

1. A Reserva Federal irá lançar a terceira versão do Quantitative Easing em 2012
 
Este programa requer que o Fed imprima dinheiro para comprar directamente títulos privados a preços inflacionados, superiores ao preço do mercado, de modo a compensar a falta de moeda fornecendo nova moeda.

Como nas duas versões anteriores do programa, de 2009 e 2010, o resultado terá pouco efeito sobre o sector da construção, o mercado do trabalho e o crescimento global, mas dará um impulso ao mercado de acções, dos títulos, dos derivados e da inflação dos preços relativos. A altura do QE3 será determinada pelos eventos da Europa. A redução real do deficit-dívida começará imediatamente após as eleições de Novembro de 2012 ou mais tardar em Fevereiro de 2013.

2. O corte do deficit será menor do que o último acordo de Agosto de 2011 (2,2 biliões de Dólares)
 
Esta manobra irá resultar em outros cortes nos gastos públicos (2-4.000 milhões de Dólares), que atingirão principalmente a despesa social e direitos como Medicare, reformas e segurança social, ajuda alimentar, educação, prestações subsidiárias relacionadas com o desemprego e da Lei de Acesso aos Serviços de Saúde.

Os impostos vão afectar directamente a classe média, irão incluir medidas consideradas até agora como intocáveis ​​como, por exemplo, a dedução do pagamento das prestações da casa dos rendimentos anuais.

3. Estagnação no emprego (24-25 milhões de desempregados)
 
Não existem programas eficazes, hoje, para aumentar o património fundamental de emprego nos Estados Unidos. Os benefícios fiscais adicionais em 2011-12 não vâo estimular o investimento ou a criação de novos empregos.

As corporações continuam a recusar-se a colocar em risco o dinheiro acumulado (2 triliões de Dólares) em investimentos ou empregos e preferem aguardar o resultado de determinadas extensões de impostos, mantendo assim uma grande reserva de caixa em vista dos eventos europeus e da possibilidade duma nova crise global do crédito.

Os empréstimos bancários para as pequenas e médias empresas não terão grandes mudanças e, assim, a criação de novos investimentos e novos empregos em pequenas empresas também permanece parado em 2012. Ao mesmo tempo, os governos, os municípios, as escolas, continuarão a despedir cerca de 20.000 pessoas por mês, elevando o total de desemprego no sector público até quase 1 milhão a menos em relação ao mandato de Obama.
 
4. O Congresso e a Administração vão aprovar duas grandes medidas fiscais em 2012 

O primeiro decreto será um dobrar-se perante a chantagem das corporações multinacionais (e às contribuições da campanha eleitoral) e vai reduzir a taxa efectiva de imposto para o regresso do dinheiro agora depositado em contas no exterior [off-shore, ndt], longe de tributação dos EUA. As multinacionais farão regressar cerca de metade dos actuais 1,4 biliões de Dólares de lucros dos off-shore para aproveitar as taxas mais baixas, reiniciando assim a chantagem que já ocorreu em 2004-05, quando uma lei semelhante reduziu a taxa e permitiu o regresso de metade dos 700 biliões de Dólares em contas no exterior. 

O segundo projecto de lei será uma espécie de extensão do benefício fiscal previsto pela “taxa-Bush”, e será votado antes das eleições marcadas para Novembro de 2012 ou logo depois, mas antes do final do ano. A extensão da taxa-Bush é um bom negócio para as empresas, para os executivos e para os rendimentos pessoais, pois a taxação será permanentemente reduzida para menos de 30% [agora fica no 35%, ndt] em troca de amnistias fiscais que não podem ser verificadas.

A classe média vai ter que pagar impostos mais altos e os salários dos trabalhadores de baixa remuneração serão reduzidos ainda mais.

5. Os preços das casas continuam a cair, subida das penhoras
 
Os actuais mais de 11 milhões de Euros de penhoras hipotecárias irão aumentar para mais de 13 milhões. Os preços das casas continuarão a cair em 5-10% [em relação ao ano 2006: -40%, ndt]. A administração Obama e o Congresso forçarão os Estados a aceitar o plano federal que deixa aos bancos e aos credores o direito de aproveitar da “penhora automática”, a construção residencial e comercial vai continuar a estagnar nos níveis actuais.

6. Produção e exportações desaceleram
 
As exportações não excedem o limiar da actual quota de mercado e, portanto, isso terá efeitos negativos sobre a produção dos bens de consumo.

Os bancos da Zona Euro podem implodir, um ou mais dos grandes bancos dos EUA podem pedir o resgate por parte da Federal Reserve ou do Tesouro dos Estados Unidos.

Em caso de falência de uma ou mais das economias soberanas da Zona Euro, os principais bancos de França, Áustria, Bélgica e até mesmo da Alemanha vão tornar-se tecnicamente insolventes. Neste caso, o contágio espalha-se rapidamente até os bancos dos EUA. Os grupos mais vulneráveis ​​e prontos para pedir resgate são Morgan Stanley, Citigroup e Bank of America.

7. A crise da dívida soberana da Zona Euro vai estabilizar-se para depois piorar novamente

A crise da dívida da Zona Euro irá estabilizar-se temporariamente no início de 2012, com o Banco Central Europeu que segue a Reserva Federal dos Estados Unidos na introdução dum Quantitative Easing, enquanto as negociações para a criação duma união fiscal na Europa prosseguem lentamente.

No entanto, a crise explodirá novamente no final da Primavera de 2012, dado que Itália e Grécia têm um grave problema de refinanciamento da dívida e está a exacerbar a crise bancária na França, na Alemanha e em outros Países da Eurozona. Para resolver a crise da dívida do Euro será necessário encontrar o triplo ou o quádruplo dos actuais 1,5 biliões de Dólares agora disponíveis nos vários fundos de resgate: no total, seriam precisos mais de 5 biliões de Dólares (5.000 milhões de Dólares).
 
8. Dois ou mais bancos vão falir.

Muitos bancos na Zona Euro irão tornar-se tecnicamente insolventes, nacionalizados pelos seus governos e retirados do mercado. Os principais candidatos incluem bancos franceses, como Societe Generale e BNP Paribas, Commerzbank da Alemanha, o italiano Unicredit, e talvez um ou mais bancos na Áustria e na Finlândia.

As economias alemã e francesa, que já passaram por fortes abrandamentos em 2011, vão escorregar até a recessão em 2012. O Reino Unido vai lançar uma segunda rodada de programas de austeridade, introduzida pelo governo conservador de Cameron, o que abrirá uma recessão.
 
9. A taxa de crescimento económico da China vai sofrer uma forte desaceleração
 
Crescido com uma média de 9-10% nos últimos anos, o PIB da China vai diminuir drasticamente em 2012, potencialmente para a metade (ou menos) da taxa do ano anterior. As exportações chinesas vão ter uma contracção acentuada. A Índia também irá desacelerar significativamente. A maior economia da América Latina, o Brasil, vai entrar em recessão em 2012.

10. O comércio mundial será lento.
 
Dado o abrandamento da economia chinesa, a contínua instabilidade na Zona Euro e a desaceleração no crescimento económico dos EUA, o ritmo do comércio mundial vai abrandar e o mercado global sofrerá uma forte contracção. Em consequência, a produção mundial vai sofrer um declínio acentuado.

Em síntese
 
Em resumo, as previsões listadas são baseadas numa análise económica não ortodoxa. Este quadro é o resultado da reestruturação dos EUA e da economia global que na década dos anos 80 tinha sido a resposta à crise económica anterior dos anos 70 e agora entrou em queda com os eventos de 2007-08.

Às vezes referido como “neoliberalismo”, esta reestruturação foi definida como a capacidade das economias capitalistas para reestruturar a economia capitalista global. O resultado é a volatilidade e a instabilidade económica. A economia, os EUA e o mundo, continuam a reflectir alguma fragilidade estrutural grave. Até à data, tenho chamado este estado de incerteza como Recessão Épica de Tipo 1. Mas as recessões de Tipo 1 têm a tendência para transformar-se em Tipo 2, como um prelúdio para uma depressão global.

O próximo ano irá revelar se este processo já começou ou não, porque os Estados Unidos e outras economias são fracas e a forte instabilidade bancária do Euro irá seguir o próprio curso. Se houver uma crise bancária forte na área do Euro, a probabilidade de uma verdadeira depressão global irá aumentar significativamente.

Até aqui Jack Rasmus.

Em ambos os casos, Soros e Rasmus, as previsões não prefiguram nada de bom e a situação do Leitor é complicada.

Dum lado temos os media que realçam sinais positivos, chegando a ocultar importantes dados de carácter negativo, pelo que o Leitor sabe qual o nome do cão português de Obama (o nome é “Bo”. Não “Boh?”, mas “Bo”), mas não sabe quantas dezenas de milhões de Americanos estão desempregados (e são uns 25, está escrito acima, prestem atenção, fogo!).

Doutro lado temos as previsões catastróficas de quem deveria perceber do assunto. Mas escrever que “o Mundo vai piorar” não significa pensar que vai mesmo; de facto, ficam abertas questões importantes , como por exemplo: o que ganha Soros com previsões tão assustadoras? E a pergunta não é supérflua, pois Soros pertence a um espécie de seres, parecidos com os humanos, que não se mexe sem ter um preciso lucro bem em vista.

E Rasmus? Apenas um economista não ortodoxo da Esquerda americana, anti-sistema por natureza, ou algo mais?

Solução? Há: é só esperar 12 meses.
E esta é pura sabedoria.

  
Ipse dixit.

Fonte: Z-Communications

4 Replies to “2012: As previsões dos outros – Parte II”

  1. É Max, o feitiço está virando contra os feiticeiros, passaram anos levando desgraças a outros países, apoiando ditaduras, cometendo assassinatos, levando o caos onde antes tinha ordem, continuam a serem arrogantes basta ver os candidatos a presidencia que claramente desejam a desgraça e morte de Fidel, assim como fizeram com kadhafi. Os Líbios está reagindo de tal forma contra o regime imposto pelo Império Americano que agora eles tem que enviar 12 mil soldados para matarem o povo que não apóia o atual CNT, e "proteger" o petróleo que como bem sabiamos era o que eles queriam.
    Mas o navio deles está cada vez mais afundando, o mundo não se curva mais perante os americanos, e estamos ver agora eles tomando do próprio veneno que sempre espalharam pelo mundo.
    Infelizmente muita desgraça ainda vai acontecer por conta da arrogância desse povo que se acha dono do mundo.

    Um abraço meu amigo

  2. É justamente esse o problema, Burgos… arrogantes ou não… em todos os países, quem vai pagar… é o povo…

    E as pessoas diretamente responsáveis por isso, não sofrerão absolutamente nada!

    Todos nós estaremos pagando por essa dependência absurda do sistema monetário e da aceleração das economias… medidas de austeridade… desemprego em massa… daí para pior… talvez perderemos o que temos…. e os trilhionários continuarão trilhionários!

  3. Olá todos: As ovelhas quando percebem que estão sendo empurradas para a fila do matadouro, choram. Os homens se lamentam, se ajoelham, rezam, imploram clemência. Mas eu já vi ovelhinha desembestar correndo na direção contrária a fila da morte, e se meter pelo mato a dentro. E eu, embora saiba que ovelha não nasceu para mato, fiquei torcendo pelas poucas ovelhinhas capazes de fazer o que maior parte dos homens não faz: exercer o livre arbítrio. Abraços

  4. Como esperar 12 meses? Então nas previsões da "maia" estes bacanos não viram que o Mundo acaba em 2012? Por "Mundo" entenda-se o "tecnológico"!!!

Obrigado por participar na discussão!

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