GEAB nº 58 – Parte II

E vamos com a segunda e última parte do GEAB nº 58, que começa com a análise de alguns dados acerca das instituições bancárias.

A dizimação do pessoal bancário

A situação é mesmo desoladora para os trabalhadores do sector bancário […]: a partir da metade de 2011 Wall Street e Londres tem continuamente anunciado despedimentos em massa, difundidos também me centros financeiros secundários como aqueles suíço, europeu e japonês.

Em duas vagas, algumas centenas de milhares de empregos desapareceram: a primeira em 2008-2009, depois na Primavera deste ano.
E esta segunda vaga está a aumentar com o passar dos meses.

Com a recessão global em curso, com o secar dos fluxos de capital em direcção de Estados Unidos e Reino Unido (consequência das mudanças geopolíticas e económicas em curso), com as enormes perdas financeiras dos últimos meses, com regulamentos que quebram o super-lucrativo modelo bancário e financeiro dos anos 2000, os leaders dos Grandes Bancos Ocidentais não têm escolha: têm que cortar os custos, a qualquer preço, mais em profundidade e mais rapidamente.

Portanto, a solução mais simples (além de sobrecarregar os custos dos clientes) é aquela de despedir dezenas de milhares de dependentes.

Mas não sendo um processo controlado, mais ou menos a cada seis meses, os leaders dos Bancos Ocidentais descobrem ter subestimado os problemas e são obrigados a anunciar novos despedimentos em massa.

Com a tempestade perfeita política e financeira nos Estados Unidos ao longo dos próximos meses de Novembro e Dezembro, LEAP/E2020 prevê uma nova série de anúncios deste tipo, perto do início de 2012.

Os especialistas do GEAB falam de algumas medidas, de menor alcance, que ainda é possível tomar para poupar alguns “trocos”, mas a substância não muda: uma nova vaga de despedimentos no sector bancário.
Para reter, a afirmação segundo a qual estão a secar os “fluxos de capital em direcção de Estados Unidos e Reino Unido (consequência das mudanças geopolíticas e económicas em curso)“, extremamente importante para perceber muitos dos acontecimentos dos últimos tempos, como a intervenção na Líbia, por exemplo.

Mas será bom aqui lembrar, mais uma vez, a razão principal pela qual os grandes Bancos Ocidentais estão em graves apuros: um sistema financeiro baseado não numa riqueza real mas totalmente desligado dela, que encontra o próprio temporário (e já defunto) sucesso em pedaços de papel e nada mais.

A dizimação dos Bancos

Num certo sentido, o sistema bancário ocidental parece cada vez mais a industria siderúrgica ocidental das década dos anos ’70.

Os “donos dos altos-fornos” pensavam ser os padrões do mundo […], da mesma forma os banqueiros pensavam ser Deus (como o CEO de Goldman Sachs) ou , pelo menos, os donos do Universo.

A industria siderúrgica tinha sido ao longo de décadas a “ponta de diamante”, o “exemplo económico” de excelência do poder. Este era medido com as dezenas de milhões de toneladas de aço, tal como nas últimas décadas foi medido com os bónus milionários para os gestores dos Bancos e para os traders.

A seguir, no prazo de duas décadas para a industria do aço, dois/três anos para os Bancos, o ambiente mudou: aumento da concorrência, queda dos lucros, despedimentos em massa, perda de influencia política, abolição das ajudas estatais, a nacionalização e/ou reestruturação […].

Num certo sentido, a analogia pode ser aplicada ao futuro do sector bancário ocidental em 2012/2013.

Pessoalmente acho esta analogia bem pouco conseguida. Atrás das empresas siderúrgica já havia os bancos.

E a perda de influência política dos banqueiros existe apenas nas visões dos GEAB: o emaranhado bancos-políticas não é algo que possa desaparecer tão facilmente (sempre admitindo que possa realmente desaparecer), sobretudo quando, como no caso da Europa e dos Estados Unidos (mas não só…) as decisões políticas são ainda exclusivamente ao serviço dos interesses financeiros.

Doutro lado, tal afirmação serve ao GEAB para apresentar o Euro como solução politica e não consequência dum projecto financeiro, em aberta contraposição com o Dólar, escravo da Federal Reserve e, portanto, dos grandes bancos americanos.

Seria engraçado saber quem, segundo o GEAB, fica atrás do Banco Central Europeu…

Já em 2008 em Wall Street, Goldman Sachs, Morgan Stanley e JP Morgan tiveram que transformar-se em holding para serem salvas.

Na City, o governo britânico teve que nacionalizar uma inteira faia do sistema bancário e, até hoje, o contribuinte tem continuado a pagar os custos desta operação, porque os preços das acções dos bancos caíram de novo em 2011.

Esta é uma das características do sistema bancário ocidental: estes players financeiros privados valem praticamente nada. A recapitalização de mercado desapareceu.

Obviamente, tudo isso cria oportunidade de nacionalizações com baixos custos, a partir de 2010, porque esta é a escolha dos Estados, nos EUA, na Europa ou no Japão.

Sejam Bank of America, Citigroup ou Morgan Stanley nos Estados Unidos, ou Lloyds no Reino Unido, Société Générale na França, Deutsche Bank na Alemanha ou UBS na Suíça, algumas grandes instituições “demasiado grandes para falir” irão falir.

Serão acompanhados por uma inteiro faixa de bancos médios ou pequenos, como a Max Bank por exemplo, que acabou de apresentar instância de falência na Dinamarca.

Só para que não fiquem dúvidas: nada tenho a ver com esta Max Bank

Quanto ao resto: o GEAB atira-se aqui num para um jogo arriscado e um bocado suspeito.
Em particular, os Leitores de Portugal podem bem lembrar o último processo de nacionalização dum banco nas redondezas: BPN. Não é história do passado, é coisa dos últimos meses: não foi uma operação sem dor e, sobretudo, não foi nada barato.
Pelo contrário: custou um exagero, todos custos suportados pelos contribuintes.
E, uma vez salvo, o banco ficou à venda, outra vez nas mãos dos privados.

O esquema: crise do banco > nacionalização > dinheiro dos contribuintes > grandes credores salvos > de volta aos privados.

Isso dá para perceber quanto diminuiu a influência dos banqueiros no mundo da politica…

Perante esta dizimação, os recursos dos Estados acabarão cedo, sobretudo nestes tempos de austeridade, de baixas entradas fiscais e de impopularidade política acerca dos resgates dos bancos.

Os leaders políticos, portanto, devem concentrar-se na tutela dos interesses dos correntistas e dos dependentes (duas áreas cheias de promessas eleitorais), em vez de tutelar os interesses dos dirigentes e dos accionistas dos bancos (duas áreas cheias de perigos eleitorais)[…].

Isso significará uma nova queda dos preços das acções financeiras (incluídas aquelas dos seguros, cujas situações está próxima das dos bancos) e aumento das perturbações dos hedge founds, fundos das reformas e dos outros sujeitos tradicionalmente ligados ao sector bancário ocidental.

Não há dúvida de que tudo isso irá reforçar o ambiente recessivo geral, contribuindo também a limitar o crédito.
Para simplificar, podemos dizer que o mercado bancário ocidental, ao reduzir o alcance e o número dos próprios players, terá que reduzir a si mesmo. Nalguns Países, em particular onde 70% ou mais do mercado bancário está nas mãos dos grandes bancos, haverá o inevitável desaparecimento de alguns protagonistas, apesar das afirmações dos leaders, dos stress-test ou agências de rating.

E conclui o bom GEAB nº 58 com algumas dicas:

Se formos accionistas ou clientes dum daqueles Bancos que poderiam ruir na primeira metade de 2012, seria melhor tomar precauções. […]

No caso do leitor for um dependente duma destas instituições, perante uma interessante oferta de demissão voluntária, melhor aceita-la, pois nos próximos meses os exuberos já não serão com base voluntária e as condições poderiam ser muito menos favoráveis.

Palavras do GEAB: aceitem as demissões voluntárias e fiquem sem fundo de desemprego.
Isso sem contar as repercussões no mundo económico no geral, onde não serão apenas os bancos a estar em sofrimento.

Vamos todos a despedir-nos com alegria?
Mas calma, não há crise: haverá os leaders políticos empenhados na “tutela dos interesses dos correntistas e dos dependentes”…

A primeira parte do presente GEAB neste link.

2 Replies to “GEAB nº 58 – Parte II”

  1. "Andrew Jackson matou o banco". Coitado que vida infrutífera.

    Pra que ser dono de megacorporações financeiras, com todos os seus custos? Mais vale, como foi dito por um velhaco do clã Rotchild, ser dono da fábrica que produz a grana. Enxugar custos é isso aí. Falam as más línguas que até o ouro do Fort Knox, de uns tempos pra cá faz parte do balanço da Federal Reserve. Sem problemas, já que o americano médio crê em "seu" banco central. Existe também os privateiros, que acham que isto é o correto. A pujança do capitalismo liberal.

    Walner.

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