Capitalismo: 110 anos de crises

Neste blog é possível encontrar muitas críticas ao Comunismo.

Vimos também como este foi criado e explorado pela elite financeira do mundo ocidental.

Mas o Capitalismo?
Sendo nós uma das província do Império (a maior parte do globo é, de facto, uma Província do Império americano), podemos passar o tempo em voos abstractos político-filosóficos (é a especialidade europeia), mas, nos factos, vivemos num mundo firmemente Capitalista.

É verdade também que o Capitalismo de hoje nada ou mesmo pouco tem em comum com as visões de Calvin Smith, mas a base foi aquela.

É verdade também (ohhh, quantas verdades todas juntas!) que este blog critica pesadamente as aberrações da sociedade contemporânea o que significa, de forma mais ou menos directa, criticar o Capitalismo também.

Mas vamos observar mais de perto este tipo de sociedade.


Entre 1900 e 2011 tivemos 24 recessões nos Estados Unidos, incluída a Grande Depressão. Isso significa um recessão a cada 4,6 anos, com variações entre as várias décadas.

Mesmo assim, um sistema que contemple um crise (amis ou menos grave) a cada quatro anos não pode ser definido um grande sucesso.
Aliás, este dado deveria servir para alguém dizer “Ok, falhámos” e pensar em evoluir um bocado.

Pois não é possível negar que o Capitalismo tornou ricos muitos Americanos e facilitou a governação mundial de Washington.

Todavia, não podemos esquecer que é um sistema instável, responsável pelas desigualdade, pobreza, desemprego e agressão no estrangeiro para cultivar os interesses dos Estados Unidos.

Mas quantas vezes o sistema é criticado em público?
Nos media, nos jornais, nas televisões, nos Parlamentos?
Resposta: quase nunca.

São criticados alguns aspectos dele, como por exemplo o lado financeiro, sobretudo em tempos recentes; mas os fundamentos nunca são postos em causa.
Isso não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa.
Depois, claro está, na Terra do Tio Sam a coisa é ainda mais complicada, mas isso é lógico.

O que tornou o Capitalismo tão sagrado?
Não sempre foi assim. Em 1920, o sindicalista Eugene V. Debs obteve 1 milhão de votos como candidato presidencial dos Socialistas. E isso nos Estados Unidos, algo que hoje seria impensável. E ainda em 1940, o Partido Comunista tinha 100.000 inscritos. Sempre nos Estados Unidos.

Depois algo mudou. O “vermelho” passou a ser o grande inimigo de Washington e começou um aclara acção para condicionar as mentes dos Americanos: o Comunismo/Socialismo tinha que ser travado, de qualquer forma.

Houve repressões políticas, houve verdadeiras “caças” ao “vermelho” (em particular entre 1945 e 1960), houve detenções.

A Guerra Fria fez o resto: dum lado a monolítica União Soviética, doutro o Sonho Americano.
Sabemos como acabou, mas sabemos também que entretanto não foi desenvolvida alternativa nenhuma.
E se isso pode ser considerado “normal” nos Estados Unidos (afinal forma os principais inimigos do Comunismo-Socialismo), isso é um pouco “menos normal” nos outros Países que, mesmo sendo sempre parte do Império, gozavam e gozam de um menor número de tabu neste sentido.

Particularmente significativa as consequências dos partidos definidos “de Esquerda” após a queda do muro de Berlim: simplesmente pararam, ficaram a olhar para uma realidade que já não conseguiam explicar.

E ficou claro que ao longo das décadas nem do “outro lado” tinha sido imaginada uma alternativa: ambos os lados, russo e americano, tinham ficado agarrados a concepções cristalizadas, parada no tempo, como um insecto na eterna prisão de âmbar.

Assim, temos um povo, o americano, que talvez é o mais rico do mundo (por enquanto), mas onde 10 % da população detém 90 % da riqueza. Num País de 312 milhões de pessoas, a inteira elite poderia caber num estádio qualquer.

Fora do estádio, poderiam ficar os 46,2 milhões que vivem abaixo do limiar da pobreza.
E tudo isso é absolutamente normal. Sim, há quem pergunte, quem diga que é uma vergonha, mas ninguém se atreve a pronunciar a palavrinha mágica “Capitalismo”.

Mesmo agora, que o Sonho Americano está a tornar- se cada vez mais sonho e cada vez menos realidade, a matriz não é posta em causa.

E se ao termo “Capitalismo” juntamos o de “Democracia”, então ficamos perante a Santíssima Duplicidade, inquestionável. Aliás, é difícil hoje imaginar um Capitalismo sem a presença dum Estado democrático.

E isso apesar destes dois termos não ter nada a ver um com o outro, sendo companheiros de viagem ocasionais.

Sim, mas nos que temos a ver com isso?
Nada, é só assim para dizer que talvez possa ser boa ideia ver um pouco mais de perto os vários sistemas económicos e políticos disponíveis. Tipo o Capitalismo, o Socialismo, a Social-Democracia, sei lá eu…

Ipse dixit.

15 Replies to “Capitalismo: 110 anos de crises”

  1. Hehe Arábia Saudita é uma monarquia e tem caracteristicas bastante capitalistas 🙂

    Julgo que vamos ter uma crise tão profunda na Europa que o sistema capitalista será posto em causa e novos modelos económicos serão estudados. Este modelo de escravidão baseada na divida eterna será substituido por um novo. Será substituido por um melhor?

    http://www.keeptalkinggreece.com/2011/09/19/troikas-reforms-that-deform-the-greek-society/
    Gostaria de recomendar a todos este blog grego escrito em inglês que relata bem a realidade do saque troikiano ao país e aos seus habitantes. Temos de aprender com a Grécia pois os próximos seremos nós.

    Abraço,
    Xenofonte

  2. max , certo que o nem um sistema politico e perfeito afinal e feito por gente ( que está sujeitos a falhas rsrsrsrsrs ) , mais como o capitalismo e comunismo não deram certo , que tal um sistema que pega o melhor dos dois , que tal uma terceira via, tipo facismo, "ohhhhhh meu deus , seu facista de mierda, racista maligno etc…" , vc já viu como era a alemanha nacional socialista, afinal o nacional socialismo e simplemente uma terceira via politica, ( a sinstese em capital e social ). te repasso um link bem interessante sobre o assunto .

    http://www.inacreditavel.com.br/novo/mostrar_artigo.asp?id=512

    ponto , mais ainda acho que o capitalismo e bom , afinal ele em teoria em pratica uma meritocracia , afinal so sobe na piramide que tem garra…

  3. Na minha humilde opinião acho que o sistema menos mal seria o de socialismo regional com moeda instituida, um misto…

  4. Eu vou com o Pedro, o Socialismo.
    Um governo mundial socialista não sería mal.
    Espero não ser linchado aqui por isso, hehehehehe.

    Abraços

  5. Lobo, ao ler "Bill Clinton e Tony Blair, dois entusiastas da terceira via." pensei em parar de ler, mas continuei.
    E me arrependi, pelo que eu entendi você vira escravo e o Estado vira seu pai que lhe dá tudo.
    Questão, como fica a corrupção nisso tudo?
    Por isso voto em qualquer tipo de governo com fonte socialista mas de forma regional, não mundial, regionalmente se torna mais fácil de se ter controle da "elite" governista, e quando digo regiões quero dizer micro regiões, no máximo algumas cidades vizinhas, pois é fato, o ser humano não se importa com o que não vê, quando o fogo é perto ele há de se preocupar!
    Não digo que seria perfeito, mas você pelo menos saberia onde são aplicadas suas "contribuições" ao "governo", contrariamente ao sistema de hoje, onde se fala de arrecadações de trilhões, investimentos idem, em locais que você nunca irá ver sua vida…
    Estamos em um sistema de ferro, pois quem deveria regular não tem condições/força e quem o faz é da "família"…

  6. Sim… até o nacional socialismo tem muita coisa boa… a social democracia também… o capitalismo também… o socialismo também… a democracia também…

    A plutocracia e aristrocacia não… nem ditadura… liberdade em primeiro lugar…

    Liberdade e individualidade… nada de comunismo…

    O que fez todos os sistemas falharem? Injustiças… corrupção… ganância… qualquer sistema que queira ter sucesso deve ter mecanismos de proteção quanto à isso… é extremamente simples de se propor um sistema assim… é extremamente simples de se cumprir um sistema assim… o problema é… quem pode, quer propor? Depois de proposto, alguém seguiria?

    Só precisamos de boa vontade… DE TODOS… sem excessão… ou seja: impossível… para isso serve a ditadura e totalitarismo… infelizmente sou totalmente contra a falta de liberdade…

    Para isso o fascismo tem uma boa ferramenta: ou você sabe usar sua liberdade de forma harmonica… ou você MORRE!

    Dessa forma não sobra brasileiro! 🙂

  7. Olá Max e leitores: tenho apreendido que nenhum sistema funciona quando aqueles que veem nele soluções boas para a sociedade não o compreendem suficientemente a ponto de, seja quais forem as circunstãncias, operacionalizá-lo a nível pessoal. E, quando aqueles que o compreendem perfeitamente dele tiram proveito em benefício próprio e prejuízo dos demais.
    Portanto me parece que a dificuldade não está no corpo de idéias que constitui o capitalismo, o socialismo ou outro ismo qualquer. Está no que foi feito dessas utopias na realidade, está nas pessoas, na falta de informação de muitas, na falta de consciência livre e solidária da maioria, no elevado grau de estipidez, ganãncia e egoismo de tantos entre nós. E, com poucas cabeças pensantes e atuantes num bom sentido, isso não se altera. Os sistemas se formam, evoluem, implodem, se metamorfoseiam, mudam de nome, se reciclam, se reinventam e a "m" continua ad eternum. Desculpem, não me creiam pessimista, até gostaria se alguem pudesse me convencer do contrário.

  8. Oulálá,
    Creio poder trazer algo à tona:
    O problema não são os sistemas político-econômico-sociais; imaginados, idealizados, pensados e re-pensados, mas sim os homens que os dominam e se aproveitam deles…

  9. Olá Pedro: que bom que perguntastes, porque mesmo aqui há mais respostas que perguntas. Ainda bem que há respostas ótimas até para perguntas que nem tinham sido feitas. Viva o Max!
    Não, não acho que seja a base de tudo, de maneira nenhuma. Mas acho importante, e muito! Tipo condição sine qua non. Mas falo de autoformação, de auto didatismo. Falo de curiosidade, de vontade de aprender, de clareza na compreensão de que se sabe muito pouco das coisas, que a realidade é uma imagem distorcida e apreende-la de fato exige humildade, paciência e consciência.
    E não esquece (já disse aqui algumas vezes)que não confundo educação com escolas e universidades. Como tenho uns 30 anos de vivência nelas, já deu para saber do que se trata,a que servem e para que existem e até mesmo como cumprem perfeitamente bem o seu papel neste mundinho. Porque pensa comigo:perdidas em meio a compreensões limitadas, as pessoas agem no espaço diminuto das suas limitações de pensamento-sentimentos, não te parece certo? Então, penso que pessoas bem informadas, lúcidas e bem intensionadas têm melhores condições de reinventar o mundo. Pelo menos o seu próprio mundo e dos seus próximos, o que do meu ponto de vista é meio caminho andado.Abraços

  10. Acho que os "ismos" acabam por se tornar dogmas e isto está provado que só serve para dividir intectualmente o mundo, entendo que o maior problema para se chegar a uma terceira via é que não dispomos do conhecimento de forma homogênea cada um pensa e age conforme o seu modo particular de ver as coisas segundo a sua formação etc..Nossa formação é baseada num princípio de hierarquia (para tudo)e vivemos conforme o princípio da competição, entendo que para mudarmos seja preciso atingir um outro patamar de compreensão, de sabedoria e aí então através da cooperação e do conhecimento holográfico poderemos construir qualquer caminho sem precisar da ordem jurídico-econômica institucionalizada.

    Saudações

  11. É verdade Maria, o único porém é que isso só depende de cada um… Vai tentar tirar alguém da "bolha" de conforto dela pra você ver… No fundo o ser humano é "Maria vai com as outras" com o perdão do trocadilho 😛

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