Tudo, e duma só vez

Quarta-feira, uma coligação de organizações pacifistas israelitas publicou uma lista de cinquenta razões pelas quais israel deveria apoiar um Estado palestiniano.

Mesmo concordando com apenas cinco delas, não seriam suficientes? Qual exactamente a alternativa agora que os céus estão a fechar-se à nossa volta?

O que vamos dizer dizemos na próxima semana na ONU? O que poderíamos dizer?

Se estivéssemos na Assembleia Geral ou no Conselho de Segurança, deveríamos expor nossa completa nudez: israel não um Estado palestiniano. Ponto.

E não há único argumento para justificar a actual situação o negar um reconhecimento internacional do Estado.
[…]

A próxima semana será o momento da verdade para israel, ou mais precisamente o momento em que o seu engano será revelado ao público. Tanto o presidente, como o primeiro-ministro ou o embaixador nas Nações Unidas, seriam incapazes de ficar diante dos representantes das Nações do mundo e explicar a lógica de israel, nenhum deles seria capaz de convencê-los de que há algum mérito na posição israelita.


Trinta anos atrás, israel assinou um acordo de paz com o Egipto no qual dizia de “reconhecer os direitos legítimos do povo palestiniano” e estabelecer uma autoridade autónoma nos territórios ocupados e na Faixa de Gaza dentro de cinco anos. Nada disso aconteceu.

Dezoito anos atrás, o primeiro-ministro de israel assinou os Acordos de Oslo, com os quais israel empenhava-se para iniciar as conversações para chegar a um acordo final com os Palestinianos, dentro de cinco anos. Também isso não aconteceu. A maioria das disposições do acordo, desde então, têm falhado, na maioria dos casos por causa de israel. O que poderá dizer acerca de tudo isso apoiante de israel nas Nações Unidas?

Durante anos, israel disse que Yasser Arafat era o único obstáculo para a paz com os Palestinianos.
Arafat está morto, e mais uma vez nada aconteceu.
israel disse que se o terrorismo tivesse parado, uma solução teria sido encontrada.
O terrorismo parou, e ainda nada.

As desculpas de israel tornaram-se cada vez mais vazia e a nua verdade está cada vez mais visível: israel não quer chegar a um acordo de paz que envolva o estabelecimento dum Estado palestiniano. A coisa não pode ser ainda ocultadas pelas Nações Unidas. E o que israel e Netanyahu podem esperar dos Palestiniano? […]

A verdade é que os Palestinianos têm apenas três opções, não quatro: rendição sem condições e prosseguir com a  ocupação israelita ao longo de mais 42 anos; lançar uma terceira intifada; ou tentar mobilizar o mundo.
Escolheram a terceira opção, o menor dos males a partir da perspectiva israelita. O que poderia afirmar israel acerca disso, que é um movimento unilateral, como disseram os Estados Unidos? O que resta aos Palestinianos? A arena internacional. E se nem isso conseguirá salva-los, então haverá outra revolta do povo nos territórios.

Os Palestinianos nos Territórios Ocupados agora são três milhões e meio, e não vão viver para outros 42 como marginalizados, sem direitos civis. Conseguirão Netanyahu e Shimon Peres ser capazes de explicar porque os Palestinianos não merecem o  seu próprio Estado?

Este não é um texto dum blogueiro antissemita, mas um texto escrito per israelitas, publicado por Gideon Levy num diário israelita, Haaretz.

Há, também no interior de israel, pessoas que não entendem.
Não entendem, por exemplo, a política aparentemente “suicida” do primeiro-ministro.

Em poucos dias, israel conseguiu prejudicar os relacionamentos com a Turquia, antigo aliado, com o Egipto, e atacar, sem fornecer justificação nenhuma, os territórios ocupados, matando 15 pessoas.

Cada vez mais isolado, israel não apenas não revê as próprias posições como até exaspera os tons: Netanyhau chama em causa ameaças existenciais e utiliza uma política de arrogância para instrumentalizar o medo.

Parece uma atitude sem sentido.
Mas, talvez, haja duas possíveis interpretações.

A primeira vê israel aumentar o preço do reconhecimento do Estado palestiniano. Na próxima semana será complicado impedir tal reconhecimento nas Nações Unidas: israel está ciente disso e pode exasperar os tons agora para obter mais depois, como “compensação” pela derrota internacional.

Mas é uma hipótese fraca.
Se o medo de israel estivesse relacionado com a decisão das Nações Unidas, Tel Aviv deveria ter procurado alguns entendimentos com os outros Países da área médio-oriental. E não, como fez, um isolamento ainda maior.

Por isso sobra a segunda hipótese, infelizmente: preparação em vista dum novo conflito. Talvez não imediato, mas algo para o qual é bem preparar-se, pois há muitas coisas que têm de ser “ajeitada” na zona:
os tediosos Palestinianos;
os velhos aliados, os Turcos;
os novos islâmicos no poder, o Egipto;
o aqui-inimigo, o Irão;
o velho inimigo, a Síria;
as bombas que continuam a explodir, o Iraque.

Poderia ser possível encarar um problema de cada vez, mas israel não parece desejosa de seguir esta estrada, como demonstram os recentes acontecimentos na Turquia, na Palestina e no Egipto.

Não seria mais prático encontrar uma única resposta para resolver tudo e duma só vez?
Não é verdade que as guerras fazem também milagres nos casos de economias em dificuldades?

(Nota final, tomamos nota: agora que a guerra da Líbia está “resolvida”, eis que aparece um novo caso, óptimo para manter elevada a tensão internacional. Tudo segundo os planos…)

Ipse dixit.

Fontes: Haaretz, The National

12 Replies to “Tudo, e duma só vez”

  1. É apenas um jogo Max, cada peça tem sua hora… As vezes, e me desculpe por dizer isto, seu blogue parece repetitivo, pois vejo o que já sabia e esperava, também fico angustiado pois pareço incapaz, uma vez que não tenho ferramentas e nem armas com as quais lutar, e mesmo que tivesse? Como se luta contra uma ilusão? é possível acertala? tecerlhe um ferimento mortal?
    Nessa ilusão me parece que os problemas são sempre os mesmos, repetem-se milhões de vezes, só usando mascáras e mesmo assim, dia após dia estão alí passando despercebidos no mar de gente.
    As vezes me parece uma piada de mal gosto, que estão a rir de nossa cara. Não me parece real, parece um pesadelo…

  2. Pedro

    Me desculpe, mas acho que temos sim que ser repetitivos, o ditado diz; "água mole em pedra dura tanto bate até que fura", e talvez seja isso, repetirmos sempre até que todos se conscientizem, se questionem e se unam cada vez mais, deixando de acreditar nas mentiras que nos são impostas pela mídia todos os dias e talvez chegamos a alguma vitória sobre isso tudo.

    Abraços

  3. Eu sei Burgos, por isto peço desculpa antes de dizer o que penso. Há de ser assim, não temos outra saída, ou pelo menos não enxergo outra que não informar, mas é uma saída com resultado tão lento, que as vezes desconfio se nossos números são positivos ou negativos…
    Não era uma crítica, era um desabafo =P

  4. Pedro
    Eu sei que não foi uma crítica, eu também muitas vezes me desalento com isso tudo, mas infelizmente acho que não tem outra maneira.

    Abraços

  5. Se israel não quer aceitar a criação de um Estado Palestino, basta que promova um ataque de falsa bandeira em seu território e então, colocar a culpa nos palestinos; depois a mídia amestrada encarrega-se do restante e a OnU mantém as coisas como estão.

  6. Não era a primeira vez Luis…aliás, hoje reconhece-se o padrão.
    lembra-se das Fotos expostas do "Suposto terrorista " do HAMAS com uma estrela de david ao pescoço…o bacano esqueceu-se de tirar o fio.
    Azar, foi apanhado.
    Òbvio que o estado de israel veio logo desmentir o sucedido.

  7. … estou convicto que foi inadvertidamente que o texto sempre refere Israel com i minusculo… mas agradeço, caso possível, ao autor deste blog apaixonante, que o confirme… prefiro estar certo porque Max o diz, do que apenas acreditar que deve ser assim…
    Manuel olissiponense

  8. Pedro, eu concordo contigo nessa visão "repetitiva", mas cada dia que passa eu acho que consigo entender melhor isso. Não é o blog que está se repetindo, e sim a história. A história vai e volta e os mesmos erros são cometidos.

  9. "Netanyahu prevê fracasso do pedido palestino na ONU"

    Essa notícia é de hoje. Prever? Isto está me parecendo cartas marcadas…

  10. Olá Olissiponense!

    Não, nada de inadvertência. Julgo ser a elite política de israel a mais perigosa do panorama actual, formada por elementos com ínfimas propriedade intelectuais e emocionais. Uma "I" maiúscula é também uma forma de respeito, mas no meu caso seria pura hipocrisia.

    Claro está: como várias vezes afirmado neste blog, é absolutamente imperativo distinguir a elite política de israel do povo israelita.

    Isso porque, como infelizmente acontece com cada vez mais frequência, os "representantes" dos cidadãos, na verdade, não representam a sociedade e nem incarnam as finalidades que a mesma persegue.

    Nesta óptica, julgo ser os Israelitas as primeiras vítimas desta situação, como bem demonstram os testemunhos de quem consegue fugir à propaganda do regime de Tel Avive.

    O antissemitismo não mora em Informação Incorrecta: ser "contra" um povo, seja qual for ele, é simplesmente estúpido.

    Abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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