O Nobel e o Nber

Um artigo de Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia.

Antes demais: é bom não esquecer que Krugman é outra criatura da elite dominante.
Não acaso é membro do Grupo dos 30 (G30), fundado por Geoffrey Beel (homem dos Rockefeller), no topo do qual encontramos Paul Volker, ex chefe da Federal Reserve, ex Manhattan Chase, membro da Comissão Trilateral e do Grupo Bilderberg.

Nos últimos dias, dois números foram divulgados em Washington, números que deveriam levar todos a exclamar: “Meu Deus, o que fizemos?”.

O primeiro desses números é zero, correspondente aos postos de trabalho criados em Agosto.

O segundo número é dois, correspondente à taxa de juros dos títulos de dez anos dos EUA, o menor que já vi.

Tomados em conjunto, podemos dizer que os dois números estão a gritar em voz alta uma coisa: a massa de pessoas dentro do Beltway (o establishment de Washington, NDT) está a preocupar-se com as coisas erradas e, portanto, está a infligir ao País danos devastadores.


Desde que acabou com a crise financeira aguda, o debate político em Washington mais do que com o desemprego está a tratar dos alegados riscos um défice orçamenta iria colocar.

Os especialistas e as várias organizações mediáticas argumentam que o maior risco para a América era que os investidores “desligassem ” da dívida dos EUA. Em Maio de 2009, o Wall Street Journal declarou que os “gastos épico” da Administração iriam provocar taxas de juros exorbitantes. Quando tal editorial foi publicado a taxa de juros era de 3,7% hoje é de 2. Dito isto, não vou ignorar por falta de fundamento as preocupações relacionadas com a situação do orçamento no longo prazo.

Se levarmos em conta as perspectivas fiscais ao longo dos próximos 20 anos, há muito de que preocupar-se, principalmente por causa dos custos dos cuidados de saúde. Mas a experiência confirma o que alguns de nós têm procurado tornar claro desde o início: quando o deficit que temos, e que temos de ter para ajudar uma economia deprimida, não representa uma ameaça.

Angustiada por causa duma ameaça inexistente, Washington está a exacerbar o problema, o desemprego em massa, que afecta as bases da nossa Nação. No ano passado, a obsessão com o deficit tem obstruído a aprovação dos necessários estímulos fiscais, e dado que a despesa agora acabou, estamos de facto a viver na austeridade.

Os governos estaduais e locais, perante a perda da ajuda federal, estão a cortar muitos programas e demitem muitos trabalhadores, principalmente professores. O sector privado não tem respondido a estas demissões,  regozijando-se com a visão dum Estado em contração e lançando novos investimentos.

Eu sei o que dizem agora os suspeitos do costume: o medo dos impostos mais altos e a regulamentação trava as empresas. Mas esta é uma fantasia da Direita: numerosos estudos mostram que é a falta de procura, agravada pelos cortes do governo, o problema contra o qual as grandes empresas estão a lutar. Regulamentos e impostos só participam de forma marginal neste quadro. 

Aqui está um exemplo: quando o McClatchy Newspapers recentemente realizou uma pesquisa entre uma série totalmente aleatória de pequenos empreendedores para descobrir qual o pior dos males, ninguém apontou a regulamentação e poucos queixaram- se dos impostos.

A propósito: já disse que os lucros líquidos estão em níveis recordes?

Assim: o deficit de curto prazo não é um problema, a falta de procura sim e os cortes nos gastos agravam a situação. Não será hora de mudar de rumo?

Isto leva-me ao discurso que o Presidente Obama acabou de fazer acerca da economia. Considero útil reflectir em relação a duas questões fundamentais.

Um: O que devemos fazer para criar novos empregos?

Dois: O que estão dispostos a aceitar os Republicanos no Congresso?

A resposta à primeira pergunta é que devemos ter uma despesa do governo destinada a criar muitos postos de trabalho pelo governo federal, em grande parte despesas necessárias para reestruturar e melhorias as infra-estruturas da Nação.

Ah, esqueci: também precisamos de muita mais ajuda para os governos estaduais e locais, para que possam parar de despedir professores.

Mas os Republicanos estão disposto a dizer “sim “em relação a quê? É simples: nada.
 Eles opõem-se a qualquer coisa Obama possa propor, mesmo que possa ser um importante ajuda económica. Ou melhor, especialmente se isso ajudar a economia, pois o desemprego elevado é uma ajuda política.

Estou disposto a fazer vista grossa sobre os detalhes das propostas de Obama: o que é preciso é mudar completamente tópico, que Washington volte a falar de empregos e que o governo ajude a criar postos de trabalho. Para o bem da Nação, e mais ainda para o bem de milhões de Americanos que não conseguem ver perspectivas de trabalho, espero que Obama consiga.

Interessante este artigo por várias razões, a mais importante da qual acho ser a ideia de que o deficit não é um verdadeiro problema. É mais uma “obsessão com o deficit”, para usar as palavras de Krugman.

E o que preocupa as empresas não é um excesso de regulamentação ou a política dos impostos (Krugman é o único que consegue encontrar empresas que não se queixam dos impostos): é, pelo contrário a falta de procura.

O que faz todo o sentido, mas é a solução encontrada pelo Prémio Nobel que não tranquiliza: estímulos fiscais e deixar Obama trabalhar.

Só isso? Sim, só isso.
Não importa se o País estiver mergulhado no deficit, no importa se nos corredores da Federal Reserve continuam as vozes dum próximo Quantitative Easing com relativo risco de inflação. O que Krugman não quer explicar é a razão pela qual o deficit ficou descontrolado.

O que Krugman não diz é que os bancos privados contraíram enormes dívidas por causa de iniciativas especulativas erradas, como a aquisição de títulos “tóxicos”. E que estas dividas acabaram nas contas públicas, sob forma de deficit. A dívida de poucos tornou-se dívida de todos.

Dívidas dos bancos pagas com o dinheiro dos contribuintes, mais operações da Federal Reserve, tornaram os Estados Unidos mais pobres, muito mais pobres. E agora Krugman explica que não é o caso de preocupar-se: aliás, que seria melhor ignorar o deficit, verdadeira obsessão.

Krugman está preocupado com os desempregados.
Justo, sem dúvida. Mas não seria mais sábio remover as causas?

Doutro lado, Paul Krugman faz também parte do National Bureau of Economic Research (NBER), a mesma organização no-profit na qual militam indivíduos como:

  • Ben Bernanke (chefe da Federal Reserve)
  • o Prémio Nobel da Economia Joseph Eugene Stiglitz (vice presidente do Banco Mundial)
  • o Prémio Nobel da Economia Peter Arthur Diamond (ex Federal Reserve)
  • o Prémio Nobel da Economia Edward Christian Prescott (Federal Reserve de Minneapolis)
  • o Prémio Nobel da Economia George Arthur Akerlof (Federal Reserve de San Francisco, cuja esposa trabalha na administração da Federal Reserve).

O National Bureau of Economic Research é a mesma instituição que no Setembro do ano passado anunciou o fim da Grande Depressão nos Estados Unidos (2007-2009)…

Ahhhh, então…

Ipse dixit.

Fonte: New York Times via La Repubblica

6 Replies to “O Nobel e o Nber”

  1. e a taxa de desemprego em 16.1% também é boa…

    Quanto à inflação… nem o novo algoritmo que eles lá inventaram para aldrabar o valor real da inflação consegue aguentar a carga!! Em breve vão ter que ajustar o algoritmo ou então o "bacano" desiste… e começa a vomitar valores exorbitantes!

  2. Bem… parece que esses prémios Nobel, conseguiram através da subserviência dos líderes europeus, fazer quase o impossível! Devido a uma crise provocada pelas empresas financeiras americanas, estouraram por completo com o euro… é escusado ter esperança, pois estes safados destes políticos, resolveram por ganância própria, ser subservientes para com o imperador… e lixaram-nos a todos!
    "A menos que haja uma mudança dramática e simultânea na política da Itália, da Alemanha e do Banco Central Europeu, o colapso da eurozona é quase certo. Nem a Itália, nem a Espanha, Portugal, Irlanda ou Grécia serão capazes de manter a sua condição de membros da eurozona e manter a sustentabilidade da sua dívida soberana com os spreads actuais da taxa de juro. Alguma coisa terá de ceder". Quem afirma isto é um editor do Finantial Times, Wolfgang Munchau. O seu artigo pode ser lido em Eurointelligence .
    Face a isto, cabe perguntar para onde nos leva a subserviência do governo PSD/CDS aos ditames da troika FMI/UE/BCE. O desligamento de Portugal da eurozona é inevitável e os sacrifícios agora impostos aos portugueses são inúteis. No fim do programa da troika Portugal estará numa situação económica pior do que agora. Não há luz no fundo deste túnel.

  3. Ó Fada!!! Então? Ando eu a gastar os poucos neurónios que ainda funcionam a fazer imagens que explicam para onde vamos e tu ainda está a perguntar? Já te esqueceste? Então vê aqui outra vez… mas não te esqueças… eheh (P.T.: verdade que foi o Miguel que te alertou para o sub… ihih)

  4. ahahahah!! Voz! Eu estou admirada contigo! 🙂 Não é normal estares a comentar a esta hora… :))
    Pois é verdade, agora fazia a diferença termos uns "bichos" desses, já que não somos convidados para a "Arca de Noé"… 🙁
    O Miguel??? não entendi… 🙂

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