Todos iguais, todos diferentes. Democraticamente.

Democracia é também difundir a ideia de que somos todos iguais.
Não, não somos.

Lamento, sei que há pessoas que ficam indignadas a ouvir isso, mas a teoria pela qual todos os seres humanos são iguais é uma idiotice. Se assim fosse, ainda estaremos a viver nas cavernas, a idolatrar o relâmpago.

Iguais ou únicos?

Não é uma questão de preto ou branco, é uma questão de cérebro: o cérebro não tem cor.
E nem é uma questão de dignidade, pois neste caso sim, todos os seres humanos são iguais.

É algo de diferente.
O nosso saber, pensar, conhecer, sentir, são nossos e só nossos: cada um vê e vive o mundo com base nas próprias experiências e capacidades intelectuais, que são também o fruto duma vida.

Uma vida igual aquelas de muitos outros? Sim, sem dúvida: mas vivida e interpretada à nossa maneira. filtrada pelas inteligência e sensibilidade individuais.


Multiplicamos isso por todos os Leitores deste blog e teremos muitos modos de ser, todos diferentes.
Multiplicamos por todas as pessoas que frequentam a blogosfera, os que nem sabem o que é internet, os que vivem nos vários continentes, os que são vegetarianos, os que rezam Buda, os que jogam basket…e teremos um planeta composto por 7 bilhões de micro-universos.

A Democracia acaba com esta diversidade: perante ela, todos somos iguais e temos as mesmas capacidades. Assim, a nossa opinião conta tanto quanto a opinião de qualquer outra pessoa. Não faz sentido. Mas antes de pensar que o bom Max virou “fascista”, façam o favor de ler.

Uma sociedade de génios

O que sei eu da energia atómica? Pouco, quase nada.
Como posso eu escolher se a estrada nuclear for boa ou má para este País? Com a informação?

Mas qual? A dos media? A dos especialistas, muitas vezes pagos por fazer determinadas afirmações? A da informação alternativa, que mesmo por ser alternativa, sente-se às vezes em dever de estar “contra” por princípio?

Podemos alargar o discurso, pois o nuclear é apenas um exemplo.
O facto é que a Democracia cria povos de génios, que opinam acerca de tudo e mais algumas coisas. Com que bases? Eis o problema: sem base nenhuma.

Temos informação? Sim, temos. Até demais.
Que podemos fazer? Estudar todos economia para poder escolher o partido com o programa melhor? Depois todos engenharia para entender quais as opções mais válidas que são apresentadas? E a escola? O trânsito? A saúde? E a capacidade de gerir, onde pode ser aprendida?

É verdade: a Democracia cria a ilusão de que todos podem saber tudo.
Com o resultado oposto: todos sabem “um pouco” de tudo, o que é ainda pior.

E aqui estamos nós, enquanto problemas: em Democracia não há espaço para a ignorância, ninguém reconhece os próprios limites. Não estamos satisfeitos com o conjunto das nossas experiências (um bem muito, muito valioso): a Democracia obriga a ir além e enfiar o nariz em coisas que não percebemos.

Não percebemos porque não podemos perceber. Há pessoas que dedicam uma vida de estudo e pesquisa para entender e resolver determinados assuntos. Nós não: abrimos internet (que já não é mal) ou ligamos a televisão (e estamos feitos), e pronto, eis o novo especialista.

Resultados: todos temos a sensação de ser génios incompreendidos. E não importa se houver pessoas que, como lembrado, que perdem anos de vida sobre os livros para perceber apenas uma das tantas questões:
nós precisamos só comprar um jornal, que explica tudo.

Ou melhor: que transmite uma e parcial verdade das muitas disponíveis. Com isso, de repente absorvemos não apenas as nocções básicas como temos o direito de decidir em nome da sociedade.

E a sociedade não ajuda neste sentido. Sendo a Democracia o regime dos medíocres, é simples observar a classe política e concluir que não seria preciso muito para poder desenvolver as mesmas funções, até com resultados melhores.
O que é verdade: mas o que não percebemos é que é a classe dirigente a ser de baixo nível, não somos nós a ser génios.

Escola e mérito

Um problema que nasce desde a escola.
No furor igualitário, as escolas tendem a apagar as arestas, eliminar as deferências: homogeneizar os indivíduos.

E mesmo quem consiga distinguir-se, uma vez acabado o curso descobre que o mundo real funciona de forma bem diversa: não é premiado o melhor, mas aquele que conhece as pessoas justas, aquele cujos país sabem pôr uma gota de óleo na engrenagem correcta.

Os que estão atrás, que ainda estudam, percebem de forma rápida que aplicar-se não é a melhor maneira para emergir. Então o nível das exigências desce.

Eis que qualquer pessoa nasce já com as estigmatas do génio. Se uma criança não particularmente brilhante não é promovida, os país não admitem que sim, talvez o filho não seja um novo Einstein; pelo contrário, acusam a instituição de injustiça, de não compreender as necessidades do puto.

E a escola reage, baixando ainda mais as exigências.

Mérito? Para quê?
Se para ganhar um Prémio Nobel é precisa uma empresa disposta só a abrir os cordões da bolsa, alguém pode explicar porque carga de água temos de “merecer” as coisas?

Num mundo de anões, para passar debaixo do arco de triunfo é preciso dobrar-se, caso contrário o risco é de aleijar a cabeça.

Nosce te ipsum, “Conhece-te a ti mesmo”

Ainda uma vez, o que a sociedade tenta fazer (com sucesso) é remover a ideia de conhecer-nos.
É este o ponto principal.

Porque cada um de nós tem as próprias habilidades: mas num mundo homologado, estas ficam bem escondidas, é cada vez mais difícil que uma pessoa possa tomar consciência delas.

Os que são limites para um, podem ser pontos de partida para outro: mas num mundo onde tudo tem de ser estandardizado, como descobrir isso?

Quanto professores são hoje capazes de descobrir nos próprios alunos algo de diferente? E quantos tem a coragem de apoia-los na diversidade?

E se uma pessoa não tiver habilidade nenhuma? Qual o mal? Não há mal. Mas não é admitido.
Quantos pais hoje estão dispostos a reconhecer que o próprio filho afinal não passa duma pessoa “normal” e que se calhar a solução melhor é encontrar um trabalho e ponto final?

Esta é encarada como uma solução de emergência, para quem está no limite da demência.
Mas que há de demente em ser um bom trabalhador? Os grandes navegadores tinham nos próprios navios grandes marinheiros, sem os quais as descobertas nunca teriam acontecido. Gente que não tinha estudado nos livros, tinham feito da própria vida uma escola  E com sucesso.

E aqui a coisa fica paradoxal, porque se dum lado ser uma pessoa “normal”, apta para trabalhos humildes (reparem nesta última definição: como se existissem “trabalho nobres”, “menos nobres”, etc.), doutro lado a Democracia diz: “Tu tens que decidir o destino do teu País”.

Mas como?Antes são considerados inadaptados até para pegar num livro e depois devem decidir qual o rumo do mundo?

Que fique claro: não estou aqui a sugerir um mundo governado por uma “elite de sábios”, longe disso.
E nem estou a pôr em causa as capacidades das tais pessoas que desenvolvem “trabalhos humildes”.
A ideia é bem outra: realçar os conceitos sem sentido dum regime (o democrático) apresentado como a panaceia para todos os males.

A ideia duma “elite” é uma obscenidade.
E a verdade é que há falta de “trabalhos humildes”: qual rapaz hoje deseja ser agricultor?

Este último é um ponto doente.
Em Portugal, por exemplo, os campos são tratados por pessoas idosas, os jovens, quando podem, fogem para a cidade. Resultado: enormes extensões de terra abandonadas, cada vez mais importação de produtos do estrangeiro, técnica seculares que desaparecem.

Uma inteira civilização, a rural, que está a desaparecer, simplesmente abandonada.
Uma riqueza enorme deixada morrer.

Doutro lado, não era a ideia transformar a Europa num continente dedicado ao Terciário?
Então, agricultura e outros trabalhos manuais para quê?

E se alguém faz notar que desde sempre a agricultura foi a espinha dorsal das sociedades humanas, eis a acusação: “retrógrado”, no melhor dos casos, “fascista” nos outros.

Soluções: boh?

Como sair desta situação?
Difícil, muito difícil. Porque não é apenas mudar os hábitos, é preciso antes que as pessoas aprendam a conhecer-se.

O bom Max não tem soluções, eis um dos meus limites (horror!!!).

Mas algumas coisas podem ser ditas. 

Reconhecer a própria ignorância não é uma fraqueza, mas um acto de coragem. E quando juntamos a vontade de colmar as nossas lacunas, chega a ser heroico.

Reconhecer que não somos todos iguais é outro ponto importante. É a diversidade que cria riqueza, não a falta de diferencias. Porquê uma pessoa com inteligência “normal” (admito, não é simples definir o conceito de inteligência) ou até uma pessoa medíocre deve ocupar um cargo de responsabilidade quando para a mesma tarefa é possível encontrar elementos melhores?

Re-pensar o papel da escola: não uma máquina para uma aprendizagem única e universal, mas um lugar onde todos possam encontrar e exaltar as próprias propensões natural, sejam elas quais forem.

Simples? Nem por isso. Mas tentar não seria melhor de que as actuais instituições que constroem réplicas?

Não somos todos iguais, assim como as verdades não são todas iguais.
Não é verdade que ninguém tem o direito de julgar, não é verdade que somos todos bonitos, inteligentes, honestos, leais. e talvez nem haja algo de mal nisso.

O que é verdade é que todos podemos melhorar. Mas isso implica vontade e trabalho; que, ao mesmo tempo, não podem ser deveres. Quem demonstrar esta vontade e este trabalho tem de ser recompensado: eis o mérito.

Até quando o mundo estará nas mãos dos medíocres (que, infelizmente, em parte nós elegemos…), a Democracia continuará a ser apresentada qual única e melhor solução possível. E não haverá esforços sérios para encontrar novas soluções. Continuaremos a viver presos numa Democracia que não existe e nunca existiu.

Ipse dixit.

6 Replies to “Todos iguais, todos diferentes. Democraticamente.”

  1. É difícil Max.

    Num mundo onde a concorrência é o verbo.
    Enquanto existir campeonatos, concursos e qualquer coisa que induza as pessoas a serem melhor do que as outras, Olimpíadas, Futebol, Prêmio Nobel, Oscar, todos disputando e querendo ser os melhores do mundo, e com isso a rivalidade vai crescendo, e começa a disputa de opinião, e as pessoas deixam de ser diferentes para serem “iguais”.

  2. Isto é uma verdade absoluto, todos somos diferentes, tal qual é que no fim do caminho todos morremos.
    E realmente escola forma clones, e inibe "gênios" de inúmeras modalidades de conhecimento e por ultimo e pior, faz a pessoa normal se sentir nada menos que lixo.

  3. olá Max: escolas não vão mudar nunca, vão desaparecer. Isto já está em curso com a educação à distância. E sabe quando que elas desaparecerão? Quando não forem mais necessárias? E sabe quando que elas não serão mais necessárias? Quando e onde a homogeneização do pensamento, das atitudes e das ações humanas ficarem garantidas pela educação promovida pelos meios de comunicação e entretenimento por um lado e pelo sistema de controle policial por outro. E isto está claramente em curso. Não há o que se preocupar com as escolas, nem perder tempo pensando nelas. Servem exclusivamente no momento para manter classificadas as pessoas em mandadas e mandonas, uma espécie de controle civil de filhos e famílias e também filhos de ninguem, que estão aí esperando que as "baias" sejam abertas e eles despejados no mundo do não trabalho, do não pensamento, do consumo, da competição, da mentira, das crenças absurdas, dos medos e pavores, das doenças e dos anestésicos físicos e morais, e pronto: cumprirão sua função neste mundo. Abraços

  4. É M, mais uma excelente reflexão "by" Max. O ponto importante é que, desde que se começou a plantar o conceito de "democracia é o melhor", que não pararam mais a plantação e hoje ja sefaz o arado da terra e se cavam as covas com BOMBAS, "HUMANITÁRIAS, sejamos justos" e como a água não esta tão abuntante se rega a plantação com sangue que é mais barato e de quebra ainda servirá de adubo. Afinal o fruto dessa plantação que está sendo apurada "genéticamente falando" é uma nova geração de cegos e idiotas, homogenizados o que será mais fácil de controlar.Se tudo der certo. Se não tiver mais um monte de"MAX" tentando sabotar e sacudir para acordar quantos puder.
    Um abraço.

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