Downgrade: mas que significa? (E olho aos mercados)

Os Estados Unidos perderam a AAA. Mas que significa isso?

O Dólar é a moeda de referência do planeta. Se quisermos comprar ou vender petróleo, açúcar, milho, a transação é feita em Dólares.

Há alguns casos de acordos bilaterais, nos quais é possível utilizar outras moedas, mas no geral o Dólar manda.

Por isso todos os Países têm que ter nos próprios cofres uma reserva em Dólares. A melhor maneira de acumular Dólares é adquirir Títulos de Estado Americanos, os Treasury Bonds ou simplesmente T-Bonds.

Baixar o rating dum País significa devalorizar os seus Titulos; e, de facto, agora os T-Bond valem menos do que os homólogos canadianos, por exemplo. Isso significa que os bilhões de Dólares em reservas ao redor do mundo sofrerão uma desvalorização.

O que implica a necessidade de reequilibrar, a partir de amanhã, Segunda-feira. Ou seja hoje para quem está a ler. Mas amanhã para mim, que estou a escrever às duas e meia da manhã. Que depois é já Segunda, por isso “hoje”, mas como tenho ainda que dormir para mim é amanhã, não sei se rendo a ideia…ok, não interessa.

Pode parecer complicado mas não é.


Muitos fundos pensões, por exemplo, têm obrigatoriedade de deter apenas títulos avaliados como AAA. Nada de T-Bonds dos Estados Unidos, então, e a necessidade de substituí-los com algo de mais sólido.

E aqui já podemos intuir a razão da raiva americana: a Federal Reserve terá mais dificuldades em despachar os Títulos de Estado; e mais dificuldade em vender Títulos significa mais dificuldade em colectar dinheiro para enfrentar a enorme dívida da Administração.

Além disso, vários milhares de bilhões de Dólares são utilizados como garantias: também estes agora deverão deixar espaço para outras formas de garantias, também aqui mais sólidas.

Depois, como já vimos na Europa, após um downgrade governamental, segue em breve o downgrade dos bancos e das empresas nacionais: Goldman Sachs, Citigroup, Bank of America, Intel, General Electric, Coca Cola…

Olho aos mercados!

Quais os reflexos nas Bolsas, já a partir de hoje? Ninguém sabe responder ao certo, pois estamos perante algo que nunca tinha acontecido antes.

Com certeza haverá taxas de juros maiores e esta não é uma boa notícia para os Países com muita dívida pública: mais juros significa uma dívida maior. Os Países já falidos da Zona Euro mas também os em dificuldades (Espanha e Italia) não podem ficar satisfeitos com o downgrade de Washington.

É preciso perceber o que fará a Federal Reserve: começará a imprimir dinheiro na esperança de reanimar a economia e em vista das dificuldades que, como vimos, terá na altura de vender os próprios Títulos?

Mas ao imprimir dinheiro o Dólar perderia valor (mecanismo da inflação, lembram? Não? Então leiam aqui).
Dólar mais débil, Euro mais forte: e exportações europeias em maus lençóis.

Seriam necessários novos cortes para tentar reduzir a dívida (crescida por causa dos juros mais altos e com perspectivas negativas por causa da queda das exportações).
Mas novos cortes nesta altura significa um bilhete de só ida com destino recessão; se para Portugal não é um problema (difícil que a economia possa piorar, já está no fundo), poderia ser fatal em outros casos (outra vez: Espanha, Italia, mas também Bélgica).

A tempestade perfeita? Talvez.

Acabamos de ultrapassar o ponto de não regresso?
Talvez sim, talvez não. Talvez quando no ano passado alguém falava de recessão em W (ou Double Dip) não estivesse tão longe da realidade.

Panic selling, todos que vendem nas Bolsas? Se assim for, então isso irá somar-se às desastrosas perdas da semana passada. Poderia ser o começo de algo de “grande”? Poderia. Mas é uma hipótese, uma entre muitas. Também pode acontecer nada de especial (pessoalmente não acredito nisso).

Há os ingredientes para uma “tempestade perfeita“, isso sim, ma não existem previsões certas.
A única coisa que podemos afirmar é que:

  • o dia de hoje será febril nos mercados
  • este sistema está a desmoronar, cada vez mais.

Não seria mal lembrar disso da próxima vez que será decidido entregar a moeda (e com ela o nosso futuro) nas mãos dos perturbados mentais que hoje chamamos Federal Reserve, Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional…

Entretanto lembramos das seguintes datas:

Fevereiro de 2010: A Grécia é sólida

9 de Fevereiro de 2010, vários: “A Grécia não precisa da ajuda do FMI”
5 de Março de 2010, Merkel: “A Grécia não precisa de ajudas”
22 de Março de 2010, Papandreu: “A Grécia não precisa do socorro da Europa”.
02 de Maio de 2010: primeiro acordo para salvar a Grécia.

Setembro de 2010: A Irlanda é sólida

30 de Setembro de 2010, Junker: “A Irlanda não precisa do Fundo europeu”
16 de Novembro, Bruedrle: “A Irlanda não precisa de ajuda”
29 de Novembro de 2010, acordo para o resgate da Irlanda.

Novembro de 2010: Portugal e Espanha são sólidas

27 de Novembro de 2010, Barroso: “Espanha e Portugal não precisam de ajudas”
27 de Novembro de 2010, Sócrates: “A economia portuguesa é sã”
2 de Dezembro de 2010, Zapatero: “A Espanha não irá precisar da ajuda europeia”
03 de Maio de 2011, acordo para o resgate de Portugal.

Julho de 2011: Italia é sólida

18 de Julho de 2011, European Banking Authority: “Os bancos italianos são sólidos”
03 de Agosto de 2011, Berlusconi: “A economia italiana é sólida”
05 de Agosto de 2011, Merkel: “A Italia é demasiado grande para ser resgatada”.

Ehi, falta uma linha aqui…por enquanto.

Que tristeza: meio mundo está em chamas, três quartos acabou o dinheiro e na televisão não passa nada de interessante…

Ipse dixit.

Fontes: Bimbo Alieno, Informazione Scorretta

3 Replies to “Downgrade: mas que significa? (E olho aos mercados)”

  1. Exatamente. Sabendo utilizar a história, podemos ser praticamente videntes. Os erros se repetem, mudam personagem, data e motivo.

    Abraço.

Obrigado por participar na discussão!

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