Senhoras e Senhores, Leitoras e Leitores, Amigas e Amigos, Portugueses e não Portugueses, Italianos no estrangeiro, apresento-vos um artigo do inventor do Grande Concurso Saraiva: é ele…como se chama? Ah, pois: Saraiva!

A verdade é que Saraiva envia um texto bem complicado. Não no sentido gramatical ou sintático: complicada é a questão de fundo: existe Deus? E se sim, quem é? Qual é? Qual deve ser o nosso relacionamento com Ele?

E haveria ainda mais perguntas. Mas antes vamos ler o texto.

Peço o favor de ler:

Quem somos nós?

Sempre me questionei sobre quem somos nós seres humanos?

Qual o nosso papel naquilo que chamamos de vida e qual o objectivo de tudo isto?
É verdade que nunca foi uma coisa que me questionasse diariamente, pois quando digo que “sempre” me questionei, refiro-me ao facto de ter sido uma questão constante ao longo da minha vida, desde que me lembro de ter tomado consciência e ter durado até à bem pouco tempo, altura em que assumi uma doutrina e percebi o grande quadro de tudo isto.
Uma coisa me apercebi que é transversal a toda a gente – as questões existenciais. Toda a gente se questiona, ou se questionou em alguma altura da vida, sobre o assunto e cada um toma a sua posição baseando-se nas suas crenças.

Deus e a Igreja
“Se te portas mal, vais para o Inferno.” – Uma sentença que facilmente sai da boca de um qualquer católico devoto.
Esta alegoria com a dualidade Inferno-Céu governou a minha cabeça durante uma fase crítica da minha vida – infância e pré-adolescência (seja lá o que isso for). Cheguei a frequentar a igreja, inclusive fui acólito, pois percebi que existe realmente em todos nós um sentimento de algo espiritual e superior, mas nunca percebi bem o quê, e na tentativa de colmatar essa falta de sentido na vida, dediquei-me a perceber os ensinamentos da igreja (católica).
Afinal, quem é, ou o que é Deus?
Nessa altura, só sabia que era algo que me castigava se me portasse mal, mas que ficava contente quando me portava bem. Pouca mais sabia além disso…
“Não faças aos outros o que não desejas que te façam a ti”
Depois de muito reflectir, conclui que aquilo que estava a aprender na igreja se baseava nesta frase muito simples:
Não faças aos outros o que não desejas que te façam a ti.
Frase que ainda hoje é uma parte fundamental do meu ponto de vista no que toca à relação com os outros e com o meio envolvente.
Na minha adolescência acabei por abandonar a igreja, pois para além de não responder às minhas perguntas, não faria sentido eu seguir um movimento que permite/defende coisas como:
  • Poder e riqueza nos líderes da igreja
  • Absolvição do “pecado” pela prece, permitindo a reincidência
  • Ressureição
  • Deus imutável, justo e infinitamente misericordioso, mas que afinal faz um julgamento final (Céu-Inferno) sem misericórdia
São quatro alíneas, mas são muito importantes.
Desta forma, decidi conter a mensagem de Cristo e adaptá-la à minha vida. Tornei-me o chamado “Católico não-praticante”.
Ainda assim, apesar de me sentir um pouco mais orientado, ou seja, sei que devo respeitar os outros e ajudá-los no que puder, continuo com a mesma questão: qual é a finalidade?
Onde é que encaixa tudo isto?
Se no final existe supostamente um juízo final, onde encaixa tudo?
Se a caridade é a salvação, como se salvam aqueles que não têm nada e nascem com doenças graves dependentes de tudo e todos estando impedidos de ajudar alguém? Vão para o Inferno? Vão para o Céu?
E uma criança que morre à nascença? Não seria injusto, com tão pouco tempo de vida ganhar o Céu, enquanto outros vivendo na Terra imenso tempo têm mais hipóteses de falhar e irem parar ao Inferno?
Enfim, um pequeno exemplo de uma vasta série de questões…
A Descoberta
Eis que a certa altura da vida, me deparo com uma série de ocorrências que me levam a conhecer uma doutrina – A Doutrina Espírita.
Esta doutrina reúne uma série de conhecimento moral e espiritual que finalmente me deixou mais esclarecido.
Reunida inicialmente numa série de livros denominada de Codificação de Allan Kardec, a colecção dos mesmo foi escrita por espíritos através de médiuns em vários locais do Mundo.
Esta doutrina, revela logo algo muito importante: o espírito – nós somos espíritos e vivemos encarnados (no corpo) para fazer uma viagem terrestre de aprendizagem.
Quando desencarnamos (morremos), só o corpo padece, mas nós continuamos seres individuais, com o mesmo conhecimento intelectual e moral que nos define.
A doutrina, tal como algumas outras religiões, dá a conhecer a reencarnação e o carma.
  • Reencarnação: espírito que volta a nascer no planeta Terra para uma nova caminhada terrestre. Difere da ressureição, pois esta última defende a utilização do mesmo corpo, o que é impossível pois os seus compostos desagregam-se aquando da morte;
  • Carma: carga de dívidas morais que devem ser resgatas (Como? Fazendo o bem).
(A doutrina tem muito mais para saber, mas falo apenas desta parte para não fugir muito ao âmbito do artigo.)
Sendo assim, obtive uma resposta plausível para o resto das minhas questões.
Resumindo:
  • Devo viver numa base de Caridade e Amor ao próximo, tentado repudiar os maus intintos animalizados sendo o pior deles o egoísmo;
  • Não fazer aos outros aquilo que não gostaria que me fizessem…mas também tentar sempre fazer aos outros o que gostaria que me fizessem;
  • Deus é imutável é um conjunto de Leis que regem o Universo, não é palpável;
  • O Amor e o sofrimento são oportunidades de evolução;
  • Devemos instruir-nos no bem e praticar o mesmo – o mal que fizermos (principalmente de forma consciente), será adicionado à nossa carga cármica;
  • Nascer, morrer, renascer…tantas vezes quanto for necessário – tal é a lei.
Isto é aquilo em que acredito, para mim, isto é o que faz sentido.
Explica, por exemplo, porque é que há pessoas que nascem na miséria: estas têm carma para resgatar ou aprendizado a fazer na Terra enquanto encarnados.
Assim sei que Deus é justo, que o nosso bem estar e dos outros depende de nós e que nada no Universo acontece por acaso – tudo atende a um propósito divino. É isso que me dá fé quando me deparo com situações difíceis, quer sejam problemas do dia-a-dia, quer seja simplemente um dia mais triste.
O Próximo Passo

Para finalizar, e porque não quero ser acusado de vos tentar dar uma lavagem qualquer, fica uma nota daquilo que acho que devemos fazer como humanidade.

Independentemente das crenças de cada um, devemos fazer aquilo que a nossa consciência nos diz que está certo, quer acreditemos em Deus, Alá, Osíris ou qualquer outra divindade.
A base da evolução da humanidade está na caridade e essa não tem nome, cor, partido, ou qualquer outro tipo de filiação. Não devemos ter medo, mas sim fé de que um dia todos seremos mais esclarecidos e compreenderemos o papel da nossa existência.
Eu não vos posso impingir que descobri a verdade, pois essa, ninguém sabe até ser vivenciada. Mas descobri uma fonte das minhas forças. E a meu ver, toda a fonte de bondade é um argumento válido para nos inspirar no dia-a-dia.
Sejam vós mesmos, questionem, estudem e pratiquem o bem…tal como quereriam que fizessem a vocês mesmos.

Gostaria em primeiro lugar de agradecer Saraiva.

É o segundo texto que o blog recebe em poucos dias e uma coisa que devo realçar é que ambos “deixam uma marca”: não interessa o estilo, o que interessa é o que “sentimos”. E em ambos os textos sentimos que há uma história atrás, uma experiência pessoal.

Eu acho isso muito bonito.

Depois há a questão religiosa. Não vou comentar nada neste sentido, pois há bem pouco a comentar: estamos num âmbito pessoal, feito de crenças, de escolhas, de reflexão, de emoção.

Mas acerca dalguns passos acho que ninguém possa encontrar nada a dizer:

Não faças aos outros o que não desejas que te façam a ti.
Imaginem se este princípio fosse aplicado a nível global: seria um autêntico Paraíso em Terra.

Caridade. 
Eis um assunto acerca do qual nunca falei. E reconheço ter sido uma minha falha, pois o conceito de caridade é extremamente importante.

Não é por acaso que esta ideia é presente em todas principais religiões, pois saber dar não é um dom, é uma dádiva: quem consegue encontrar mais satisfação no “dar” em vez do que no “receber” está perto não da santidade, está perto de entender a essência das nossas existências.
(Obrigado Saraiva por ter-me lembrado disso) 

Não devemos ter medo, mas sim fé de que um dia todos seremos mais esclarecidos e compreenderemos o papel da nossa existência.
Outra afirmação com a qual me identifico sem dúvida.

Uma religião ou uma existência baseada no medo é bem pouca coisa. O medo não pode ser o álibi duma fé ou uma razão de vida. E medo de quê afinal? Das chamas do Inferno? Além do calor, não pode se muito diferente da existência que muitos homens são obrigados a conduzir.

E, por fim, uma nota pessoal acerca dos Espíritas.
Isso é esquisito, pois com uma certa regularidade a Doutrina Espirita surge no meu caminho, desta vez “camuflada” de Saraiva.
Será o caso de dedicar algumas linhas ao assunto, cedo ou tarde e se os Leitores assim desejares.

Saraiva? Obrigado!!!

Ipse dixit.

8 Replies to “”

  1. Parabéns pelo texto Saraiva!

    Este tema ou assunto me fez lembrar de um post que vi esta semana:

    http://revelatti.blogspot.com/2011/05/nossa-genesis-e-o-hexagrama.html

    O post também é muito interessante e trata das crenças Sumérias, do povo da Mesopotâmia. O primeiro povo a se organizar como sociedade.
    Também inventaram a escrita e com isso registraram a história de seus Deuses criadores.

    Muitos afirmam que a lenda Súmeria foi a base para muitas outras religiões.

  2. Olá Max,

    antes de mais, obrigado pela publicação do artigo. Vejo que afinal consigo atingir os mínimos exigidos pelo implacável jurado – LEO. 🙂

    Depois, no que toca à doutrina, se quiseres (ou mais alguém quiser) conhecer um pouco mais, é só perguntar, que terei todo o gosto em ajudar no que puder.

    Abraço,
    — —
    R. Saraiva

  3. Para reflexão sobre crenças e nossa criação e etc, deixo esta notícia que vi hoje pela manhã:

    http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI5259414-EI8147,00-Cientistas+temem+que+pesquisas+medicas+criem+macacos+falantes.html

    Será que também poderíamos ser resultado de uma experiência genética com macacos?

    Homens e chimpanzés apresentam
    99,4% de semelhança em seu DNA ,
    o homem tem 46 cromossomos e o gorila, o chimpanzé e o orangotango têm 48 cromossomos.

    Homens – pares de 23 cromossomos, 23 + 23 = 46

    Macacos – pares de 24 cromossomos,
    24 + 24 = 48

    Deixo a questão para reflexão.

  4. Durante a minha curta existencia na Terra varias vezes me questionei sobre isso. Em diferentes fases da minha vida acreditei em teorias diferentes. Ja fui completamente ateu mas agora considero-me agnostico. Acredito que exista um criador( nao um ser regulador e interventivo), mas entre nos e esse ser existem imensas camadas de abstracao. Nao sigo nenhum livro ou doutrina religiosa e sou da opiniao que a maioria das religioes institucionalizadas sao apenas um negocio ou ferramenta para controlo de massas. Certamente que existem muitas pessoas boas ligadas a instituicoes religiosas e que acabam por ser bastante importantes nas comunidades em que estao inseridos. Promovem a comunicacao , solidariedade e caridade entre as pessoas. Apenas acho mal que as pessoas se limitem aos dogmas instaurados por essas mesmas instituicoes, o que acaba por condicionar a sua existencia. Enfim, dogmas sociais ainda sao muito abundantes e recorrentes, nao e’ exclusivo das entidades religiosas e nos como ser pensante devemos de nos questionar constantemente sobre a existencia dos mesmos.

    Ja discuti esse tema diversas vezes com o Saraiva, e ate ja li o livro do Allan Kardec. E' uma leitura bastante interessante e que catalizou uma serie de questoes de natureza variada. Sou um pouco mais pragmatico e preciso de uma prova mais evidente no que toca a existencia de um submundo espiritual. Gostaria que as teorias espiritas fossem verdadeiras pois assim teriamos um objectivo global e pessoal. O mais importante sao os tracos gerais que realcaste, que sao independentes do espirtismo existir ou nao – deveremos de ser caridosos e bons para o proximo e viver em sociedade de forma harmoniosa e respeitadora.

    O aproveitamento da tecnologia deveria de ser redireccionado para o bem e nao para o mal. Se e’ verdade que temos mais e melhor tecnologia para curar mais vidas, tambem nao deixa de ser verdade que temos “melhorado” a tecnologia que permitira’ a nossa extincao. Ja faltou menos para chegarmos ao dia em que baste carregar num botao para acabar com a vida na Terra e com isto pergunto-me se estaremos a caminhar na direccao certa…

    Um bem haja ao meu amigo Saraiva por me fazer ver a vida de um prisma diferente:)

  5. Bem, eu não quero ser do contra, mas muito do que é ensinado no chamado "espiritismo" não é conhecimento espiritual, mas simplesmente sensatez e sabedoria, hoje bastante esquecidas. "Não fazer aos outros o que não gostamos que nos façam a nós", por exemplo…não é não mais do que uma regra básica de educação explicada de forma simples. É como dizer "trata os outros como gostas que te tratem a ti", que se todos fizerem o mesmo, o resultado vai ser bom para todos.
    Não tem a ver com "espiritismo", apenas com princípios.

  6. @Anónimo: Tens algum razão amigo, tanto que no meu texto, declaro que ainda antes de conhecer a doutrina, já adoptava esse ideal.

    E não esquecer uma coisa, eu apenas relatei uma parte muito infíma da doutrina. Quando dizes "muito do que é ensinado no chamado "espiritismo" não é conhecimento espiritual, mas simplesmente sensatez e sabedoria", tocas na questão moral da doutrina, que sim, pode dizer-se que resume-se a Amor e Fraternidade, mas o espiritismo é dá a conhecer mais que isso, dá-te a conhecer um mundo muito mais vasto e com uma razão de ser para tudo. Explica, por exemplo, como os teus actos e postura menos digna, pode afectar-te espiritualmente e trazer consequências para o teu corpo físico.

    Acho que é algo interessante de estudar, mas digo mais uma vez: lá porque fez sentido para mim, não tem de fazer sentido para os outros – cada um tem o seu livre-arbítrio de pensar e escolher.

    Um abraço caro amigo,
    — —
    R. Saraiva

  7. "Não faças aos outros o que não desejas que te façam a ti."

    "A sua liberdade acaba onde começa a do próximo."

    Excelente texto Saraiva. E se essa frase, se essa premissa fosse seguida, o mundo não seria o que é.

    Sou ateu. Estou longe de concordar com qualquer religião ou qualqer doutrina.

    Pelo simples motivo: sou cético. Espiritismo. Pode fazer sentido. Mas é especulação. Tratamento com florais… pode fazer sentido mas é especulação… Big Bang? Pode fazer sentido… mas é especulação… Teoria das cordas? Pode fazer sentido… mas é especulação…

    Não vou seguir uma doutrina que faz sentido, porém não é calçada em nada concreto, só por que ela reconforta minha vida.

    Eu não tenho medo das dúvidas. Eu não temo o acaso. Eu acredito que tudo é fruto dele.

    Alguém nasce na miséria, pois os pais não criaram oportunidades de superar isso.

    Não estou falando que não existe espírito ou que não existe deus. Da mesma forma, não sei se existem extra-terrestres ou se o terremoto do Japão foi natural. Não há como saber e ponto. Siga em frente!

    De qualquer forma, gostei muito do texto. Parabéns Saraiva!

  8. Todo esse negócio de religião só existe pelo mistério da morte, se não houvesse morte, se fossemos imortais ou tivéssemos a certeza do que aconteceria após a morte, a religião não teria espaço, não sobreviveria.

    Temos que ter a coragem de encarar a morte como algo natural e como a maior certeza que temos. Não somos eternos, então, vamos cuidar de nossas vidas e das vidas dos outros com muito carinho e respeito, pois a vida é valiosa e não podemos desperdiça-la.

    abraço a todos

Obrigado por participar na discussão!

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