A Líbia, a França, a Nato: trinta e um anos atrás.

No passado mês de Abril, Informação Incorrecta publicou um artigo acerca de Ustica, um dos episódios mais obscuros da aviação civil e militar não apenas italiana mas da Nato dos últimos 30 anos.

Para os leitores mais curiosos eis o link do artigo original: 30 anos, o fio vermelho.
Para os leitores mais preguiçosos, eis um breve resumo.

No dia de Sexta-feira, 27 de Junho de 1980, o voo Itavia 870 com 81 pessoas entre passageiros e tripulação deixou o aeroporto de Bolonha, no Norte de Italia, com destino Palermo, no Sul; mas o avião nunca chegou, tendo misteriosamente desaparecido dos radares uma vez chegado nas proximidades da ilha de Ustica, cerca de 70 quilómetros a Norte de Palermo.

Passados 31 anos, ainda não são conhecidas as causas do desastre, que não registou sobreviventes.
Mas esta não foi uma “normal” tragédia da aviação civil: foi uma operação de guerra que envolveu forças italianas, americanas e francesas dum lado e o leader líbio Khadafi do outro.

Embora do ponto de vista oficial ainda não exista uma explicação definitiva, a teoria mais acreditada já tem contornos definidos: o leader líbio estava num avião naquela noite, com destino uma capital europeia.

O voo Itavia 870 teve o azar de comparecer no lugar errado na altura errada: não havia Khadafi, mas pessoas comuns, migrantes, turistas, crianças.

Caças militares, provavelmente franceses, tinham deixado o aeroporto de Solenzara, Córsega (França): uma vez chegados no lugar onde supostamente tinha que transitar o avião líbio, encontraram o Itavia 870 e, simplesmente, dispararam.

O que aconteceu a seguir foi digno dum livro de espionagem. Um único objectivo: evitar que a verdade fosse tornada pública. Ninguém podia saber que a Nato matou deliberadamente 81 civis, numa acção de guerra contra um País com o qual não estava em guerra.

  • O Marechal Mario Alberto Dettori estava de serviço na noite do acidente e tinha confessado à própria mulher: “Estou muito perturbado…Aconteceu algo de muito mau…aqui muitos vão ficar presos”. Enforcou-se em 1987. 
  • O Marechal Franco Parisi também estava de serviço no dia 18 de Julho de 1980 quando, supostamente, um caça líbio Mig despenhou-se contra as montanhas da Sila, Calabria. Um acidente particularmente estranho (o que faz um Mig líbio na Calabria, sem autonomia suficiente para a viagem de regresso, poucos dias após o acidente do Itavia? E, sobretudo, com um piloto em estado de decomposição?), para o qual Parisi tinha testemunhado uma primeira vez, com muitas contradicções, e para o qual tinha sido novamente convocado. Enforcou-se antes de poder testemunhar uma segunda vez, em 1995.
  • Coronel Pierangelo Teboldi, prestes a assumir o comando do aeroporto militar de Grosseto, um dos poucos com um radar que tinha gravado os acontecimentos no céu de Ustica. Morreu num acidente de viação, em 1980.
  • Capitão Maurizio Gari, chefe da sala operativa da defesa Aérea do 21º CRAM (Centro Radar Aeronáutica Militar), em serviço no dia do acidente Itavia. Enfarte, apesar da jovem idade, em 1981.
  • Marechal Ugo Zammarelli, em serviço no dia do acidente no SIOS (Serviço Informativo) da Sardenha, acidente de viação em 1988.
  • Marechal Antonio Muzio, em serviço na torre de controlo de Lamezia Terme na noite de tragedia. Homicídio, em 1981.
  • General Roberto Boemio, tinha conhecimentos importantes acerca dos casos do voo Itavia e do Mig líbio. Homicídio em 1993, na Bélgica, onde a magistratura local ainda não conseguiu resolver o caso.
  • Major Médico Gian Paolo Totaro, entrou em contacto com muitos dos militares envolvidos no acidente da Itavia, como no caso do Marechal Dettori. Enforcou-se em 1994.
  • Marechal Antonio Pagliara, em serviço no 32º CRAM no dia da tragédia. Acidente de viação em 1992.
  • Coronel Mario Nandini e Coronel Ivo Nutarelli, no dia da tragédia encontravam-se em voo num caça F-104. Ao passar perto do voo Itavia, emitiram um sinal de alerta (código 73, emergência geral) relativo à segurança aérea. O alarme foi disparado 3 vezes, mas nem Aeronáutica militar italiana nem a Nato explicaram alguma vez o sentido daqueles alarmes. Nandini e Nutarelli morreram em Ramstein (Alemanha), em 1988, durante uma representação das Freccie Tricolori, a patrulha acrobática da força aérea. No acidente morreram mais de 60 espetadores e dois pilotos italianos: Nandini e Nutarelli.
  • Giovanni Battista Finetti, Presidente da Câmara de Grosseto, tinha informações julgadas pelos investigadores como relevantes acerca do acidente Itavia. Morreu em 1983, num acidente de viação.

Voltamos a falar do assunto porque é bom não esquecer que tudo isso também é Nato; e porque existem novidades.

Após 31 um anos e um longo rasto de morte, os tabulados do radar de Grosseto mostram finalmente o que aconteceu: caças militares da Armeé de l’air (França) deixaram o aeroporto militar de Solenzara, Córsega (França); e voltaram só depois do Itavia ter sido abatido.

Mais: os radares gravaram também a presença na zona dum outro avião militar, um avião radar Awacs de nacionalidade desconhecida, gravando assim os acontecimentos. os Awacs fazem parte das aeronáuticas dos Estados Unidos, da Nato, da RAF (Reino Unido), Armée de l’air (França) e Israeli Air Force.

Mas Paris sempre negou, e continua a negar apesar das evidências, que no dia 27 de Junho de 1980 houvesse aviões a voar no mar Tirreno (o mar de Ustica), afirmando até que o aeroporto tinha interrompido qualquer operação muito antes do acidente.

Interessante. Assim como interessante foi a insistência francesa na operação “humanitária” contra a Líbia nestes meses. Sarkozy foi, de facto, o mais impulsionador entre os Países europeus da Nato.

30 anos depois, a França continua o ataque à Líbia, tendo como aliada, ainda uma vez, a Nato.

Ipse dixit

Fonte: Il Corriere Della Sera

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