“Possivelmente cancerígenos”

A Organização Mundial de Saúde (OMS) descobriu a água quente.

A radiação vinda dos telemóveis foi esta terça-feira classificada como um “possivelmente cancerígena para humanos”, segundo uma nota divulgada pela OMS.

Parabéns.
Após dos meios de contrainformação de meio mundo terem lançado alertas e, sobretudo, após ter difundido o telemóvel em todo o planeta, eis a grande revelação.

Esta conclusão baseia-se numa avaliação conduzida pela Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro (IARC, nas sigla em inglês), uma organização da OMS que se dedica a classificar diferentes substâncias, de químicos a alimentos, conforme o seu risco de provocar cancro.

Nos últimos oito dias, um grupo de trabalho de 31 cientistas de 14 países esteve a analisar os artigos científicos existentes e outras informações relevantes sobre campos electromagnéticos de várias fontes.

O grupo de trabalho concentrou-se em três tipos de problemas: exposição ocupacional a radares e micro-ondas, exposição ambiental associada a antenas de telecomunicação, e exposição pessoal a telemóveis.


Eis os “cientistas”.
Pessoas que até hoje nunca tinham reparado no assunto. Mas que, de repente, são fulminados por uma dúvida: “será que as onda fazem mal?”.

Para os radares, micro-ondas e antenas, os investigadores não encontraram provas de associação ao cancro.

Antenas? As mesmas que temos instaladas nos prédios para a cobertura da rede telemóvel? E porque deveriam causar problemas? Afinal recebem, amplificam e re-transmitem as mesmas ondas utilizadas pelos telemóveis.

Mas para os telemóveis, há evidências “limitadas” de uma relação entre a radiação emitida e dois tipos de cancro: o glioma, que se desenvolve a partir de células do sistema nervoso chamadas células da glia, que é maligno, e outro cancro que se desenvolve a partir dos nervos acústicos – o neuroma acústico – que é operável.

Pensando bem: o neuroma acústico é operável.
Nada de pânico.

A classificação dada pela IARC é a de que o “agente [a radiação vinda dos telemóveis] é possivelmente cancerígeno para os humanos”.

“Possivelmente”?

A classificação de “possível cancerígeno” é a terceira mais afirmativa da escala da IARC. A agência da ONU diz que uma substância é “cancerígena” quando há provas científicas suficientes de uma relação directa entre a exposição ao agente e um ou mais tipos de cancro em humanos.

“Provavelmente cancerígeno” é uma classificação aplicada a situações em que há limitadas provas de associação com cancros em humanos, mas suficientes evidências em estudos com animais. “Possivelmente cancerígeno” vem a seguir, significando uma primeira indicação de que o agente em causa pode provocar cancro.

Já vimos este filme. E conhecemos o desfecho.

É só deixar passar alguns anos.
Os casos de glioma e neuroma acústico irão aumentar. Então alguém lançará o alarme: o verdadeiro alarme, não como este. “Os telemóveis fazem mal, temos as provas; é preciso trocar os vossos aparelhos por os novos de última geração”.

Porque entretanto as empresas produtoras terão desenvolvido uma nova geração de telemóveis, mais amigos do ambiente e do homem. De repente, o nosso velho telemóvel será um objecto perigoso e nós seremos “obrigados” a troca-lo por questão de saúde.
E com a saúde não se brinca.

O mercado, já saturo, conhecerá uma nova Primavera.

História velha.
Mas funciona sempre.

Nota final

Para os mais curiosos: no passado Fevereiro, Informação Incorrecta publicou um artigo acerca do trabalho de pesquisa do Professor Girish Kumar, do Indian Institute of Technology de Bombay, Índia, e Director da Wilcom Technologies Pvt. Ltd. em Navi Mumbai.

O prof. Kumar e a sua equipa na altura disponibilizaram os relatórios e as conclusões dos trabalhos, cujos resultados podem ser encontrados no artigo Telemóveis, antenas e radiações prejudiciais

Ipse dixit.

Fonte: Público

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