Visões do futuro: A Estrada da Pérsia – Parte II

Terceira parte destas Visões do Futuro e segunda parte do Wich Path to Persia?

Confuso? Um bocado.
Poderia ter feito Wich Path to Persia 1 e 2 e dedicar à entrevista com Massimo Fini um post separado? Poderia. Mas não seria a mesma coisa. Ficaria mais ordenado.

Ok, já percebi, vou renomear tudo. Mas por enquanto eis a terceira parte.
Ou segunda. Façam vocês.  

Dedicado a Suzete e a todos aqueles que apenas traduzem.

Página 66: A frente unida contra o Irão
(Pág. 79 do Pdf)

A maioria dos Europeus, Asiáticos e do público do Médio Oriente é firmemente contrária a qualquer acção militar dos EUA contra o Irão, que possa resultar das diferenças entre o Irão e a comunidade internacional, independentemente daquelas entre o Irão e os Estados Unidos.

Sem um 11 de Setembro patrocinado por Teheran, é difícil imaginar o que poderia fazer mudar as ideias.

Em muitas democracias e algumas débeis autocracias que Washington deve procurar apoiar, essa antipatia do público pode ser decisiva.

Por exemplo, a Arábia Saudita está muito preocupada com os programas nucleares do Irão, assim como com a sua conduta perigosa no Líbano, no Iraque e nos territórios palestinianos. Até agora, Riade deixou claro que não quer apoiar operações militares de qualquer natureza contra o Irão. Tudo isso poderia mudar, mas é difícil imaginar como.

Dado que a situação não permite empurrar o GCC [Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo: reúne Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Kuwait, NDT] para apoiar as operações militares contra o Irão, o que poderia conseguir isso? Certamente o Irão que testa um dispositivo nuclear, mas naquela altura quase certamente seria tarde demais: se os EUA invadirem o Irão, isso deverá ser feito antes do Irão possuir armas nucleares, não depois.

É difícil saber o que poderia fazer o Irão caso os novos leaders não conseguissem tomar o poder nos Países do Golfo, (leaders) que estariam muito mais propensos a travar o Irão de quanto não aconteça com os de hoje no poder.

Estes dois parágrafos deveriam ser incluídos em qualquer manual escolar, de cada ciclo;  as crianças deveriam ser obrigadas a aprender isso, palavra após palavra, de cor, mesmo sem poder perceber o sentido. Um dia teriam a capacidade de perceber e entender assim como funciona o Mundo.
Porque nestes dois parágrafos está tudo.

O 11 de Setembro
Mas qual mente contorcida e doentia pode fazer votos para que haja um próximo 11 de Setembro?
Resposta: quem já organizou o primeiro 11 de Setembro. E não vale a pena acrescentar mais nada.

A invasão do Irão
Este é o futuro e não é possível haver dúvidas: o Irão será invadido. Não importa qual a atitude do Irão. Será invadido e ponto final.

A política dos Estados Unidos
Os EUA apoiam Países fracos, para os quais é evidente o desprezo que transparece das palavras. “Autocracias” é o termo utilizado, uma maneira elegante para dizer que Washington apoia pequenas ditaduras ou monarquias apodrecidas (ver Arábia Saudita) apenas por meras questões de conveniência.
Não é uma novidade, mas faz bem lembrar isso de vez em quando.

As revoltas “populares”
Mas a parte melhor, a meu ver, é a última. Reparem: os Estados Unidos ainda não sabem quem tomará o poder nos Países do Médio Oriente que enfrentam revoltas “populares” e “espontâneas”. Mas já sabem que os futuros leaders (porque as revoltas conseguirão o sucesso, claro) serão muito mais dispostos a uma intervenção militar no Irão.
Palavras para quê?

Eu acho que estamos perante um pedaço de História, que vale mais de mil livros de geopolítica.

Vamos em frente.

Página 84: Provocar um bombardeio aéreo
(Pág. 97 do Pdf)

[…] seria muito preferível que os EUA citassem uma provocação iraniana para justificar os ataques antes que estes aconteçam. Claramente, quanto mais a ação iraniana for chocante, terrível e sem provocação, tanto melhor para os Estados Unidos.

É claro que seria muito difícil para os Estados Unidos preocupar o Irão até o ponto deste desafia-los se o resto do mundo for capaz de reconhecer o “jogo”, o que invalidaria tudo.

Um método que poderia ter alguma possibilidade de sucesso seria de continuar, de forma intermitente, as iniciativas secretas para uma mudança de regime, na esperança de que Teheran respondesse de forma aberta, ou semi-aberta, o que poderia ser descrito como um acto de agressão, não provocada, pelo Irão.

Isto sugere que esta opção poderia ficar “em suspenso” até ao momento dos Iranianos fazerem uma provocação suficientemente adequada, como acontece de vez em quando. […] No entanto, isso implica que a utilização dos bombardeios não deve ser a principal iniciativa contra o Irão (mesmo que de preferência absoluta de Washington), mas apenas uma iniciativa complementar a outra opção final, até o Irão não fornecer o pretexto necessário.

Aprendemos.
O Mal é estúpido e cedo ou tarde chega o erro. Mas há vários tipo de erros. E nós desejamos que o erro do Mal seja um erro bem grande, não é? Então é assim: continuamos a enerva-lo com iniciativas secretas (mas não demasiados secretas), como tentativas de abater o regime. E quando o Mal responder…zac! Atacamos. Genial, verdade?

E se o erro do Mal for um erro grave mas não “tão” grave?
Não há crise. Em primeiro lugar começamos com as bombas, tanto para matar alguém e fazer contente a lobby das armas (os votos, meus amigos, os votos!). Isso, claro, enerva ainda mais o Mal. Que responde. E na altura…zac! (nº 2) Invasão.

Mas…o Mal responde, de certeza?
De certeza. O Mal é intrinsecamente estúpido, não como nós.
E a propósito de estúpidos: obviamente temos que ter cuidado para que a opinião pública não perceba o jogo. Não que isto seja um problema tão sério, mas são sempre aborrecimentos, só isso.

Página 105: Encontrar e educar ingénuos 
para uma revolução colorida 
(Pág. 118 do Pdf) 

Os Estados Unidos podem desempenhar papéis múltiplos, para facilitar uma revolução.

Ao financiar e ajudar as organizações rivais do regime, os Estados Unidos poderiam criar uma alternativa de liderança para ocupar o poder.

Nas palavras de Raymond Tanter do Iran Policy Committee, estudantes e outros grupos necessitam de apoio coberto durante as manifestações. Eles precisam de fax, acesso à Internet e dinheiro para duplicar o material e para pagar os serviços de segurança.

Além disso, as transmissões dos media apoiados pelos Estados Unidos podem realçar as lacunas do regime e trazer à luz críticas mantidas no escuro.

Os Estados Unidos já apoiaram a televisão por satélite em língua farsi (Voice of America Persian) e a rádio (Radio Farda), que transmitiram notícias não filtradas pelos Iranianos (nos últimos anos tomaram a parte maior dos fundos dos Estados Unidos para promover a democracia no Irão).

A pressão económica dos Estados Unidos (e a pressão militar, eventualmente) podem desacreditar o regime, tornando a população convencida da necessidade duma direcção diferente.

O que desejamos no Irão é a Democracia. Mas não uma Democracia qualquer: a nossa Democracia.
Por isso temos que trabalhar em várias frentes.

Uma ideia: individuar os jovens, os idealistas. Começar a falar de conceitos vazios como “liberdade”, “escolhas”, e fornecer suporte. Há uma rádio contrária ao regime? Então dinheiro, muito dinheiro. Façam o que lhes apetecer mas falem mal do Irão (que é o Mal!).

Como se chama esta raio de língua? “Farsi”? O que é isso? Não importa, abram uma televisão em farti ou farsi e comecem a transmitir.

Entretanto pressionamos o País com a economia. E com algumas bombas também, que nunca é demais. Fogo, uma vez que ficam sem pão e com as bombas em cima da cabeça, vamos ver se não mudam de ideia!

Funciona? Claro que funciona!
Meus amigos, estas não são novidades nenhumas. Já ouviram falar de Radio Free Europe? E quem financiava esta rádio, hein? Pai Natal?

Radio Free Europe é uma subsidiária de Voice of America, do Broadcasting Board of Governor. Nunca ouviram falar do Broadcasting Board of Governor? Minha nossa…Olhem, já ouviram falar de Hilary Clinton? Isso mesmo, a Clinton faz parte do tal Broadcasting Board.
E a Clinton é a esposa do ex Presidente, Bill: pode haver uma maior garantia de imparcialidade? Digo: um Presidente dos Estados Unidos!

Esta é Democracia, meus senhores, esta é Liberdade! Liberdade de ouvir a nossa versão, em todo o Mundo.
Imaginem: os Iranianos a ouvir só a versão iraniana, os Turcos a ouvir só a versão turca…aborrecido.
E nada educativo.
E injusto.
É tempo do pluralismo.

Por isso já criámos o coiso, ai, como se chama? NED, isso mesmo, criámos o NED. O National Endowment for Democracy, a Doação Nacional para a Democracia, até o nome é bonito.
E com o NED transmitimos em Afeganistão, Argélia, Egipto, Irão, Iraq, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Síria, Tunísia, Turquia, Gaza e Yemen.

Resultados? Excelentes: em todos os Países desta lista houve ou ainda há revoltas ou guerras. Única excepção a Turquia e o Kuwait. Mas tranquilos, é apenas uma questão de tempo. Potência dos media!

Acabou. Mas ainda há uma parte.
Ainda? E quanto raio é comprido este raio de documento?
É a última.

6 Replies to “Visões do futuro: A Estrada da Pérsia – Parte II”

  1. O Irão tem uma das maiores reservas de petróleo, é natural que seja ocupado no futuro~!

    Tudo o que são recursos os EUA colocam a pata, nem a droga escapa, porque será que os dois maiores produtores mundiais de droga estão ocupados pelos EUA, Colômbia (cocaina) e Afeganistão (heroina), inclusivamente parece que o afeganistão tem aumentado a produção !

  2. Olá Anónimo!

    Não conheço muito as previsões de Celente. Doutro lado, um fulano que prevê a "Grande Recessão" em…Dezembro de 2008 não parece o máximo dos profetas.

    Seria um pouco como ter previsto a Segunda Guerra Mundial em Abril de 1942.

    Mas acerca da 3ª Guerra Mundial pode ter razão. Sabemos que os Estados Unidos querem invadir o Irão e exigem uma mudança de regime.

    O problema é que o Irão é um ponto particularmente delicado no tabuleiro internacional.

    O mundo islâmico não pode perder o Irão.
    A China não quer perder um partner comercial como o Irão.
    A Rússia não quer ver o Irão transformado numa base de novos misseis ocidentais.

    Além disso, quem controlar o Irão controla boa parte do gás que transita entre Europa e Ásia.

    Sem falar do petróleo iraniano.

    O Irão é um barril de pólvora, provavelmente o maior barril de pólvora do planeta. E não vai cair sem provocar um grande estrondo.

    Terão os EUA a capacidade de aguentar um tal estrondo? A minha resposta é não.

    Nem falo da Europa, que no caso duma guerra seria varrida dos mapas. Mas acho que o Irão poderia ser a pedra tumular dos Estados Unidos.

    Ámen. 🙂

    Abraço!

  3. Olá Vitor!

    Sim, li isso há alguns tempos: de facto a produção de droga voltou a crescer no Afeganistão.

    Que com os talibãs tinha diminuído, e muito.

    Isso demonstra quanto pouco evoluídos sejam estes fanáticos religiosos: então, acabar com o produto mais exportado do País?

    Ainda bem que estamos do lado do livre mercado, do lado do Bem…

    Abraço!

  4. Este artigo e' demasiado revelador e assustador. O que vale e' que estamos sempre do lado do Bem, caso contrario a minha consciencia nao aguentaria, especialmente agora que contribuo indirectamente ao pagar impostos para o nada servil David Camarao.

    Pobre Irao,que certamente sera a proxima grande vitima do imperialismo americano. Antes disso, provavelmente a Siria sucumbira aos pes da verdadeira liberdade e democracia.

Obrigado por participar na discussão!

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