Mais fino e mais fino, mais leve, mais rápido, mais tudo: o novo iPad 2 é o último duma longa lista de máquinas touch-screen produzidas pela Apple.
Chega ao mercado somente após 12 meses do primeiro iPad e depois do iPhone de quarta geração. Desde o lançamento do primeiro iPhone em 2007, os smartphones e os microcomputadores da Apple foram impostos nos mercados mundiais.
Mas nos últimos anos multiplicaram-se as críticas por causa da política da empresa: as condições dos empregados, o pouco respeito pelo meio ambiente, o uso de produtos químicos tóxicos, a falta de transparência na oferta e a total indiferença à ecologia.
Ao contrário do que fazem outras empresas do sector, a Apple recusa respeitar os limites das emissões de gases com efeito de estufa e de publicar os CSR, o relatórios de responsabilidade social da empresa. Respondeu às críticas apenas em parte, enquanto dum pioneiro da indústria seria de esperar um comportamento muito diferente.
Mas este sucesso espetacular é baseado na criação constante de novos produtos com melhor desempenho, e isso causa alguma frustração entre os ambientalistas e os consumidores.
Tom Dowdall de Greenpeace:
A Apple tem um ritmo excepcionalmente rápido de lançamento de novos produtos, gadgets que engolem enormes recursos para ser produzidos e ser utilizados, e com os quais os consumidores estão a ver as próprias compras ultrapassadas no prazo de um único ano. Este sistema, agora típico do mercado de produtos electrónicos, é insustentável. Apple tenta vencer a concorrência, acelerando o ritmo, e nenhuma empresa pode atender os critérios de sustentabilidade ambiental com uma política comercial que tem como objetivo o crescimento contínuo do consumo.
Mas é certo que, com o preço das ações da Apple subido até 200 Dólares cada, os acionistas não aceitariam qualquer mudança de política. De fato, em Fevereiro do ano passado votaram para rejeitar qualquer proposta de apresentar um relatório sobre a sustentabilidade ambiental e recusaram criar uma comissão especial sobre esta questão.
Vários incidentes foram registados e documentados nos últimos anos. Dezenas de trabalhadores duma fábrica de Suzhou gerida pela Wintek de Taiwan ficaram envenenado em 2010 por n-hexano, uma substância nociva usada para limpar alguns componentes, incluindo o famoso touchscreen da Apple.
Dois trabalhadores duma fábrica em Xangai fizeram meses de hospital desde Outubro do ano passado depois de usar o mesmo n-hexano para colar e limpar o logótipo da Apple no laptop e no iPhone.
Também em Outubro, um relatório do Students and Researchers Against Corporate Misbehavior (SACOM) relataram casos de abuso e maus tratos de trabalhadores em fábricas chinesas da Foxconn Electronics, outro dos fornecedores da Apple. Uma série de funcionários da Foxconn cometeram suicídio em 2010: em Agosto, já eram 14.
Segundo o porta-voz da empresa, “controlos sistemáticos têm sido realizados desde 2006 sobre o comportamento seguido pelos fornecedores,” mas os nomes destes são mantidos em segredo, pelo que é praticamente impossível de verificar.
Em Janeiro deste ano, o Institute of Environmental and Public Affaire, uma ONG com sede em Pequim, publicou um relatório em 29 empresas multinacionais que operam na China no sector tecnológico.
As trinta e seis ONGs que têm contribuído para a pesquisa intitulada “O Outro Lado da Apple” têm classificado a empresa no último lugar no que diz respeito à “responsabilidade e transparência da Apple para a saúde humana e o ambiente.
Após uma extensa pesquisa em sete de seus fornecedores, o relatório definiu Apple como
uma marca de exploração, que baseia a produção nas subcontratações, sem proteção adequada para os trabalhadores.
O director do Instituto, Ma Jun, disse que a Apple tinha-se recusado a cooperar na investigação sobre o duvidoso comportamento dos seus fornecedores e acusou a empresa de pensar primeiro no preço e na qualidade dos produtos em detrimento do respeito ao meio ambiente e de qualquer sentido de responsabilidade social.
As empresas contratadas, são obrigada a um desempenho extremo para poder ganhar os contratos de fornecimento. E a Apple demonstrou uma indiferença escandalosa a cada atitude responsável em relação às ONGs, à comunidade, e mesmo aos trabalhadores afetados.
A Apple finalmente resolveu responder apenas no mês passado, com a publicação dum relatório sobre as responsabilidades dos seus fornecedores (Apple Supplier Responsibility: 2011 Progress Report), que admite que 137 trabalhadores foram submetidos ao envenenamento de n-hexano.
O relatório também descobriu que 91 trabalhadores de 10 fabrica são crianças.
Tom Dowdall, do Greenpeace International, concorda que a Apple fez progressos, mas ainda há muito a ser melhorado, como a promessa de eliminar o uso de substâncias tóxicas.
Resta a nítida impressão de que se a Apple melhorar neste domínio, será apenas devido à insistência das campanhas lançadas do exterior: o presidente-executivo, Steve Jobs, alegou que tinha um programa ambiental em 2007, mas as suas palavras tinham sido apenas uma resposta a uma vigorosa campanha liderada pelo Greenpeace com o nome de Green My Apple.
Jobs argumentou então que a empresa preferia anunciar resultados em vez de programas de acção.
Mesmo uma empresa como a Wal-Mart se esforça para incentivar fornecedores e subcontratados no Extremo Oriente, a observar as regras sobre as alterações climáticas e a responsabilidade social.
É um absurdo que a Apple não faça o mesmo. Para explicar essa atitude duma empresa que de outra forma seria louvável, é necessário analisar os princípios por trás dos seus líderes. Podemos supor que a opor-se a estas escolhas seja o mesmo, Steve Jobs.
Vai ser interessante ver quem vai substituir o chefe da empresa, se isso acontece com a renunciar por causa da sua saúde debilitada. Se o lugar não for ocupado por alguém com ideias mais responsáveis, éticas e sensíveis às questões ambientais, a Apple vai continuar a ceder às pressões financeiras que levam a produzir mais e mais rapidamente novos produtos.
Fonte: The Ecologist