Onde estamos agora?

O que é um ciclo económico?
Boa pergunta: o que é?
Eh?

Ah, sou eu o autor…tudo bem, então vamos explicar de forma extremamente simples.
Para simplificar podemos dizer que um ciclo económico é como um balanço: sobe e desce.

Quando sobe, todos ficam contentes, quando desce, todos ficam tristes.
Em verdade não é bem assim, pois não existe apenas um ciclo económico. Aliás, foram individuados no mínimo três ciclos:

o ciclo breve de Kitchin, que tem uma duração de 3 até 5 anos;
o ciclo médio de Juglar, de 7-11 anos;
o ciclo de Kondratiev, que dura dezenas de anos.

Mas não vamos complicar: tratamos do ciclo “clássico” e tentamos perceber em que ponto do ciclo estamos agora.
E para explicar, nada melhor do que uma imagem, esta:

Primeira observação: poderia ter-me esforçado um pouco mais e apresentar um gráfico melhor, mas enfim…

Acho que ninguém pode ter dúvida: o nosso lugar é na parte baixa do gráfico, onde a curva fica vermelha.
Errado: nós estamos na parte alta, na zona verde.

Como assim?
Eu sei, é difícil aceitar isso. Sobretudo os leitores europeus terão mais dificuldades: mas o Mundo não é apenas o nosso cantinho, há outros cinco continentes lá fora, e nem todos estão tão mal como nós.
A Ásia, por exemplo, não está nada mal, pelo contrário. Este representa a economia “global”, não limitada à nossa casa.

Por isso, nós estamos agora na parte verde do gráfico, nos tempos felizes. E para percebe-lo melhor é preciso olhar para o segundo gráfico, que representa o andamento das Bolsas de Valores ao longo dos últimos anos:

Este é ainda pior do que o primeiro.
Mas o que importa é constatar que, de facto, há um ciclo começado em Julho de 2007, com uma queda até o mínimo de Março de 2009 e, a seguir, outra subida até Abril deste ano. Isso é: agora.
Em principio, deveria iniciar uma descida.

Mas será mesmo assim?
Talvez não. As várias manobras tipo Quantitative Easing provocaram a criação de uma verdadeira extensão. Após o pico, quando o ciclo já tinha entrado na fase decrescente, tais manobras criaram a tal extensão, na qual, provavelmente, agora estamos.

“Provavelmente”?
Sim, provavelmente. Não está certo ao 100%, mas é provável que assim seja: os vários Quantitative Easing são manobras “extra” que falseiam o ciclo. Falseiam, mas não podem parar: após uma fase de crescimento há sempre uma fase de descida, podemos atrasa-la mas não evita-la.

Agora, o bom leitor terá reparado num pormenor: a maneira como a “extensão” acaba.
É uma descida, de tipo vertical.
É como estar no topo do Everest com alguém atrás que empurra. Queda rápida e sem travões.
Este é o problema dos Quantitative Easing: fogem dos ciclos naturais, representam aberrações. E quando o efeito acabar, o ciclo tende a retomar a própria posição natural.
Depressa.

É o temido Double Dip, isso é, a segunda parte da crise começada em 2008?
Eu acho que não. E sim, ao mesmo tempo.

“Não” porque, de facto, o ciclo natural agora prevê uma descida.
“Sim” porque a descida agora pode ser abrupta, repentina, o que pode comportar efeitos pesados, pânico.
E como os efeitos da crise de 2008 ainda não acabaram, os efeitos podem ser amplificados.

Os leitores mais antigos podem lembrar os post nos quais se falava de “Bolsa drogada”, “Bolsa longe da realidade”, ou dos perigos dos Quantitative Easing.  Estes gráficos ajudam a perceber melhor o porquê daquelas palavras: na Economia também há leis, cujos ditames, como vimos, podem ser apenas atrasados, nunca evitados.

Ipse dixit.

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