Bancos: públicos ou privados?

Uma pergunta: qual a base da nossa sociedade?

Esqueçam Paz, Amor, Justiça, Igualdade, Trabalho, Direitos, Constituições e tudo o resto, pois a resposta é só uma: Dinheiro.

E quem gere as rédeas do dinheiro? Os bancos.
Que são? Excacto, privados.

Cenas de vida quotidiana

. Antes de sair de casa desligam a luz, paga com domiciliação bancária (banco).
. Entram no carro, pago em prestações (banco).
. Fazem gasolina e pagam com cartão (banco).
. Entram na autoestrada e pagam também com cartão (banco).
. Depositam as crianças na creche. Uh, temos que pagar a mensalidade. Com cheque (banco).
. Chegam ao trabalho, cujo fruto será depositado numa conta (banco).

E seria possível continuar, pois o nosso desporto favorito não é o futebol mas o sustentamento dos bancos.

Pois é bem esclarecer: uma coisa é o dinheiro, outra coisa são os bancos.
O primeiro não depende dos segundos, tem vida própria; só que a sociedade desenvolveu um axioma segundo o qual dinheiro e bancos têm que viver em simbiose.
Mas assim não é, o axioma é clamorosamente falso.

O dinheiro nasceu e funcionou maravilhosamente bem ao longo de séculos sem que os bancos existissem.
O inverso, pelo contrário, não pode ser: não pode existir um banco sem dinheiro, não funciona.

Mas voltamos ao discurso principal.
Hoje as nossas vidas parecem existir em função de quanto podemos gastar e, consequentemente, quanto podemos fazer ganhar aos bancos. Porque os bancos não são instituições de caridade, não trabalham “de graça”.

Pagam a luz com domiciliação bancária? E acham que o banco faz isso “de graça”? Alguma vez viram um banco fazer algo sem que houvesse uma vantagem (para o banco, óbvio)?
“Mas o meu banco não cobra nada nas operações”. Sim, e eu nasci debaixo duma couve.
O banco ganha, sempre. É este o verdadeiro axioma.

Mas a quem pertencem os bancos?
Olha só, são privados.

Público? Privado?

Então retomamos a seguinte frase

Hoje as nossas vidas parecem existir em função de quanto podemos gastar e, consequentemente, quanto podemos fazer ganhar aos bancos.

e vamos substituir a palavra “bancos” com “privados”.  
Fica assim:

Hoje as nossas vidas parecem existir em função de quanto podemos gastar e, consequentemente, quanto podemos fazer ganhar aos privados.  

Não é a mesma coisa, pois não?

Porque nós também somos “privados”. E não se percebe porque as nossas vidas têm que constituir o lucro de outros “privados”. Privado por privado, não seria melhor que o lucro ficasse com o melhor “privado” em circulação, isso é, nós?

Nos Estados Unidos está a acontecer algo: crescem os movimentos e as iniciativas para que os bancos sejam transformados em entidades públicas.

Os bancos “criam” dinheiro, usando o próprio capital nos empréstimos. Os Estados deitaram no lixo este poder ao colocar os próprios depósitos nos bancos de Wall Street e ao investir o dinheiro lá.

Os governos têm activos colocados nos bancos de Wall Street para rendimentos muito baixos; ao mesmo tempo, Wall Street empresta dinheiro aos Estados com taxas de juros mais elevadas.

E os Estados têm de preocupar-se com coisas como o rating, juros de mora, swaps sobre taxas de juro e outros “pormenores” ainda. Todas coisas que provaram ser muito boas para o investimento dos bancos privados e muito más para os Governos.

Mas se os bancos forem públicos, isso é, geridos pelos Estados?

Eis que aconteceria uma coisa surpreendente: ao consolidar as próprias actividades nos bancos estatais, os Governos seriam capazes de desfrutar os fundos para financiar as próprias operações, e poderiam fazer isso, essencialmente, sem juros: pois se o banco for estatal, os juros entrariam nas caixas do Estado.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Banco do Norte Dakota (público) ao longo dos últimos dez anos conseguiu lucros de mais de 300 milhões de Dólares para os cofres do Estado, um feito notável para um País com uma população que é menos de um décimo do Condado de Los Angeles.

Lucros que, no caso dum banco privado, teriam ficado nos bolsos privados.

Mas há mais do que isso. Acima de tudo, ter bancos públicos significaria reconquistar a soberania económica nacional, actualmente em mãos privadas. E não é preciso esclarecer este ponto, pois não?

A raposa e o galinheiro

Bancos públicos: um oceano de prazeres?
Nem por isso. Há riscos, e não poucos.

Sem um sistema de controle, sem ética, o risco seria ter um banco ao estilo das várias “cajas” espanholas: autenticas fontes de financiamento dos partidos políticos, atropeladas pela especulação imobiliária, hoje falidas (não todas, mas quase).

Mais: a verdade é que hoje o Estado (qualquer Estado) é incapaz de controlar-limitar-gerir ou até simplesmente contradizer as vontades dos bancos privados.

E um Estado assim, dum dia para outro, acorda e diz aos privados “Meus senhores, a festa acabou, chegou a hora dos cidadãos”? Este políticos? Este partidos? Só se for no mundo dos sonhos.

Não são argumentos que podem ser ignorados. São, pelo contrário, argumentos “de peso”, pois a experiência ensina que “público” muitas vezes é sinonimo de caos, má gestão, favoritismos, disfunção, corrupção.

Portanto a situação é a seguinte:

  • com a soberania monetária nas mãos do Estado, há o risco desta ser mal gerida (mas também a possibilidade de ser gerida de forma adequada, e isso depende em boa medida dos cidadãos.). 
  • com a soberania monetária em mãos privadas, há a certeza da gestão ir contra os nossos interesses.  

Na prática, a escolha é entre estas duas possibilidade: quem preferem para proteger o galinheiro, a raposa ou o criador?

Eu prefiro o criador. Com todos os defeitos do mundo, continuo a preferir o criador.
E o primeiro que me chamar “comunista” fica banido para sempre.

Ipse dixit.

2 Replies to “Bancos: públicos ou privados?”

  1. Hahahah!!! Que aversão aos comunas!!! Mas eu compreendo. As pessoas adoram rotular; não conseguem comprender que todos esses "ismos¹" tem coisas boas e coisas ruins, e que pegando as boas (boas exclusivamente para todos), e pensando e pensando muito, podemos criar novas soluções e novos pontos de vista (desde que isso não se transforme em outro "ismo" pior).

    Estava a acompanhar a viagem de Jimmy Carter para Cuba, e vi manifestantes estadunidenses o acusando de "ingênuo" e "porta-voz da ditadura militar de Cuba". Ora, não conseguem ver que seus país é porta-voz da maior ditadura econômica do mundo? O embargo que promovem ante Cuba é um apenas pequeno exemplo. Muito mais ingênuos são estes manifestantes (se é que realmente existiram), por não ter a frieza de analisar e compreender que tanto os EUA quanto Cuba tem aspectos lindos e também aspectos podres!

    Pensar fora destes ismos, criados a trocentos anos atrás, é um grande privilégio, caro amigo. E dane-se quem ficar se preocupando com ele é "ista".

    Enfim, agora realmente começando o comentário, aqui no Brasil, temos alguns bancos federais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, acho importante a sua existência, apesar de não conhecer a fundo suas propriedades, se funcionam da maneira que deveriam. Mas duma coisa tenho quase certeza: devem ter apenas 51% de ações pertencentes ao estado brasileiro, para manter aquela falsa noção de posse.

    ¹: Termo retirado do filme (tosco) Ferris Bueller Days' Off, pelo menos na dublagem em pt-br.

  2. Olá Tony!

    A "aversão" aos comunas tem uma razão: é fácil encontrar páginas na internet escritas por Comunistas, é muito mais complicado encontrar algo que tenha origem na parte oposta.

    O problema é que o Comunismo não é apenas uma ideologia políticas, para muitos torna-se uma razão de vida.

    Consequência: a pessoa não conseguem raciocinar com o próprio cérebro, tudo tem uma justificação se assim decidir o partido, horrores como a Coreia do Norte considerados ou normais ou dignos de admiração.

    O Capitalismo, de facto, opera segundo outros esquemas. Com resultados até piores, mas com esquemas diferentes.

    Mas gostei muito da frase "não conseguem comprender que todos esses "ismos¹" tem coisas boas e coisas ruins, e que pegando as boas (boas exclusivamente para todos), e pensando e pensando muito, podemos criar novas soluções e novos pontos de vista".

    Verdade, sem dúvida uma grande verdade.

    Abraço!

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