Estranha sensação

“Quem sabe como viviam no ano 999?”
Este era o meu pensamento enquanto o professor de História tentava desesperadamente que algo ficasse preso aos poucos neurónios acordados dos estudantes.

Os meus neurónios não tinham nada de especial e por isso comportavam-se da mesma forma dos outros.

Todos juntos, esforçavam-se por concentrar-se, mas cedo sucumbiam perante tamanha empresa.
Assim, na espasmódica procura de algo interessante, acabavam com o focalizar-se em pormenores.
Como uma data, por exemplo.

E 999 era uma boa data.
Ainda hoje não é claro se a Humanidade estava à beira duma crise histérica ou se a maior parte das pessoas nem ligavam ao assunto. Vamos tomar como boa a primeira versão, muito mais espetacular.

Incerteza, esta era a palavra. Haverá um amanhã? E como será?
Imaginem estes desgraçados no dia 31 de Dezembro. Todos nas igrejas, a rezar. O mais provável era o fim do Mundo.

Hoje não estamos à beira do Apocalipse, mas a situação não é das melhores.

O velho mundo não vai durar por muito mais tempo, está a perder pedaços, até mesmo os defensores mais ferrenhos do status quo começam a perceber isso.

Sim, verdade, há sempre um cristão nas planícies do centro-oeste dos Estados Unidos que prega o fim do mundo, sempre houve pessoas com problemas. Mas quando a discussão chega nas ruas, nos cafés, no metro, então fica-se com a rastejante sensação de que algo neste velho mundo está realmente a acontecer.

Não é algo de realmente mensurável, é mais uma certa sensação de algo que não podemos ver nem tocar, mas que está ai.
Quando, sentados numa esplanada, não ouvimos falar de futebol mas da central nuclear de Fukushima, então a sensação aparece. Quando no metro não ouvimos as duas amigas sentadas ao lado falar do último episodio da novela mas das revoltas no mundo árabe, a sensação volta.

E para ter um panorama mais completo, podemos olhar para Google Notícias ou a página da Reuters. 

  • Portugal, não passam as medidas de austeridade, o governo renuncia
  • Iémen, os manifestantes apontam para o palácio presidencial
  • Japão, alerta inundações em Tóquio, Fukushima instável
  • Portugal, quase que certa a ajuda internacional
  • Cyber ​​ataque contra a Comissão Europeia bloqueia o correio electrónico
  • Líbia, ataque ao quartel-bunker de Khadafi. 16 as vítimas dos atiradores em Misurata
  • Egipto: Ex-ministro do Interior em julgamento por homicídio
  • Ataque em Jerusalém, Netanyahu: a nossa resposta será mais forte
  • Moody’s rebaixa Espanha
  • Japão, a crise nuclear continua a ser grave
  • Síria, violenta repressão das manifestações em Daraa
  • Egipto fecha a Bolsa de Valores com -8,9% após dois meses parada
  • Argélia: 40 pessoas ficam feridas em confrontos entre manifestantes e polícia
  • EUA vendas de casas novas com recorde negativo, -16,9%
  • Ouro ultrapassa os 1.440 Dólares, prata nos máximos históricos desde 1980

Como dizia, não podemos ver nem tocar, mas há algo de errado, o velho mundo está a cair em pedaços e não há maneira de impedi-lo.

E, finalmente, a sensação volta quando, ao procurar a frase exacta “mundo em pedaços” no Google, saem 75.300 resultados em 0,06 segundos.

Não é o fim do mundo, não é o Apocalipse.
É uma fase de transformação.

Mas é uma sensação bem estranha.

Ipse dixit

Fonte: Reuters, Google Notícias, Informazione Scorretta

2 Replies to “Estranha sensação”

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