Raízes

Don’t you worry about the situation,
(A message from the telephone)
They’re always off to fight the allied nation,
(And realise they’re fighting alone)

There’s no place like home 

Já viram?
A maior parte dos leitores nasceu num mundo que já não existe.
Ao menos, assim imagino. Talvez amanhã descubra que a idade média de quem frequenta este blogue é de 6 anos e todo o discurso acaba.

Mas vamos em frente.

Estamos a assistir a mudanças importantes. Não digo que sejam boas ou más, simplesmente são mudanças.

O leitor pode pensar: “Ó Max, sempre foi assim, os filhos crescem e o mundo muda, nunca ouviste falar de choque geracional, acorda duma vez por todas!”

Credo, que mau feitio que tem o leitor…

Sim, claro, já ouvi falar disso. Aliás, acho que o maior “salto” entre gerações aconteceu no passado, na primeira metade de 1900.
Mesmo assim, também nós somos testemunhas de mudanças históricas, coisas que estão a acontecer aqui e agora.

 

Ordem e Desordem

A maior parte de nós (suponho) nasceu num mundo onde havia uma certa ordem: havia os Bons dum lado (os Americanos) e os Maus do outro (os Russos); havia carros que gastavam rios de gasolina; os canais de televisão eram bem poucos; os computadores eram monstros de vários metros cúbicos; internet era ficção científica e o único telefone móvel era o que caia no chão.

Cada País tinha as próprias fronteiras, as alfândegas e uma moeda.
Nas ruas havia lojas. E nelas até eram presentes clientes.

O Homem tinha chegado à Lua e ainda estava no auge duma corrida espacial.
Os Japoneses criavam carros que eram clones dos modelos ocidentais (mas com muita mais ferrugem) e os Chineses liam o Livro Vermelho. 

Hoje estas coisas pertencem à História.
Mas o sistema não foi trocado por alguma coisa: o sistema simplesmente desapareceu e nós estamos ainda à procura dum novo modelo.

Eis a grande diferença entre nós e os nossos avós: eles tiveram que enfrentar grandes mudanças, no final das quais havia uma sociedade baseada em novos princípios; mas tudo isso em tempos relativamente curtos e sabendo sempre quem eram os actores em cena. Não havia muito espaço para a hesitação.

Nós também temos que enfrentar uma grande mudança: mas esta dura já há mais de uma década, o fim não parece estar perto e os actores desta peça são…pois, quem são?

O Mundo, até poucos anos atrás, era um lugar mais simples: como já lembrámos, havia dois lados, nós e os outros. Antes da última Guerra Mundial, a escolha era clara: Fascismo-Nazismo dum lado, Democracia do outro.
Podemos recuar, mas a situação pouco muda.
Antes da Primeira Guerra Mundial a escolha era entre a coligação dos Impérios Centrais ou a Tríplice Aliança. E podemos recuar ainda mais, mas sempre será possível encontrar uma dicotomia, um lado e a sua contra-parte.

Até num período particularmente conturbado como o da queda do Império Romano havia um vislumbre de escolha: afinal teria sempre sido possível torcer pelos Bárbaros…

Falta algo…

Hoje qual é a nossa contra-parte?
Estamos ligados a um império em fase de lenta decadência, mas onde estão os Bárbaros?
Os Russos? Não, demasiado empenhados em reconstruir-se.
Os Árabes? Nem pensar, ainda não conseguem livrar-se do papel de peões.
Os Chineses? Não parece mesmo.

Mas é preciso ter uma contra-parte? Não, não é. Onde está escrito que a perfeição pode ser atingida apenas quando houver uma escolha? Podemos sempre ficar satisfeitos com o que temos.

Eis o grande problema: o que temos?
O mundo dos nossos avós travessou épocas caracterizadas por vários eventos, o mais traumático dos quais foi sem dúvida a guerra. Mas sempre havia algo: uma casa, um País, uma língua, uma cultura, tradições. Estas chamam-se “raízes”.

Ao falar destas coisas é fácil ser objecto de críticas. Há também uma série de adjectivos já prontos para ser utilizados: nacionalista (no sentido depreciativo, óbvio), reaccionário, fascista.

Quem segue Informação Incorrecta sabe que não me reconheço em nenhuma corrente ideológica e/ou política; e o visitante ocasional, o que pode pensar? E eu que tenho a ver com isso?

Porquê tenho de envergonhar-me em falar de assuntos que sempre constituíram as verdadeiras bases das nossas sociedades?
Porquê os homens sempre tentaram integrar-se num grupo, numa tribo, numa sociedade?

Porque falar de Nação hoje é fora de moda? Porque temos de pensar “global”?
Porque se afirmo que a Europa é um embuste (e é um embuste, pelo menos desta forma) então significa que não percebo nada do que se passa, a minha visão é reduzida, sou apenas um nostálgico?
Porque hoje é vendida a ideia que a chave do futuro é pensar em termos “supranacionais”?

Eles têm algo…

A China está a pensar em termos supranacionais? Mas onde???

Falei muitas vezes da China neste blogue: não gosto dos Chineses, não se pode gostar dum povo que não sabe pronunciar a palavra “Rock” (Lock and Loll? Arre!!!). Mas admiro-os. Porque estão a …(estava a escrever uma coisa, mas depois lembrei-me que é bem pouco fina…), estão a marimbar-se para o resto do mundo. Vão direitinhos pela estrada deles, indiferentes.
É bom? É mal? É correcto? É incorrecto? Para eles é bom. Para eles funciona.

Nós, pelo contrário, estamos aqui, como os nossos bons pensamentos que misturam irmandade e progressismo esquerdista com politicas e mercados de direita: e temos de pensar global, pois isso é politically correct.

Os Chineses vão na Grécia e, com a desculpa de ajudar, levam para casa o porto do Pireu. “Sim, mas quantos lugares de trabalho que criam!”.
Verdade: os novos escravos podem trabalhar para enriquecer Pequim e será engraçado observar os acontecimentos em ocasião da primeira greve.

Nós não podemos falar em fronteiras e alfandegas, é fora de moda, é um regresso aos horrores do Fascismo. Assim os Chineses invadem a Europa com preços com os quais não é possível competir.

Global Warming? O mundo aquece que nem uma panela (coberta de neve)? Mea culpa, mea grandissima culpa, sou eu que estrago o planeta, não sou um cidadão, sou a vergonha da Humanidade (I´m Bad, I´m Nationwide, ZZ Top).

Os Chineses arrotam tanta poluição que já não sabem quando é nevoeiro e quando não. E nós, com cuidado, com gentileza: “Importam-se?”. “Sim”.

Não, não gosto deles.
Têm um rumo. Nós não.
Têm a fome de quem conhece a pobreza. Nós não.
Têm um País, um idioma, uma nação. Nós vendemos tudo isso.
Têm raízes. Nós tentamos esquecer as nossas.

Voltar? Não, avançar.

Eu acho que seria bom assumir uma coisa óbvia: a filosofia seguida após a queda do muro de Berlim falhou.

Não se trata de obrigar os meninos a cantar o hino nacional antes de começar as aulas. Ninguém quer fechar as fronteiras ou leis racistas. Não é o desejo de mover para trás os ponteiros do relógio.

E, contrariamente ao que pode parecer após a leitura deste post, nem se trata de afirmar coisas do género “uma vez era melhor…”.

Pelo contrário: temos que olhar pela frente, sempre. Trata-se apenas de encontrar os poucos pontos firmes que podem ajudar numa altura de transição como a presente.

Eu acho que não esquecer as nossas raízes possa ser um bom ponto de partida.

[ehm…não sei, talvez seja evidente: mas a verdade é que comecei a escrever este post com a intenção de tratar da altura de transição, só que depois lembrei-me dos Chineses e fiquei enervado. Assim o post “escorregou” e acabei com o não tratar nem duma coisa nem da outra. Moral: nunca escrever quando um dente doer. Uma metáfora? Não, dói mesmo!].

Ipse dixit.

2 Replies to “Raízes”

  1. È Verdade! Para mim os anos 80-90 eram bem mais simples. Recordo com imensa saudade as tardes de Verão nas férias e os dias de Inverno em casa no fim das aulas. Tenho a nítida impressão que o tempo era muito mais lento.

    Sabíamos que estudávamos para ir para a Universidade, para tirar um curso e ter uma boa profissão. Tinhamos o mundo à nossa frente. Havia muitas coisas erradas, é verdade, mas comparando com hoje…
    Tudo isto para dizer que há 10 anos atrás as pessoas tinham um rumo, uma esperança. Os pais sabiam que os filhos iam ter melhor vida, ser mais felizes. E afinal é o contrário.

    Para mim, o descalabro começou necessariamente com o 11 Setembro. O mundo piorou em todo o lado, com excepção para os políticos das mais de 190 Nações do Planeta, para os Bancários de Wall Street, e para as poucas centenas de famílias Ricas e influentes, que mais ricas e influentes ficaram nestes últimos anos.
    Parece mesmo, embora não seja apologista das Teorias da Conspiração que vamos a caminho do precipício. Quem nos vale???

  2. É o que ocorre quando nos ausentamos de nossos deveres como cidadãos, vamos perdendo o rumo aos poucos, até que nos encontremos em parte alguma.

    A ignorância proposital, fruto da alienação, deixa uma nação à mercê de interesses escusos, e quando acordamos é demasiado tarde, já estamos completamente envolvidos, divididos e conquistados.

    "Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo." (Abraham Lincoln)

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