O mundo da Superclasse

Eis um artigo muito comprido: mas vale bem a pena.
E, com um pouco de paciência, será simples intuir a razão.

Conspiração?

É simples encontrar na Web teorias acerca dum sistema de controle global. Grupos como Bilderberg, a Comissão Trilateral ou o Council on Foreing Realtions são indicados como expressão dum projecto maior, que tem como objectivo nada mais nada menos que dominar o mundo.

Verdade ou fantasia?

Um artigo recentemente publicado no conceituado The Economist fala desta estrutura de poder, não como uma teoria da conspiração, mas simplesmente afirmando que a elite cosmopolita realmente costuma encontrar-se nessas reuniões para forjar um mundo em que a “superclasse” querer viver.

Mas porque The Economist?

Simplesmente porque é um excelente lugar onde apresentar uma “Superclasse”. O seu editor é um regular frequentador da conferência anual do grupo Bilderberg, como afirma com orgulho um dos primeiros parágrafos. 

É o lar dos empresários e da aristocracia mais influentes do mundo, bem como dum pequeno grupo de jornalistas que representam os maiores media globais, e que aceitaram as regras de Chatham House, isso é: que não podem revelar as “grandes ideias” do grupo.

The Economist encara o assunto com tom irónico, para depois concluir que sim, de facto existe um grupo de pessoas que quer influenciar os acontecimentos no mundo.

O mundo é um lugar complicado, com oceanos de informações derramados por toda as partes.
Gerir uma multinacional pode ajudar em obter uma boa ideia de como as coisas funcionam no mundo. Também ajuda a estar em estreito contacto com outros “globocrates”.

Então, a elite cosmopolita, como homens da finança internacional, burocratas, professores universitários e proprietários de instituições de caridade, costumam reunir-se com regularidade e discutir. Formam grupos de encontros elitista, formam clubes. 

Os mais influente desses clubes, de acordo com o artigo, são o grupo Bilderberg, o Council on Foreign Relations, a Comissão Trilateral, o Carnegie Endowment for International Peace e o Grupo dos Trinta. Agora estão a abandonar a natureza segreda, e aparecem aos olhos do mundo.  

O acesso à grande festa “globocrática” agora é livre

O artigo continua fornecendo até uma camada de “bondade”, quase uma misericordiosa justificação alguns exemplos dos principais eventos internacionais que foram preparados para as reuniões da elite ao longo dos anos, incluindo acordos diplomáticos em decisões importantes e até guerras.

Diz The Economist, citando as palavras de David Rothkopf, ex conselheiro de Kissinger, autor do livro “Superclass”: 

Esses encontros são uma parte importante da história da superclasse. […]
O que realmente oferecem é o acesso para alguns dos líders mais isolados. Nesse sentido, esses encontros também funcionam como um mecanismo informal de poder [global]

O artigo, extremamente interessante, deveria ter acabado aqui.
Infelizmente, The Economist decidiu justificar a existência da Superclasse e apresenta-la quase como um sistema de protecção. E aqui o discurso mostra todas as falhas.

Dum lado, de facto, admite que alguns banqueiros internacionais são responsáveis pela pilhagem do sistema, do outro tenta convencer os leitores que, de facto, a presença duma elite internacional interligada salvou o mundo do colapso financeiro. Por isso, podemos dormir descansados.

Mas a parte mais exilarante é sem dúvida a final, onde The Economist ilustra a própria versão da crise e das heróicas medidas que estas Mentes Pensantes implementaram para ultrapassar a difícil altura.
É evidente que The Economist fala para um publico “treinado”, que aceitam sem perguntas a realidade apresentada.

Aqueles que seguem de perto as actividades destes grupos e os acontecimentos do mundo económico e financeiro, sabem que as coisas não estão mesmo assim. A crise dos subprimes e as consequências que ainda hoje experimentamos, não foram uma surpresas: muitos tinham previsto estes acontecimentos, lançado alarmes. Mais provavelmente, a Superclasse decidiu desfrutar a ocasião para implementar um maior controle. 

Sobra uma importante observação: há dez anos, falar do Bilderberg era sinónimo de fantasia. 
Hoje o nome aparece numa das principais revistas económicas do mundo.

Sinal de que os tempos estão maduros. 
É a altura certa para ficar muito preocupados.

A seguir o artigo original de The Economist, publicado no dia 20 de Janeiro.
O artigo original foi dividido em vários capítulos, para facilitar a leitura.

Onde as pessoas influentes costumam 
encontrar-se e  conversar

“Não é possível fazer nada contra uma teoria da conspiração”, suspira Etienne Davignon. Sentado num escritório com maravilha vista sobre Bruxelas, fuma o cachimbo.

É um aristocrata, ex-vice-presidente da Comissão Europeia e um homem que sentou-se em vários conselhos, mas não é por isso que é considerado demasiado poderoso.

Ele preside o grupo Bilderberg, uma conspiração do mal empenhada na dominação do mundo. Pelo menos, é isso que inúmeros sites alegam; e também que tem ligações com a Al-Qaeda, que esconde a cura contra o câncer e que deseja fundir os Estados Unidos com o México.

Na realidade, Bilderberg é uma conferência anual de algumas dezenas de pessoas, as mais influentes do mundo.

No ano passado, Bill Gates e Larry Summers mantiveram relações amigáveis com o presidente do Deutsche Bank, o chefe da Shell, o chefe do Programa Alimentar Mundial e o primeiro-ministro de Espanha.

Um ou dois jornalistas são convidados a cada ano, desde que não escrevam acerca da reunião (a propósito: o editor de The Economist, por vezes, participa).

Como as reuniões são informais, são chamariz para os teóricos da conspiração. Mas o interesse para os participantes é evidente.

Eles podem falar abertamente, diz o Sr. Davignon, sem preocupar-se de como as palavras poderiam aparecer nas manchetes do dia seguinte. Assim descobrem o que outras pessoas influentes realmente pensam.

Grandes ideias são debatidas com franqueza. Mr. Davignon reconhece às reuniões o projecto para ajudar a estabelecer as bases para a criação do Euro. Lembra do forte desacordo sobre o Iraque: alguns participantes apoiavam a invasão em 2003, alguns eram contrários e outros ainda desejavam as coisas feitas de forma diferente. No ano passado, o debate era sobre os problemas fiscais na Europa, se o Euro iria sobreviver.

O mundo, um lugar complicado

O mundo é um lugar complicado, com oceanos de informações derramados por toda as partes. Gerir uma multinacional pode ajudar em obter uma boa ideia de como as coisas funcionam no mundo.

Para gerir uma organização multinacional, ajuda ter uma ideia aproximada do que está a acontecer. Também ajuda a estar em estreito contacto com outros “globocrates”.

Então, a elite cosmopolita, como homens da finança internacional, burocratas, professores universitários e proprietários de instituições de caridade, costumam reunir-se com regularidade e discutir. Formam grupos de encontros elitista, formam clubes.

Eles juntam-se no Fórum Económico Mundial em Davos, na Comissão Trilateral e na reunião de Boao, na na China. Formam clubes.

Os empresários indianos ao redor do mundo participam no TiE (The Indus Enterprise).

Em Nova York e Washington juntam-se ao Council on Foreign Relations, onde é possível ouvir o presidente da Turquia numa semana e chefe-executivo da Intel na próxima.

O homem mais rico do mundo, Carlos Slim, magnata das telecomunicações mexicano, organiza uma reunião anual dos bilionários latino-americanos que ajudam-se reciprocamente enquanto ostensivamente discutem da pobreza regional.

Davos

Davos é talvez o mais brilhante destes encontros globocráticos.

Centenas de grandes rodas chegam a estação de esqui suíça a cada ano.

As palestras são interessantes, mas o grande atractivo é a possibilidade de conversar com outras pessoas poderosas nos bastidores. Essas conversas, por vezes, produzem resultados. 

Em 1988, os Primeiros-Ministros da Turquia e da Grécia, reuniram-se em Davos, e assinaram uma declaração que pode ter evitado uma guerra.

Em 1994, Shimon Peres, então ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, e Yasser Arafat fecharam um acordo sobre Gaza e Jericó.

Em 2003, Jack Straw, secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, teve uma reunião informal na sua suite com o presidente do Irão, um País com o qual a Grã-Bretanha não tinha relações diplomáticas.

Mas Davos não é propriamente uma instituição secreta: está cheia de jornalistas. Também os outros encontros globocráticos estão a abrir-se. Até Bilderberg começou recentemente a publicar listas dos participantes no próprio sitio.

 Carnegie Endowment for International Peace

Algumas organizações americanas também estão bem posicionadas para exercer uma influência global.

O Carnegie Endowment for International Peace, por exemplo, estabeleceu-se como um dos pontos de encontro mais confiáveis, com escritórios em Pequim, em Beirute, em Bruxelas e Moscovo, assim como em Washington, embora ainda tenha de cumprir a visão do seus fundador, Andrew Carnegie, que queria abolir a guerra.

A chave para exercitar a influência, diz Jessica Mathews, presidente do Carnegie, é muito simples: contactar os melhores.

Nos Países onde os think-tanks são subservientes ao Estado, como a China e a Rússia, organizações estrangeiras como Carnegie desfrutam duma reputação de independência. Ao poder regressar com conhecimentos úteis, podem influenciar a política.

Por exemplo, os estudiosos do Carnegie aconselharam os autores da Constituição pós-soviética da Rússia. E quando as relações entre os EUA e a Rússia pioraram com o presidente George W. Bush, o escritório de Carnegie em Moscovo ajudou a manter uma linha de comunicação aberta entre os dois governos.

 Superclasse

Essas reuniões são “uma parte importante da história da Superclasse“, diz o Sr. Rothkopf, autor do livro homónimo. O que oferecem é o acesso a “alguns dos líderes mais isolados do mundo”. Como tal, são um dos “mecanismos informais de poder [global]”.

Alguns globocratas acham que a importância dos fóruns como o de Davos é exagerada.

Howard Stringer, o patrão da Sony, é o tipo de pessoa que você esperaria de encontrar nos tais meetings. Galês de nascimento, de cidadania americana, começou a chefiar a empresa japonesa em 2005, quando esta estava em sérios apuros, e conseguiu ultrapassar os enormes obstáculos.

Ele afirma ter desfrutado das viagens em Davos no passado, mas que não irá participar neste ano. Afirma poder aprender mais ao ouvir os seus 167 mil empregados.

No entanto, apesar das incansáveis trocas de informações, os globocratas foram apanhados desprevenidos perante a crise financeira. As suas redes de contactos tinham lançados alguns avisos, mas não suficientes para alertar e preparar uma acção oportuna.

 Desprevenidos?

Jim Chanos, um gerente de fundos que fez a sua primeira fortuna apostando na sobrevalorização da Enron, advertiu os ministros das Finanças do G8, em Abril de 2007, que os bancos e as companhias de seguros estavam a ter problemas.

Ele fez fortuna outra vez, quando as acções dos bancos caíram, mas ainda está furioso pelo facto das suas advertências terem sido educadamente ignoradas.

Acha um ultraje o facto de vários chefes-reguladores daquele período ainda estarem em posições de poder. E acusa alguns bancos duma “pilhagem por ter atacado o sistema”, pagando bónus baseados em lucros fantasmas.

Ele acha que deveriam ser processados.

Os globocrats não conseguiram evitar a crise, mas reuniram-se uma vez que esta explodiu.

A cura

Os governos dos Países ricos têm agido em conjunto para apoiar os bancos com o dinheiro dos contribuintes.

Nos Estados Unidos, a resposta foi liderada por um trio bem sucedido: Hank Paulson, Secretário da Tesouraria de George Bush e ex-chefe da Goldman Sachs, Tim Geithner, Secretário da Tesouraria de Barack Obama e ex-chefe da Federal Reserve de New York, bem como um veterano do FMI, e Ben Bernanke, de Harvard, MIT, Stanford, Princeton, e da Casa Branca, que agora é presidente da Federal Reserve.

As falências foram impopulares, mas podem ter impedido que o sistema bancário mundial implodesse.

Os governos agora tentam redigir as regras para evitar o repetir-se destes acontecimentos. Muitas pessoas ofereceram conselhos.

Entre as contribuições de maior peso, um relatório do Grupo dos Trinta (G30), um conjunto informal de governadores passados e presentes dos bancos centrais.

O Relatório de Volcker, que defende um mecanismo de compensação para os derivados e restrições sobre o comércio de propriedade dos bancos, ajudaram a moldar o projecto de reforma financeira Dodd-Frank. O G30 é influente porque é composto por pessoas com a experiência para tornar as politicas uma realidade prática, diz Stuart Mackintosh, o director.

Portanto, quando faz recomendações, estas podem ser transformadas em acção.

Fonte: The Economist
Tradução: Informação Incorrecta

One Reply to “O mundo da Superclasse”

  1. Afinal o melhor esconderijo é onde todos conseguem ver, mas não perceber. Afinal são símbolos.

Obrigado por participar na discussão!

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