O Banco Mundial – Parte I

Bretton Woods não existe. No sentido que não há nada: é só o nome duma localidade do New Hampshire, no Norte dos Estados Unidos.
Circundada pela floresta do White Mountain, pode contar apenas com duas construções: a Mount Washington Cog Railway, uma ferrovia de montanha, e o Mount Washington Hotel. Nada mais do que isso.

No entanto, Bretton Woods é lembrada nos livros de História por causa duma conferência: entre os dias 1 e 22 de Julho de 1944, 730 delegados de 44 Países reuniram-se no hotel para decidir o futuro económico do mundo. E conseguiram.

Os acordos de Bretton Woods

Mount Washington Hotel, Bretton Woods

Enquanto na Europa e no Pacífico continuavam a falar as armas, nesta perdida localidade de montanha foi definido um sistema para gerir o post-guerra.

Foram criadas, entre outras, algumas organizações: o Banco Mundial (na altura denominado Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento) e o FMI (Fundo Monetário Internacional). E foram postas as bases do protocolo GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, operativo só desde 1947), um sistema de relacionamento económico multilateral para favorecer a liberalização do comércio mundial. 

Os acordos de Bretton Woods acabaram nos primeiros anos da década ’70, mas duas organizações ainda existem: FMI e Banco Mundial.

Hoje vamos tratar desta última, ficando o Fundo Monetário para uma próxima análise.

As boas intenções do BIRS

O Banco Mundial nasceu como Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, BIRS. A ideia era implementar um banco que pudesse ajudar a reconstrução dum mundo acabado de sair da pior guerra e favorecer o desenvolvimento.

Mais tarde, como não havia mais nada para reconstruir, o BIRS tornou-se Banco Mundial e acabou por ser parte das Nações Unidas, com a finalidade de ajudar o desenvolvimento dos Países mais pobres.

Boas intenções, sem dúvida. Pena que, como se costuma dizer, de boas intenções é feita a estrada para o inferno. E o Banco Mundial nunca foi uma excepção neste sentido.    

Os homens fortes

Começa a ser um pouco aborrecido fazer este tipo de pesquisa: são sempre as mesmas coisas. Pior ainda: os mesmos nomes.

Pegamos na lista dos directores do Banco Mundial, com a datas do respectivo “reinado”:
Eugene Meyer (Junho 1946 – Dezembro 1946)
John J. McCloy (Março 1947 – Junho 1949)
Eugene R. Black, Sr. (? 1949 – ? 1963) 
George D. Woods (Janeiro 1963 – Março 1968)
Robert McNamara (Abril 1968 – Junho 1981)
Alden W. Clausen (Julho 1981 – Junho 1986)
Barber B. Conable (Julho 1986 – Agosto 1991)
Lewis T. Preston (Setembro 1991 – Maio 1995)
James Wolfensohn (Junho 1995 – Maio 2005)
Paul Wolfowitz (Junho 2005 – Junho 2007)
Robert Zoellick (Junho 2007)

E agora vamos ver quem foram estes cavalheiros.

Eugene Meyer

Já encontrámos Eugene Meyer, judeu, tinha sido chefe da Federal Reserve entre 1930 e 1933, na altura em que a Fed era (era???) dominada pelo banco JP Morgan. E o mesmo Meyer era sócio da AlliedSignal, futura Honeywell.

John J. McCloy era conselheiro jurídico da I.G. Farben (ver artigo Pecunia non olet), a sociedade ligada com duplo fio ao Terceiro Reich. O que já explica muitas coisas.
Após o mandato no Banco Mundial, McCloy trabalhou como director da Morgan Chase, da Ford Foundation (fundada por Hedsel Ford, já sócio da IG Farben America), administrador da Rockfeller Foundation e conselheiro das Sete Irmãs, as companhias petrolíferas mais poderosas do mundo.

Com um curriculum assim, McCloy não podia não dizer uma palavrinha acerca da morte do Presidente Kennedy, por isso fez parte da Comissão Warren, a mesma que estabeleceu que o único responsável da morte de JFK tinha sido Lee Harvey Oswald.

Eugene R. Black, Sr. era filho de Eugene Robert Black, presidente da Federal Reserve. Em 1933 foi vice-director da Banco Chase (hoje Morgan Chase), o banco de John D. Rockfeller Jr. Deixou o cargo em 1949, para ser director do Banco Mundial.

JFK e Robert McNamara (Fonte: CBS)

George D. Woods começou a trabalhar para a empresa Harris, Forbes & Co., até esta ser adquirida pelo banco Chase. Woods tornou-se vice-presidente da empresa e, mais tarde, vice presidente da First Boston Corporation, sempre do grupo Chase.

Robert McNamara não foi simplesmente um dos presidentes do Banco Mundial ou da Ford Motor Company: foi muito mais do que isso, uma verdadeira eminência parda dos Estados Unidos.

Alden W. Clausen, homem forte da BankAmerica, antes e depois de ser presidente do Banco Mundial

Barber B. Conable é o único acerca do qual não encontrei nada que tivesse a ver com bancos ou empresas privadas. Sem dúvida escapou-me algo.

Com Lewis T. Preston voltamos à normalidade: era presidente da J.P.Morgan.

James Wolfensohn trabalhou com James Armand Edmond de Rothschild, na Chrysler, Salomon Brother, Citigroup, Rockfeller Foundation. Também participa nas reuniões dos Grupo Bilderberg.

G.W.Bush e Paul Wolfowitz

Paul Wolfowitz, hebreu de origem polaca (de facto tem duas nacionalidades: norte-americana e israelita), é outra eminencia parda do establishment dos Estados Unidos.

Aliás, “era”, não é, pois a sua reputação sofreu um duro golpe após ter ficado envolvido num escândalo enquanto presidente do Banco Mundial: aumentava o salário da sua namorada, também empregada do Banco Mundial, em milhares de Dólares de cada vez. Por isso foi obrigado a demitir-se.

Wolfowitz não parece ter nenhuma ligação directa com bancos ou empresas privadas, mas em verdade tem muito mais do que isso.

Os relacionamento com Israel são muito fortes (Wolfowitz viveu em Israel), o pai dele trabalhava no Israel Institute of Techonology, e era presente na reunião com o presidente G. Bush (pai), Dick Cheney e Colin Powell (27 de Fevereiro de 1991) onde foi decidido o ataque contra o Iraque.

Obviamente, Wolfowitz trabalhou com o presidente G.W.Bush (o filho) e Donald Rumsfield na preparação da segunda guerra contra o Iraque. E do Afeganistão também.

Resumindo: é uma pena Wolfowitz não ter-se  limitado a simples ligações com os bancos…

Fechamos com o actual director do Banco Mundial: Robert Zoellick. Ex director da Goldman Sachs,  ex vice-presidente da Fannie Mae (o banco recentemente nacionalizado para evitar a bancarrota), foi também conselheiro executivo da Enron, a multinacional dos EUA que em 2001 faliu deixando um buraco de 60 biliões de Dólares.

Com um curriculum deste, chegar ao topo do Banco Mundial era o mínimo.

Moral

G.W.Bush e Robert Zoellick (Fonte: Life)

Esta lista demonstra uma coisa bastante simples: os directores do Banco Mundial, sempre escolhidos entre Americanos, nunca foram sujeitos imparciais e sempre (com apenas um excepção) revelaram fortes ligações com bancos ou grandes empresas privadas dos Estados Unidos.

Na lista apenas citada aparecem os nomes Morgan Chase, Rockfeller, Rotschild, Citigroup, Goldmans Sachs, BankAmerica. Nomes já encontrados vezes sem conta..

É normal que homens de sucesso possam alcançar posições de topo.
É menos normal que as posições de topo sejam constantemente alcançadas por elementos com a mesma proveniência.

Como ponto de partida do Banco Mundial não é grande coisa.

Acaba aqui a  primeira parte do artigo. Em breve a segunda.

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