A escolha da Índia – Parte II

Segunda e última parte do artigo acerca da Índia.
A primeira parte pode ser encontrada aqui.

Reposicionamento estratégico? 
No entanto, a posição da Índia está a tornar-se mais complicada e exigem uma análise muito complexa.
 
Os acontecimentos do Afeganistão nas últimas três décadas tiveram um grande impacto na política externa da Índia e continuam a produzir efeitos.
 

A ascensão do Talebães em meados dos anos 90 teve como resultado uma aproximação de Nova Deli com Teheran e Moscovo, Países muito activos no apoio à chamada Aliança do Norte, facão não pashtun contra o regime Taliban.
 

Após a ocupação do Afeganistão pelos EUA e os seus aliados em Outubro de 2001, a Índia foi um dos Países mais activos na reconstrução do Afeganistão e é actualmente um dos maiores doadores do governo de Cabul.
 
As boas relações com o governo liderado por Karzai, que acabou os seus estudos na Índia e mantém laços pessoais com esse País, e a implementação de projectos de infraestrutura têm como objectivo fundamental forjar uma aliança capaz de conter a influência exercida pelo Paquistão.
 
A presença indiana no Afeganistão é, portanto, uma grande preocupação para Islamabad, e tem desempenhado um papel muito importante na definição da política adoptada pelo Paquistão no país vizinho. O medo dum governo pró-Índia em Cabul após a retirada das tropas estrangeiras, levou Islamabad a apoiar com decisão os grupos militantes que têm as próprias bases operacionais na região oeste do Paquistão.
 

O objectivo é usar esses grupos como activos estratégicos, uma espécie de bónus para ser utilizado quando necessário.
 

Esta altura parece agora ser alcançada e a tentativa do governo de Karzai de negociar com o Talibães está a dar razão à estratégia do Paquistão.
 
A admissão de Obama de não abdicar do apoio de Islamabad para pôr fim ao conflito que há anos rasga o Afeganistão, soa como uma espécie de rendição e abre oportunidades importantes para a política externa paquistanesa.
A aproximação entre Zardari e Karzai, nos últimos meses, constitui mais uma evidência do que está a acontecer hoje em Cabul.
 
Os Estados Unidos já perceberam de não poderem conseguir uma vitória real sobre os talibães e, assim, decidiram tomar o caminho das negociações; portanto, não podem prescindir do apoio das forças armadas e da inteligência paquistanesa.
 
A promessa de Obama ao governo indiano de empenhar-se para que Nova Délhi possa obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, soa um pouco como um calmante, no entanto difícil de conseguir, para colocar um freio na ansiedade crescente na Índia.
 
Os acontecimentos no Afeganistão estão a realçar uma verdade que os Estados Unidos terão de enfrentar nos próximos anos: é extremamente difícil manter relações de cooperação com a Índia e o Paquistão.
A incapacidade de resolver o problema da Caxemira exige, por parte de Washington, um contínuo navegar entre as reivindicações indianas e paquistanesas reivindicações, muitas vezes incompatíveis uma com as outras.
Ao longo do tempo, será cada vez mais difícil manter o equilíbrio entre Islamabad e Nova Délhi e, salvo uma improvável aproximação entre os dois Países, os Estados Unidos poderiam ser chamados a fazer uma escolha final.
 
Paquistão e Índia estão conscientes disso e estão ambos a tentar ganhar maior poder de negociação com Washington.

 

A Índia acena ao Irão
Enquanto Islamabad está empenhada em aprofundar os laços históricos com Pequim, especialmente do ponto de vista militar, a Índia está a tentar encontrar uma posição de maior independência no que diz respeito a política externa.
 
Embora o objectivo pareça ainda distante, alguns sinais são já perceptíveis nas suas relações com o Irão.
 
Remontam ao passado 28 de Outubro, por exemplo, as declarações do governo indiano sobre a alegada vontade de retomar o diálogo com Teheran para construir um gasoduto que ligaria o Irão, o Paquistão e a Índia.
A forte oposição de Washington contra este projecto, e os problemas que caracterizam a região do Baluchistan, no Paquistão, até agora têm dificultado a sua realização.
 
No entanto, as crescentes necessidades energéticas da Índia poderiam obrigar a explorar percursos nada simpáticos aos olhos de Washington.
 

A recente notícia do acordo alcançado pelos governos do Turcomenistão, Afeganistão, Paquistão e Índia para a construção do gasoduto TAPI, que parece ir na direção oposta de quanto afirmado, mas as dúvidas sobre a capacidade real do Turquemenistão em bombear gás suficiente, bem como os problemas de segurança que afligem o território afegão, podem causar atrasos consideráveis na execução do projecto, forçando os Países da Ásia do Sul a buscar rotas alternativas.
 

A parceria entre Nova Deli e Teheran engloba vários outros projetos e, portanto, não pára num só gasoduto.
O porto iraniano de Chabahar é o objetivo central desta cooperação.

 Projectado e financiado pela Índia, este porto tem um importante valor estratégico.

A importância de Chabahar está ligada, por exemplo, a sua capacidade de actuar como saída para os recursos energéticos da região da Ásia Central, permitindo à Índia fortalecer as relações comerciais com estes Países considerados de extrema importância para o desenvolvimento econômico .
 
Chabahar (Fonte: Google)

Além disso, através Chabahar, a Índia é capaz de contornar o Paquistão e exportar os seus produtos para o Afeganistão e outros Países da região. O novo acordo de trânsito, assinado pelo Afeganistão e Paquistão, de facto não permite que Nova Délhi use o território paquistanês no transporte de mercadorias para exportação; Chabahar é a melhor alternativa.
 
O Irão satisfaz cerca de 15% das necessidades energéticas da Índia, uma proporção bastante baixa considerando o enorme potencial dos campos de gás património iraniano.
 

No entanto, ainda é cedo para a Índia adoptar posições não bem-vindas em Washington e, por enquanto, Nova Deli está envolvida na acção de mediar entre o Irão e os Estados Unidos.
Apesar da oposição indiana ao assunto nuclear em Teheran, o País sul-asiático está a tentar para que novas sanções contra o Irão não sejam aprovadas.
 

Cúmplices os interesses económicos de empresas da Índia, Nova Deli está a tentar suavizar a posição dos EUA sobre o assunto e tem como objectivo último o de afastar o isolamento em que o Irão está agora, para que possa continuar a desenvolver o enorme potencial para uma cooperação económica e eventualmente política.
 

Os interesses que unem os dois Países são vários e vão desde a energia ao Afeganistão, para não mencionar o facto da Índia ser o lar da maior comunidade xiita no mundo depois do Irão.
 
Há muitas variáveis envolvidas também, ao ponto de ser arriscado fazer previsões das dinâmicas geopolíticas que caracterizam o futuro próximo.
 
Os sinais que recebemos hoje são muitas vezes em conflito, e também sujeitos à volatilidade do presente; portanto, capazes até de inverter o rumo.
 

Mas o que é certo é que na Ásia estamos a testemunhar uma redefinição clara do equilíbrio de poder e nenhum dos actores envolvido deixará de tentar tudo para obter o melhor…

Fonte: Eurasia
Tradução: Informação Incorrecta

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