Deslocação em curso

O mundo até agora conhecido está a desmoronar-se com uma certa rapidez.

Enquanto os Países ocidentais se reúnem em Lisboa para tentar justificar uma Nato tornada um poço sem fundo que engole dinheiro e exporta conflitos não resolutivos, outros Países encontram-se para escrever o futuro dum planeta já não apenas bipolar.

Quando Informação Incorrecta abriu, logo começou a falar em “deslocação geopolítica”.
E agora podemos observar os primeiros resultados.

China e Rússia decidiram abandonar o Dólar dos EUA para usar as próprias moedas para o comércio bilateral. Assim anunciaram terça-feira o Primeiro-Ministro Wen Jiabao e o seu colega russo, Vladimir Putin.

Os dois Países costumavam usar outras moedas, principalmente o Dólar dos EUA para o comércio bilateral, no entanto altos funcionários de ambos os lados passaram a considerar outras possibilidades.

Afirmou Putin após ter encontrado Wen:

Isso forjou um passo importante no intercâmbio bilateral e é o resultado de consolidados sistemas financeiros dos Países do mundo

Ambos também assistiram a uma cerimónia de assinatura de 12 documentos, incluindo a cooperação energética.

Estes documentos incluíam a cooperação em matéria de aeronáutica, a construção de estradas, as alfandegas, a protecção da propriedade intelectual, a cultura. Ainda não foram tornados públicos os detalhes.

Putin disse que um dos dois acordos entre os Países é a compra de dois reactores nucleares por parte da Rússia, cuja origem será a central nuclear em Tianwan, o complexo mais avançada na China.

O Primeiro-Ministro russo Igor Sechin, disse que é improvável que Moscovo e Pequim possam concordar antes da metade do próximo ano o preço dos fornecimentos de gás russo para a China.

A visita de Wen segue à de três dias na China do presidente russo, Dmitry Medvedev, em Setembro passado, durante a qual tanto ele como o presidente Hu Jintao lançaram um gasoduto que uniu o maior produtor de energia do mundo com o maior consumidor de energia.

Wen, numa conferência de imprensa, disse que a parceria entre Pequim e Moscovo “alcançou um nível sem precedentes” e espera que os dois Países “nunca se tornem inimigos.” e acrescentou:

A China vai apoiar firmemente o desenvolvimento pacífico e o renascimento da Rússia como grande potência

Tradução: A China está à procura dum parceiro forte para fazer frente aos Estados Unidos. A Rússia promete bem.

A modernização da China não vai afectar os interesses dos outros Países, enquanto uma relação sino-russa forte e sólida está em consonância com os interesses fundamentais dos dois Países

Tradução: A modernização da China vai criar grandes problemas aos Estados Unidos, não à Rússia que ficou nossa amiga.

Wen disse que Pequim tem vontade de reforçar a cooperação com Moscovo no nordeste da Ásia, na Ásia Central e na região Ásia-Pacífico, bem como em grandes organizações e mecanismos internacionais para o objectivo duma “nova ordem justa e razoável” na política internacional e na economia. 

Tradução: Estamos fartos dos EUA que fazem o que lhe apetecer até no nosso mar. Isso vai mudar.

Pang Zhongying, especialista em política internacional da Universidade Renmin da China, disse que “a proposta não é para desafiar o Dólar, mas procura evitar os riscos que ele representa.”

Tradução: A proposta é para desafiar o Dólar, ainda por cima numa altura em que este está mesmo fraco.
 

Fonte: Café Humanité
Fotografias: Life

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