O pântano

Para entender como está a Nato no Afeganistão apenas dois episódios que ocorreram esta semana.

1. O amigo Irão

Segunda-Feira houve em Roma, Italia, a reunião dos representantes dos 45 Países que ocupam aquele País. 

Inesperadamente, houve também um iraniano do establishment, Ali Oanezadeh, para o qual os Americanos mostraram uma invulgar cordialidade.  
No final Richard Holbrooke (conselheiro especial do presidente Barack Obama e da Segretária de Estado Hilary Clinton) disse:

Reconhecemos que o Irão tem um papel para desenvolver com o objectivo de encontrar uma solução.  

Mas como? O Irão não era um dos três Países do Eixo do Mal, um dos Estados Sacanas, violador de direitos humanos?
E a pobre Sakineh, no fundo culpada só de ter feito matar o marido? 

Nada, tudo fechado numa gaveta por enquanto. 
Para ganhar no Afeganistão até o Irão é bom.

 2. A notícia ridícula

O segundo episódio é acerca das notícias segundo as quais haveria negociações em Kabul entre Hamid Karzai (presidente do Afeganistão desde 2004) e “altos comandos” talibãs directamente ligados ao Mullah Omar (leader do movimento dos Talibãs), sob os auspícios do lendário general Petraeus que até teria facilitado a transferência, via aérea, dos negociadores.

Uma notícia ridícula.
Se os Americanos soubessem onde ficam estes “altos comandos” já os teriam bombardeados, tal como fizeram com os outros líderes dos Talibãs.

É um estratagema para tentar dividir os Talebâs, como declara Abdul Salan Zaeef, o ex-embaixador do do governo talibão em Islamabad, capturados após a queda do Emirado e, antes de acabar na Baía de Guantánamo, passado pelas prisões de Bagram e Kandahar, onde foi desnudado e ridicularizados por homens e mulheres militares dos EUA, enquanto outro tirou fotografias; mas que tem ficado afastado do movimento do Mullah Omar. 

Mas o facto de ter perdido quase 5.000 homens ao longo da última ofensiva de Petraeus não pode ter convencido os Talibãs a aceitar as negociações?
Responde Zaeef:

Quem espalha esta lenda não sabe nada dos Afegãos. Se alguém mata o meu irmão eu tenho até de morrer para vinga-lo. Petraeus lançou uma grande ofensiva, mas reforçou a guerrilha. Somos feitos assim. A guerra faz parte da nossa cultura. Quanto mais nos matam mais nos tornamos duros e difíceis.

Na realidade, contactos entre os enviados de Karzai e Omar estão em andamento há um ano. Não em Kabul mas na Arábia Saudita, sob o patrocínio do príncipe Abdullah. Mas a condição prévia, para Omar, antes de qualquer negociação, é que as tropas estrangeiras devem partir  
Explica Zaeef::

Essas condições não mudaram. Para os Talibãs, o Afeganistão está sob ocupação estrangeira  desde 2001, não reconhecem Karzai, o governo, a Constituição, as eleições. Assim, antes a coligação tem que retirar-se, depois será trabalho dos Talibãs tratar como resto do País. Então nós pensamos que o Taliban para lidar com o resto do País.  

Seria a coisa certa: são eles, os Afegãos que têm de decidir o próprio destino.  

E a exit strategy, estratégia de saída? 
Fomos nós que criámos o pântano, teremos de sair cobertos de lama.

3. Bin Laden e o dom da ubiquidade

E, para acabar, uma notícia do passado dia 18.

Bin Laden? No Paquistão. Palavra da Nato.

O chefe da al-Qaeda, Osama bin Laden, e o número dois da rede terrorista, Ayman al-Zawahiri, vivem sob protecção no nordeste do Paquistão, referiu um alto responsável da NATO citado pela cadeia de televisão CNN. 

O responsável da NATO afirmou ainda, sob anonimato, que o chefe dos Talibãs afegãos, Mullah Omar, se deslocou nos últimos meses entre as cidades paquistanesas de Quetta (sudoeste) e Carachi.

De acordo com esta fonte, o líder saudita da al-Qaeda, procurado pelos Estados Unidos por ter ordenado os ataques de 11 de Setembro de 2001, vive em boas condições numa das zonas tribais fronteiriças com o Afeganistão “sob a protecção dos habitantes e de certos elementos dos serviços secretos paquistaneses”.

De acordo, de acordo.

Mas não vivia numa caverna?
Nem por isso, agora está no Paquistão e vive em “boas condições”.

Mas não tinha estabelecido a própria base no Irão, tal como afirmaram os serviços secretos israelitas?
Sim, mas o bom Bin gosta de viajar: um dia o Irão, outro no Afeganistão, pois no Paquistão…afinal é apenas o homem mais procurado do mundo, qual o problema?

Ok, não importa. Afinal onde está precisamente agora?
Simples:

Diversos responsáveis norte-americanos, incluindo recentemente a secretária de Estado Hillary Clinton, afirmaram que Bin Laden se encontrava nas zonas tribais isoladas do noroeste paquistanês.(Expresso)

Ah.

Diversos especialistas sobre a Al-Qaeda consideraram que o chefe da rede terrorista se encontra no norte do Waziristão, um dos distritos montanhosos e definido como um dos principais refúgios dos talibãs afegãos e paquistaneses e dos seus aliados da Al-Qaeda.(Jornal de Notícias)

Ahe?

O funcionário disse à CNN que nos últimos anos Bin Laden tem-se movimentado a partir da região montanhosa de Chitral, no extremo Noroeste do Paquistão, perto da fronteira chinesa, junto ao Vale Kurram, também zona de fronteira com o Afeganistão.(IOL)

Com certeza.

A Nato acredita que Bin Laden se tenha escondido na região de Tora Bora (IOL)

Mais?

“É uma afirmação sem base. Nós a rejeitamos”, disse um funcionário do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, pedindo anonimato. Segundo ele, não há provas para sustentar a matéria e a intenção dela é apenas “difamar o Paquistão”.(Estadão via Yahoo)

 
Para a comodidade do leitor, reunimos num mapa as localizações do bom Bin:

1: Bin Laden está aqui: Chitral
2: Bin Laden está também aqui: Zona de Tora-Bora
3: Bin Laden está também aqui: Região do Warizistão
4: Bin Laden está noutro mapa segundo o governo do Paquistão

Só para ter uma ideia, entre a localidade de Chitral e do Warizistão a distancia ultrapassa os 400 quilómetros…

Fontes: Il Fatto Quotidiano, Jornal de Notícias, Expresso, IOL, Estadão via Yahoo

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.