217 Dólares em armas

Quanto gasta o mundo em armas? Muito, mas muito mesmo.
E não é preciso ser um pacifista extremista para achar o montante algo de astronómico: é mesmo muito dinheiro. É suficiente pensar que cada um de nós gasta, a cada ano, mais de 200 Dólares em armas.

Os leitores não concordam com este gasto? Concordam sim, pois são os representantes escolhidos nas eleições que decidem estas despesas.

O investigador e analista de idioma espanhol Manuel Freytas analisou os dados publicados pelo Instituto de Investigação para a Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI).

E os dados são impressionantes: a despesa militar mundial aumentou 4% em 2009 e atingiu o recorde de 1,464 bilhões Dólares, 50% mais do que em 1999.
Este valor é equivalente a 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e a 217 Dólares por cada habitante do planeta, de acordo com a organização sueca.

“A crise financeira global não afectou os rendimentos e os lucros das empresas de armamento mais importantes,” disse o SIPRI. 

Crise ou não crise?

Enquanto os governos reduzem (ou tentam reduzir) os deficit com medidas selvagens e o G20 promete mais redução nos orçamentos dos Estados, os gastos militares continuam a crescer, imparáveis.

“Nos Países que compõem o Conselho de Segurança da ONU, os gastos militares têm aumentado continuamente desde 2000”, disse à BBC Carina Solmirano, analista do SIPRI.

Em 2009, apesar da crise financeira e da recessão económica, o investimento global no sector da defesa aumentaram quase 6% em termos reais (tendo em conta a inflação).

Em Fevereiro deste ano, o governo de Barack Obama anunciou que os gastos militares em 2011 seriam 750.000 milhões de Dólares, mais 31.000 milhões do que em 2010 e quase 100.000 milhões mais que em 2009.

A Europa não escapou a esta tendência. Em 2009, os gastos militares aumentaram 2,7%.

A China, tal como a Rússia, triplicou os seus gastos em armamentos no últimos dez anos e em 2008 alcançou pela primeira vez o segundo lugar na lista, atrás dos EUA.

O SIPRI estima que as compras de armas da China totalizaram 84.900 milhões de Dólares, o que representa 6% das despesas militares mundiais, à frente da França

No Reino Unido, o orçamento militar ultrapassa 55.000 milhões de Dólares e o governo tem que decidir este ano se pretende renovar o Trident, o próprio sistema de armas nucleares, com um custo estimado de mais de 150.000 milhões de Dólares.

Organizações não-governamentais britânicas, como Women in Black, que se opuseram à renovação do sistema, estão em campanha para que seja revogado o Trident para poder lidar com um deficit que ultrapassa os 200.000 milhões.

Situações semelhantes enfrentadas por governos europeus em relação a outro factor no aumento dos gastos militares: o conflito no Afeganistão.

De acordo com o SIPRI, no final de 2009 a Grã-Bretanha tinha programado despesas para um total de 5.400 milhões (o 9,2% das despesas militares); a Alemanha  792 milhões (1,7%) e a França um total de cerca de 458 milhões (1 %).

“Este impacto é claramente observado nos Estados Unidos, pois a participação nos conflitos no Iraque e no Afeganistão têm implicado um forte aumento nos gastos militares”, disse a Solmirano.

Mas os gastos militares também servem para reactivar a economia em tempos de crise.

De acordo com o Prémio Nobel de Economia, Paul Krugman, os EUA emergiram da recessão de 1937 graças à recuperação da economia durante a Segunda Guerra Mundial.

De acordo com o SIPRI, em 2004, quase três milhões e meio de Norte-Americanos têm empregos relacionados com a área da defesa. Entre os militares e civis é possível acrescentar mais dois milhões.

A lobby da indústria dos armamentos observa que os gastos militares criam postos de trabalho, actividade económica e receitas fiscais.

No entanto, um estudo realizado pelo instituto Foreing Policy in Focus de Washington, que comparou o nível de emprego gerado com um investimento de 1.000 milhões de Dólares em defesa, saúde e energia limpa, concluiu que o sector militar é o menos eficiente em termos de criação de emprego e benefícios económicos e sociais.

Um aumento significativo nos orçamentos militares foram registados também na Índia, Arábia Saudita, Irão, Israel, Brasil, Coreia do Sul, Argélia e Grã-Bretanha, de acordo com os dados do SIPRI.

A lista continua com a Turquia, Singapura, Paquistão, Malásia, Marrocos, Líbia, Egito, Irã, África do Sul, Sudão, Venezuela e Chile.

Os cinco maiores fornecedores de armas nos últimos cinco anos foram os EUA, Rússia, Alemanha, França e Grã-Bretanha, responsável por mais de 75% das exportações de armas convencionais.

A guerra contra o “terrorismo”

O actual orçamento da defesa dos EUA já seria superior em 50% ao total dos gastos em armamentos do mundo.

Mas, também, os EUA são o principal exportador de armas. Loren Thompson, do instituto de análise Lexington Institute , estima que no prazo de dez anos a indústria das armas poderia tornar-se a primeira fonte de exportação nacional.

“A ideia da “guerra contra o terrorismo” tem encorajado muitos Países a observar os próprios problemas através de uma lente altamente militarizada, usando este argumento para justificar o alto gasto militar”, diz Sam Perlo-Freeman, um pesquisador do Instituto sueco.

Desta forma verifica-se a relação directa da “guerra contra o terrorismo” com os ganhos e a expansão dos consórcios de armamento dos EUA, empresas que são, juntamente com as do petróleo e as empresas de serviços (incluindo as empresas de “segurança privada”), os principais beneficiários das invasões e ocupações militares no Iraque e no Afeganistão, como dos conflitos actuais e potenciais no Médio Oriente e em todo o planeta, que incluem a acção planeada contra o Irão e a Síria.

Em suma, os 1,464 bilhões de Dólares de gastos militares do planeta e a expansão geométrica dos lucros das lobby dos armamentos americanas e europeias são a prova mais irrefutável da relação simbiótica de sobrevivência estabelecida entre o sistema económico actual, os conflitos armados e as ocupações militares.

Um alimenta o outro, e todos são  parte de equação e pedra angular do sistema que controla o mundo hoje.
Como já tivemos ocasião de afirmar: Bin Laden pode estar morto, mas o terrorismo dá um jeitão…

Ipse dixit.

Fontes: IAR Notícias, SIPRI,
Tradução: Informação Incorrecta

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