Papandreou Parte I: A culpa? Dos outros.

Foi o protagonista da tragédia grega e desenvolveu um papel de primeiro plano na crise da União Europeia.

É ele, George Papandreou, Primeiro Ministro da Grécia.

El Pais escolheu falar com ele na tentativa de fazer um pouco de clareza: o que se passou em Atenas e não só.

Resultado: respostas insultuosas para a inteligência do leitor.
A culpa do estado da Grécia? Do governo anterior.
A responsabilidade da crise europeia? Dos especuladores.

Este o ponto de vista infantil do homem ao qual a UE e o FMI decidiram entregar 1 trilião de Dólares, dinheiro dos contribuintes europeus e americanos também.

A entrevista é comprida, por isso optámos por dividi-la em duas partes: perante tantas banalidades a paciência do leitor pode atingir o limite de forma bastante rápida. Melhor não abusar.

A culpa? Do governo anterior

O facto das coisas terem corrido tão terrivelmente mal é a prova de que a democracia tem falhado?

Não só na Grécia. Como aconteceu na Grécia, também aconteceu em Wall Street: a falta de transparência, as forças do mercado fora de controle. E eu diria que não só as forças do mercado, mas alguns jogadores dentro do sistema financeiro utilizaram o mercado, as inovações financeiras, e houve políticos que pressionaram para evitar os controlos necessários. Bancos grandes demais para falir, bancos de investimento e bancos comerciais, com laços estreitos nos EUA, etc, e isso provocou muitos dos problemas; são os derivados, a especulação; é a falta de transparência. Esses problemas foram, de facto, uma falha da democracia, das nossas instituições democráticas, têm sido explorados, não só pelas forças do mercado em geral, mas também por interesses muito específicos que queria aumentar os próprios lucros e poder.

E na Grécia?

A mesma coisa aconteceu na Grécia. Nós tivemos um governo anterior, conservador, que foi basicamente sequestrado por interesses específicos e que geriu mal a economia, ajudando muitas poucas pessoas realmente. Sabíamos que tínhamos de fazer grandes mudanças na Grécia: cortar a burocracia, o sector público muito grande, não porque  destinados para a assistência social, saúde e educação, mas porque faziam muito favoritismo. Havia favores políticos, grandes cortes de impostos para os ricos, evasão fiscal, corrupção também… A combinação de tudo isso fez que o sistema, o sistema económico, não fosse viável. A Brookings Institution, diz que se reduzirmos a falta de transparência e corrupção, isso poderia significar até 8% do nosso PIB, 20 mil milhões de euros para a Grécia. 8% é uma percentagem enorme. Então estamos a falar aqui é de má gestão, é claro, do governo anterior. Mas no final são os cidadãos que têm de pagar.

Isso leva muitos a considerar que são os mercados a ditar as condições para as democracias. Há acusações na Grécia de que o FMI Grécia é um grupo com conotações golpistas; também em Espanha começam a circular vozes no mesmo sentido. Realmente acredita que os mercados estão a impor-se às democracias?

É preciso fazer uma distinção entre os mercados e o Fundo e a União Europeia. O FMI e a União Europeia e o novo mecanismo que foi criado estão aí  para intervir nos mercados e dizer: “Parem!”.

A culpa? Dos búfalos

E os próprios mercados? Porque quando os políticos atacam o mercado, não deveriam também reconhecer que talvez tudo isso acontece porque o financiamento é necessário, ou seja, dinheiro, e muito, dos mesmos investidores, agora parece um pouco mais arriscado emprestar dinheiro para a Grécia do que para a Alemanha, por exemplo.

Duas notas acerca disso. Devemos fortalecer as nossas economias. Mas por outro lado, quando temos um programa para fazer isso, precisamos de apoio para que os mercados simplesmente não saiam do controle ou especulem. Espanha e Portugal não estavam tão mal, mas têm sido vítimas desta histeria. Quando apresentamos os nossos resultados de forma transparente, os mercados, que estavam muito assustados com o que tinha acontecido em 2008, reagiram violentamente. Fizemos três pacotes. E cada vez que os mercados começavam a acalmar-se, mas depois voltava a agitação. E eu acho que foi por duas razões. Uma, por medo: era um pouco como uma manada de búfalos, que são calmos e de repente se agitam e começam a correr.

Nós tomávamos medidas, se acalmavam um pouco. Mas também tivemos especuladores fora dos mercados, fazendo barulho fora da manada para que houvesse outra confusão. Assim, a bola foi se tornando cada vez maior. E nós dissemos, e isso foi dito desde o início, que é aí onde temos de intervir nos mercados. Para entender a crise financeira grega é necessário coloca-la num contexto mais amplo. Após a primeira fase da crise, eu e outros líderes sublinhámos a necessidade de tomar medidas urgentes para regular o sistema financeiro global. Infelizmente, a comunidade internacional não reagiu a tempo. O resultado foi, então, que os especuladores atacaram a União Europeia, individuando a Grécia como primeiro objectivo. A Grécia tinha acabado de eleger um novo governo. O anterior, do partido conservador Nova Democracia, tinha deixado a economia num estado lastimável, e quase duplicou a dívida pública em cinco anos.

Agora, não é suficiente que um país de imponha medidas de austeridade. Também é preciso o apoio da força da União Europeia e do BCE e da Comissão e, naturalmente, a UE decidiu incluir o FMI. Portanto, esta é uma intervenção básica nos mercados para que a agitação não arraste não só a Grécia, mas também muitos outros Países.

A culpa? Da Merkel

Não poucos são os que culpam Angela Merkel pelo atraso com que a Europa tem enfrentado esta crise. Concorda com eles?

Deixe-me expressa-lo desta forma: duas coisas, que podem parecer contraditórias, mas são verdadeiras. A Europa tem sido lenta para tomar decisões, mas por outro lado, a Europa tomou as decisões mais rapidamente do que nunca. Deixe-me esclarecer.
A União Europeia demorou para perceber que o ataque dos especuladores contra a Grécia foi apenas uma etapa antes de atacar outros Países e até mesmo ameaçar a estabilidade da zona euro. Felizmente, agora toda a gente percebeu o que está acontecendo e estamos trabalhando em conjunto para tomar as medidas necessárias e blindar a área do euro contra os especuladores. Devemos fazer o mesmo a nível global, com o G-20. Por outro lado, todas as mudanças que temos feito, mudanças fundamentais na maneira de gerir a zona euro, são históricas.  Não tínhamos estes mecanismos. No entanto, o facto de ter feito isso em três meses, foi uma grande mudança para a Europa. No entanto, os mercados foram mais rápidos do que nós. E esta é outra questão que precisa de atenção. Todos sabemos que cada País tem as suas políticas. Somos uma União complicada. Temos diferentes instituições. Mas, na minha opinião, acho que o que está errado é que não precisamos de menos, mas de mais Europa, mais integração, mais coordenação, mais instituições europeias que possam lidar com este tipo de coisa com muita rapidez.

O ressentimento que tem sido criado entre a Grécia e a Alemanha é irreparável?

Eu diria que não. Não é irreparável. Eu diria que não há ressentimentos. Mas eu acho que o tem incomodado as pessoas é o que nós consideramos os preconceitos e estereótipos. Na Alemanha, o estereótipo é: “Por que estamos pagando para os vagabundos dos gregos?”. Na Grécia é possível ouvir estereótipos sobre os alemães. Então, há alguma animosidade. Mas, na verdade, precisamos uns dos outros. Os estereótipos nunca contribuíram para a Europa. Eles criam inimigos. Já pagámos por estas animosidades no passado.

Como é agora o seu relacionamento pessoal com Angela Merkel, após tantas semanas cruciais para a Europa, tentando decidir se o desejos era ajudar ou punir?

Nós fomos muito honestos um com o outro. Eu disse publicamente, e também disse-lhe pessoalmente, que sem agir rapidamente terias sido possível entrar numa fase de contagio. E não foi só a minha opinião mas a de muitos outros. A maneira de ver dela era que os mercados teriam regido positivamente, mas não foi o que aconteceu. Ao mesmo tempo, eu entendo que ela tem problemas constitucionais e outros …

… política interna.

– De política interna. Mas isso faz parte da nossa vida política. Assim, num nível pessoal, temos um bom relacionamento, um relacionamento sincero.

 
A segunda parte da entrevista pode ser lida aqui.

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Fonte: El País
Tradução: Massimo De Maria

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