Jeidai Minjian

A China? Fica longe.

Mesmo assim, as preocupações são as mesmas presentes no resto do mundo, como é óbvio.

O dinheiro, por exemplo. Os Chineses sabem que a própria economia enfrenta alguns problemas. Nada de grave, por enquanto, nada de comparável com a tragédia grega ou os pesadelos europeus.
Mas os efeitos são percebidos pelas empresas, grandes ou pequenas.
E os problemas estimulam a procura para novas soluções.

Neste artigo de Gillian Tett, publicado no Financial Times de hoje, o autor fala dum fenómeno ainda desconhecido na Europa. E pinta o retrato dum enorme País que continua a olhar para o futuro com esperança e, ao mesmo tempo, tenta isolar-se (especialidade chinesa) da crise que aperta o Ocidente.

Jeidai Minjian

Este ano, um curioso tipo de banco “subterrâneo” está proliferando em algumas partes da China. Chamado jeidai minjian, permite que as empresas chinesas a peçam dinheiro emprestado a curto prazo de famílias abastadas, ao invés de bancos, através de um agente armado de telefone celular.

No papel, a prática parece quase lógica. Muitas pequenas e médias empresas na China estão com dificuldades para obter empréstimos de bancos, e muitos lares chineses precisam desesperadamente dum lugar onde colocar o próprio dinheiro, fora dum sector imobiliário sobreaquecido ou dum mercado das acções em queda.

Mas há um pormenor. Como a prática é ilegal, as taxas de empréstimos são muito altas: além disso ninguém sabe quanto extensa possa ser essa prática. Na cidade de Qingdao, que visitei outro dia, alguns banqueiros e funcionários suspeitam que o minjian jeidai possa representar mais de 10 por cento das finanças locais, uma soma enorme. “Mas ninguém realmente sabe”, disse um oficial: oficialmente esta prática não existe mesmo.

Nos últimos dias, os mercados têm oscilado de forma violenta, tem havido um grande número de declarações preocupadas sobre os dramas duma zona euro em erupção. Os mercados também são atingidos pela incerteza da regulamentação financeira.

No entanto, do outro lado do mundo existe outro, menos discutido, conjunto de riscos: a incerteza que paira sobre a China, cujas actividades misteriosas no sector jeidai minjian são apenas um pequeno exemplo. Para obter alguma certeza, a China produziu muitas notícias macro-económicas optimistas nos últimos meses. E alguns observadores continuam a ser muitos optimista também sobre as perspectivas do país.

A China? 14 vezes a Grécia

Goldman Sachs, por exemplo, enviou uma nota de pesquisa para os próprios clientes no início desta semana, que sugeria ser ridículo para os investidores gastar muito tempo preocupando-se com os males da zona euro quando países dos mercados emergentes, como a China, são susceptíveis de fornecer os motores principais do crescimento nos próximos anos. “A China é cerca de 14 vezes maior do que a Grécia”, salienta esta nota, antes de concluir que a China ainda parece estar no bom caminho para o crescimento constante, sustentável.

No entanto, nem todos são tão optimistas. No mês passado, o mercado accionista chinês caiu 20 por cento, com os investidores locais a tomar um susto e com os esforços do governo chinês para esfriar o mercado imobiliário sobreaquecido. Em cidades como Qingdao, há também a preocupação sobre nível de sofrimento que os exportadores vão sofrer perante uma queda na procura europeia, resultado dos dramas do euro. Uma vez que a moeda local é atrelada ao dólar, os produtos chineses estão agora menos competitivo na Europa.

Afinal, apesar de um vago sentimento de optimismo sobre a China ter sustentado o debate sobre o investimento no mundo ocidental durante o último ano, o fato é que poucos investidores ocidentais realmente sabem o que vai ou não acontecer no terreno chinês. O padrão não é muito diferente do mercado da habitação dos EUA há cinco anos, quando os investidores tinham ideias vagas pelas quais os mercados imobiliários estariam sempre a subir, e, portanto, devoraram as obrigações hipotecárias; mas ignoravam os detalhes de como os empréstimos subprime funcionasse.

Desta vez, ainda há razão para pensar que o conto da China terá um final melhor do que a saga do subprime: afinal, a liderança chinesa age (geralmente) de forma sensata. Mas se esse optimismo estiver errado, o “choque futuro” pode ser doloroso. Basta lembrar, para citar Goldman Sachs, que a China é catorze vezes maior do que a Grécia, e ainda mais opaca.

Fonte: Financial Times
Tradução: Massimo De Maria

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