A cabeça e a areia

De Petrolio, da jornalista Debora Billi, uma série de actualizações: o que acontece com a maré negra?

Não é fácil encontrar notícias actualizadas pois também os diários deixaram de tratar do assunto.

É possível encontrar tópicos excepcionais, como “O mistério da ida das mulheres ao WC” (diário Expresso, Portugal), ou “Britânico que ganhou R$ 26 mil na loteria quer emprego de lixeiro de volta” (O Globo, Brasil).
Assuntos empolgantes, sem dúvida: mas da maior catástrofe ecológica do planeta nada, nem um alinha.

Previsões petroleógicas

Os programas televisivos de metereologia da Flórida pelo contrário, já não mostram o avanço das nuvens mas as previsões sobre o movimento da maré negra.

Neste vídeo, o meteorologista mostra o caminho do petróleo no Gulf Stream, tal como previsto diariamente, até 28 de maio. Parece que não há escapatória.

Entretanto o petróleo atingiu a costa da Louisiana, onde só há poucos dias o governador proclamava indignado “O nosso litoral é imaculada!”.
Somos especialistas em enfiar a cabeça na areia.

Na Flórida, são encontradas bolas de alcatrão nas praias, mas os especialistas negam que a fonte seja a maré negra e argumentam que é alcatrão de…pois, de onde?
Todos com a cabecinha na areia?

Em seguida apareceu a notícia segundo a qual os EUA e Cuba estariam trabalhando lado a lado pela primeira vez em décadas, uma vez que o derramamento de óleo também ameaça atingir a costa cubana. O Estreito da Flórida é pequeno, o vento poderia levar a camada siltosa no norte da ilha. E estas observações, seja dito, aumentam a suspeita do que já é considerada inevitável a chegada do derramamento de óleo no Atlântico.

Aliás, segundo alguns o petróleo já estaria no bom caminho. Um investigador disse à Associated Press que os modelos de computador indicam que o petróleo já atingiu a poderosa rua de água conhecida como a Corrente do Golfo, o que pode empurrar o petróleo para o Oceano Atlântico.  

William Hogarth, reitor da Universidade de South Florida’s College of Marine Science:

Isso não pode ser encarado como ” não vai ser um problema “. Esta é uma área muito sensível. Estamos preocupados com o que acontece na Flórida Keys.

Hogarth disse que um modelo de computador mostra o óleo já entrou no circuito de corrente, enquanto um segundo mostra que petróleo fica a três milhas de distancia, perigosamente perto.

Hogarth afirmou que é ainda demasiado cedo para saber quanto petróleo irá alcançará a Flórida ou qual o dano que poderia fazer nas Keys ou praias na costa atlântica da Flórida. Concluiu que as argumentações da BP, segundo as quais o óleo seria menos prejudicial depois de ter viajado ao longo de centenas de quilômetros do local do derramamento, não foram tranquilizantes.

Legenda: Oil slick and Sheen: mancha de petróleo; Leaking Well: local da fuga; 
Fresh Oil: petróleo novo
(clicar para aumentar)

…e o ar?

Enquanto a tentativa é de monitorizar a situação no mar, com pouco sucesso dados os obstáculos colocados pela BP,  alguém lembrou-se de testar o ar no sul da Louisiana.

O resultado é publicado pela Louisiana Environmental Action Network, onde um especialista da Universidade de Princeton analisou os dados fornecidos pela Enviromental Protection Agency. Uma explicação vem do Institute for Southern Studies:

Por exemplo, o sulfeto de hidrogénio foi detectado em concentrações 100 vezes maior do limite. Entre os efeitos na saúde: irritação nos olhos e problemas respiratórios, náusea, tontura e dor de cabeça.
Os dados também mostram que os níveis de substâncias químicas voláteis (benzeno, tetracloroetano, etc.) ficam além das normas. Estes elementos podem causar os mesmos sintomas.

Os funcionários do governo negam. Mas na área afectada, os cidadãos começam a sentir a cada dia “cheiro” de petróleo.

Ipse dixit.

Fontes: Petrolio, Associated Press, Reuters, Louisiana Environmental Action Network, The Institute for the Southern Studies

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