As receitas milagrosas

Espanha e Portugal são os Países do grupo PIGS que nestes dias apresentam as próprias estratégias para a contenção e redução do deficit.

No entanto, Bruxelas pediu para que França e Italia também façam um pouco de ordem nas contas públicas.

O Reino Unido quer avançar com um corte de 7.000 milhões de Euros e também a Alemanha está prestes a “mexer” neste sentido: as promessas de baixa dos impostos ficam para uma próxima vez.

A receita milagrosa: Espanha

Começamos pela Espanha.
O governo de Zapatero fixou os seguintes pontos:

  • Corte de 5% nos salários públicos
  • Bloco dos aumentos ao longo de um ano
  • Investimentos públicos cortados no valor de 6 bilhões de Euros
  • Corte nas despesas dos governos locais no valor de 1,2 bilhões
  • Bloco das reformas
  • Cortes nos serviços sanitários
  • Cortes nas ajudas para as famílias com filhos.
A receita milagrosa: Portugal

E agora Portugal:

O governo de José Sócrates e o leader do maior partido da oposição, Pedro Passos Coelho, discutem as seguintes hipóteses:

  • Subida de 1% do IVA (de 20% para 21% e, no caso da reduzida, de 5% para 6%)
  • Subida de 1% no IRS para rendimentos até 2.375 Euros, 1,5% acima deste valor
  • Taxa de 2,5% sobre os lucros das empresas
  • Redução de 5% nos salários de políticos, gestores públicos e reguladores
  • Cortes em aquisição de bens e serviços por parte do Estado
  • Cortes nas transferências para os municípios
  • Imposto de selo sobre créditos ao consumo
  • Agravamento da taxa liberatória para rendimentos de capitais

Em duas palavras: cortes e taxas.

Funcionará? Depende.
Estas medidas sozinhas não são suficientes para resolver os problemas. Para isso é preciso que haja uma recuperação económica. A tanto esperada retoma. Não uma recuperação baseada nos jogos das mentes pensantes de Bruxelas, mas uma retoma real, com uma economia que funcione.

Dúvidas.
Mas diminuir os salários não implica menor consumo? Exacto.
E um menor consumo não prejudica a economia? Prejudica.

Então?

Então nada, é assim, pois as escolhas de Espanha e Portugal, aplaudidas pela União Europeia, apontam na direcção da austeridade, “esquecendo” a retoma.

A ideia é: por enquanto cortamos, se calhar algo irá acontecer…

A receita menos milagrosa: Roménia

E algo arrisca-se acontecer, de facto. Ninguém fala no assunto, mas a Roménia já avançou com cortes efectivos nos salários, nos serviços, nas reformas.
Consequências? Situação caótica, com as ruas invadidas pelos manifestantes, greves gerais, taxa de desemprego em subida.

Os órgãos de informação não falam disso? Ah, pois…

Espanha e Portugal não apresentam uma situação económico-social ao mesmo nível da Roménia, verdade: mas crescimento do desemprego e tensões sociais podem ser esperados neste lado do Continente também.

As outras soluções

Podem existir outras soluções? Talvez. Duas, para ser precisos.
1. hiper-inflação
2. reestruturação da dívida

O primeiro caso significa baixar a dívida. Mas também matar a economia e com esta o Euro. Por isso é melhor esquecer.

A segunda solução é muito dolorosa. Mas o problema não é este: o problema é que com uma reestruturação os jogadores não seriam só os governos e os cidadãos. Esta segunda hipótese vê o envolvimento dos bancos também, que deveriam participar de forma activa. Como? Abrindo os cofres.

Reestruturar significa, simplificando, reembolsar.

Por isso, acabar com o jogo da dívida que financia a dívida (que, é bom não esquecer, implica o pagamento contínuo de juros aos bancos) significa voltar a uma economia mais clara e, sobretudo, mais real.

Problema.
Segundo as projecções para o ano 2011, os Países com um ratio dívida/PIB maior de 90% são:

Italia
Bélgica
Grécia
Portugal
Grã Bretanha
EUA
Japão

E as previsões para os próximos anos são ainda piores: no médio prazo também Países como Alemanha, Áustria e França entrariam no alegre grupo.

Uma reestruturação nestas condições seria praticamente impossível. Demasiado maciça.

Por isso, ou algo é feito agora ou será demasiado tarde. Cortar salários e subir impostos podem implicar sofrimentos inúteis sem uma revisão mais profunda do sistema.

Ipse dixit.

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