Do PEC e de outras amenidades

Vamos ver mais em pormenor a situação portuguesa após o “terrível dia” de ontem.

Começamos com as reacções em terra lusa:

“Eu acompanho de perto o evoluir da turbulência nos mercados financeiros internacionais naquilo que respeita à dívida soberana de Portugal e as vicissitudes diárias por que passa essa turbulência, mas entendo que neste momento não devo fazer qualquer comentário”, afirmou Cavaco Silva (Fonte: Público)

O Presidente observa e não comenta. Vamos em frente.

Teixeira dos Santos:

O ministro das Finanças veio hoje alertar que Portugal está a atravessar “um momento decisivo” e que o “país tem que responder a este ataque dos mercados”.

Sim, de facto já tínhamos intuído a gravidade da situação. Mas obrigado na mesma.

“É tempo de o Governo e os partidos, em especial o PSD, se entenderem quanto a isto: há que executar as medidas necessárias. Não é tempo para querelas inúteis”, sublinha.

Aqui poderia realçar-se o facto que medidas necessárias poderiam ter sido tomadas há muito, sem esperar que a situação piorasse até este nível. Talvez um pouco menos de medo pelos resultados eleitorais tivesse ajudado. E isso vale para o Governo como para os partidos que agora estão na oposição e que já tiveram responsabilidades na condução deste País. Mas pode ser que esta seja uma querela inútil, por isso avançamos:

Em comunicado, o ministro – que se encontra neste momento em Angola– diz que é preciso “focar a atenção naquilo que é e deve ser prioritário para o país pois as dificuldades da crise ainda não acabaram e o que importa é ultrapassa-las o mais rapidamente possível a bem da robustez e solidez da recuperação económica e do reforço da competitividade da economia portuguesa”.

Isso é que é falar. Mas quais as medidas para ultrapassar a crise?
Acerca disso é o silêncio.

Pode ser que outros interlocutores sejam mais específicos.

Faria de Oliveira:

O presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) defendeu hoje “um juntar de esforços” entre as “forças políticas, empresariais e sociais” para “mostrar ao mundo que a descida dupla” do ‘rating’ português é “injusta”.

“Injusta”…continuamos:

“Não vou comentar se o corte do ‘rating’ é justo ou injusto (acabou de faze-lo, Nota de I.I.), ele foi feito e portanto agora temos de enfrentar uma situação difícil e temos de saber enfrenta-la, em primeiro lugar, com uma grande coesão nacional“, afirmou Faria de Oliveira.

Fernando Faria de Oliveira apontou como “fundamental” a aceleração “do reequilíbrio das finanças públicas” e considerou o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) “um elemento essencial” que pode merecer “eventuais ajustamentos que melhorem a nossa imagem no exterior”.

O presidente da CGD defendeu ainda medidas de curto prazo com efeitos no “crescimento económico”, como “a integração das empresas em redes de produção e distribuição internacionais que facilitem a exportação” e uma “nova abordagem dos mercados e dos modelos de negócio das empresas”.

A longo prazo, disse que deve ser procurado “um novo modelo de crescimento económico, baseado nos sectores em que Portugal tem vantagens competitivas”.

O último período não significa nada de concreto. Antes disso temos o reequilíbrio das finanças públicas (excelente ideia, mas como?) e o PEC. Só isso? Não, temos ainda as empresas integradas numa rede internacional e uma nova abordagem dos mercados. Resumindo: nada.

Pedro Silva Pereira:

O ministro da Presidência afirmou hoje que Portugal “precisa de dar sinais de toda a determinação na execução do Programa de Estabilidade e Crescimento“, apelando a uma “co-responsabilização” de todos no sentido de credibilizar a economia portuguesa no exterior.

Ainda o PEC? Toda a economia portuguesa agarrada a esta tábua de salvação a partir de amanhã? Qual a ideia? Os operadores da Bolsa com um colete e as letras “PEC” para acalmar os mercados? Não, claro que há mais além do PEC:

Pedro Silva Pereira lembrou que o PEC foi “aprovado” em Bruxelas e foi “elogiado como sendo credível”, salientando também que os sinais actuais, “quer na frente da execução orçamental nos primeiros três meses do ano e das receitas do mês de Abril, quer “os dados relativos à economia portuguesa do primeiro trimestre são dados positivos e que são convergentes com os cenários e estimativas do Governo”.

Talvez o Ministro não tenha tido ainda ocasião de ler o relatório de Standard & Poor’s , mas foram estas mesmas estimativas que levaram a agência (e Fitch também, no dia 24) a baixar o rating. O problema, agora, é quebrar o cerco dos mercados internacionais, a começar pelos especuladores. Os quais já conhecem o PEC mas, pelos vistos, não ficam assustados com isso.

O Ministro de certeza sabe que se os ataques à economia continuarem Portugal terá cada vez mais dificuldades em encontrar empréstimos com preços razoáveis e terá também de oferecer os próprios bond com taxas de interesse que irão hipotecar um futuro desenvolvimento da economia.

Não é preciso ter uma fantasia fenomenal para imaginar cenários desta natureza: é só abrir um jornal e ler o que acontece com a Grécia.

Inútil acrescentar que nestas condições todas as previsões e estimativas do Governo evaporam como neve ao sol.

Nós temos uma estratégia para a consolidação das contas públicas e também para a recuperação da economia, é o PEC, ele foi aprovado em Bruxelas, foi elogiado como sendo credível…[…]”

Tá bom, já percebemos.

Voltamos ao títulos de Estado. Qual a actual situação?

É Costa Pina, Secretário de Estado do Tesouro e Finanças, que numa entrevista à Reuters explica que Portugal ainda precisa de emitir entre 11.000 e 13.000 milhões de euros de OT, tendo já realizado emissões de 9.000 milhões de euros este ano, que registaram uma forte procura.

Estas são más notícias, pois significam que o País nem chegou a emitir a metade das obrigações previstas antes de ficar debaixo do ataque.

“Do lado do Governo português serão adoptadas todas as medidas necessárias tendentes a garantir a confiança na nossa dívida pública”, frisou o secretário de Estado. 

Também do lado da oposição as ideias não são propriamente originais.

Passos Coelho pediu uma reunião (prevista para hoje) com o Primeiro Ministro tendo em vista uma possível antecipação das medidas…do PEC.

Moral: ninguém arrisca previsões. Fala-se em “medidas” mas, além do PEC, nada de mais concreto.
A verdade é que não vai ser fácil encontrar uma solução de curto prazo. Admitindo que esta solução seja ainda possível. As próximas horas serão fundamentais para estabelecer uma táctica de defesa que aponte para a redução dos prejuízos; ganhar esta batalha parece impossível, limitar os danos já seria oxigénio para a economia de Lisboa.

E que os próximos dias não estejam simples é coisa óbvia:

O dia de amanhã [quarta feira] vai ser a continuação do dia de hoje. A bolsa reagiu de forma muito negativa a estas notícias, como seria de esperar, e, neste contexto, em que os mercados têm revelado uma turbulência significativa (…) não vão serenar”,

Palavras de Teixeira dos Santos.

Infelizmente, nos mercados contam os factos. E, na ausência de medidas concretas, são as palavras de Standard & Poor’s que contam.

A Standard & Poor’s considera que o maior entrave à subida do “rating” da República portuguesa é o fraco crescimento económico e não a ausência de uma maioria partidária no Parlamento.

Numa conferência de imprensa dada hoje por telefone, a agência de “rating” defende que o principal problema reside na falta de competitividade da economia, que deverá fazer com que o PIB estagne em 2010, depois de ter recuado 2,7% no ano passado.

“Num mundo perfeito, seria ideal haver uma maioria parlamentar”, disse David Beers, responsável pela divisão de Finanças Públicas Internacionais. Contudo, acrescentou, “pensamos que é possível o Governo negociar cada medida individualmente no Parlamento”, recorrendo a “acordos partidários”.

A maior pressão vem, portanto, do crescimento económico, que foi um dos mais baixos da Zona Euro na última década. É esta variável, à qual se soma “uma elevada dívida externa do sector privado”, que explica um corte do “rating” de A+ para A-.

A S&P acredita que o Governo português vai conseguir diminuir o seu défice orçamental, mas aponta para um valor superior à previsão do Governo: 8,5% do PIB este ano, mais 0,2 décimas do que o número inscrito no Programa de Estabilidade e Crescimento. “O Governo tem tomado algumas medidas” mas, segundo os analistas da agência, “estas podem não chegar para atingir o objectivo”.(Fonte: Jornal de Negócios)

Temos que esperar. Alguém irá extrair o coelho da cartola? Talvez já a partir de hoje…

Ipse dixit.

 Fontes: Jornal de Negócios, Público

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