GEAB 44 – Parte I: EUA-UK, a dupla explosiva na segunda metade 2010

Eis o encontro do costume, o encontro com o report de Europe2020. Começamos com a primeira parte deste GEAB nº 44.

Verão 2010: a batalha do Banco de Inglaterra, Inverno 2010: a Fed perante o risco de falência

Como antecipado há muitos meses, e contrariamente a quanto afirmado pela maior parte dos media e dos analistas ao longo das últimas semanas, a Grécia pode contar com a Eurozona para ajuda e credibilidade (em particular em matéria de futura e boa gestão, única garantia para sair do ciclo infernal das dívidas públicas crescentes).

Não haverá insolvibilidade grega embora a agitação à volta da situação seja o indicador duma tomada de consciência pela qual encontrar o dinheiro para financiar o imenso endividamento público ocidental é cada vez mais difícil: um processo agora insustentável, como realça um recente relatório da Bank for International Settlement.

O ruído criado à volta da Grécia pelos media, ingleses e americanos em particular, tentou esconder à vista da maior parte dos sujeitos económicos, financeiros e políticos o facto do problema grego não ser o sinal de uma próxima crise da zona Euro, mas sinaliza o avanço do grande choque da crise sistémica global, isso é, a colisão entre, dum lado, a virtualidade das economias inglesas e americanas fundadas sobre um endividamento público e privado insustentável e, do outro, a dupla parede dos empréstimos cujos prazos acabam a partir de 2011, somada à falta global de fundo disponíveis para refinanciar-se de maneira barata.

Mas, como explicámos desde Fevereiro de 2006 em ocasião da sua iminência, é preciso não esquecer que a crise actual encontra a própria origem na queda da ordem mundial criada após 1945, da qual os Estados Unidos são o pilar, apoiado pelo Reino Unido. Além disso, para entender a portada real dos eventos gerados pela crise (como o caso grego, por exemplo), é preciso reportar o sentido às fraquezas estruturais que caracterizam o coração dum sistema mundial em plena transformação: assim, segundo o nosso grupo, “o dedo grego aponta os perigos explosivos das necessidades exponenciais de financiamento do Reino Unido e dos EUA”. 

Total emissão de dívida soberana prevista para 2010: 4,5 bilhões de dólares
(Fonte: FMI, Hayman Advisors, Cocast)

Lembramos que num período onde a procura de financiamentos ultrapassa a oferta, como é o caso de hoje, os montantes de emissão das dívidas soberanas com valor absoluto desenvolvem um papel mais importante dos ratio (montantes de valor relativo).

Um exemplo muito simples para demonstra-lo: temos 100 Euros e dois amigos, um pobre A que precisa de 30 Euros e um rico B que precisa de 200; embora B possa dar como garantia o seu relógio de luxo que vale 1.000 €, enquanto A tem um relógio de 20 €, não podemos ajudar B porque não temos os meios suficientes para satisfazer as necessidades de financiamento dele; enquanto, após discutir as garantias e os interesses, podemos ajudar A.

Esta perspectiva invalida todos os raciocínios que florescem na maior parte dos media especializados e que se fundam sobre o endividamento: na realidade, segundo o raciocínio deles, é óbvio ajudar B pois a sua taxa de endividamento é mais favorável (20%) do que A (150%); mas no mundo da crise, no qual o dinheiro não está disponível em quantidades ilimitadas, a teoria choca contra o muro da realidade: querer é uma coisa, poder é outra.

A segunda parte está disponível aqui..

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