Afirma Ivan F. Zurita, presidente da Nestle Brasil, no sítio internet da empresa:
Uma empresa saudável como a Nestlé, imbuída da missão de levar Nutrição, Saúde e Bem-estar aos consumidores, somente pode concretizar totalmente seus objetivos se conseguir o desenvolvimento sustentável do negócio aliado ao crescimento sustentável de cada comunidade onde está presente.
Palavras bonitas, que deixam entender o cuidado que a empresa utiliza na preparação dos seus produtos. Cuidados que abrangem todo o processo, incluídos os produtores, grandes ou pequenos que sejam.
Ou talvez não.
Aliás: não.
E para percebe-lo é suficiente ler o que escreve La Jornada del Campo, suplemento do diário mexicano La Jornada. Um breve inquerito traz à luz uma realidade submergida acerca da qual pouco ou nada se ouve.
Mas afinal qual o problema?
No México a Nestlé colabora com uma empresa local, a AMSA (Agroindustrias Unidas de Mexico), que sozinha controla 50% das exportações de café de todo o País.
Até aqui nada de mal.
O problema surge na altura que a AMSA efectuar pressões sobre os pequenos produtores para que estes vendam o café exclusivamente à Nestlé, cultivem espécies mais congeniais a um produto globalizado e, cereja no topo do bolo, tudo isso por um preço baixo. Demasiado baixo.
Os produtores de algumas regiões recebem da Nestlé 6 pesos por cada quilo (35 cêntimos de Euro) contra os 9 que oferece o mercado local. Porquê? Porque a Nestlé é o único comprador. E entre ficar com o café não vendido e receber uma miséria, os pequenos agricultores optam pela segunda escolha.
Em outras zonas os produtores já aceitaram um pacote chave na mão: assistência técnica, plantas de variedade menos caras e a sujeição a um único patrão que faz o que mais lhe apetece.
Em outras regiões ainda alguns produtores tentam rebelar-se. Mas é uma coisa que fica entre eles, pois no mundo há sempre notícias mais importantes para ser relatadas.
Este sistema tem um objectivo: acabar com a produção tradicional para implementar um produto que responda ao pedido de globalização da multinacional. O risco é ver desaparecer o típico cultivo bajo sombra, mais respeitoso da tradição e da natureza.
E, para alcançar o resultado, a Nestlé não pára perante pequenos obstáculos.
Gabriel Barreda, conhecido comprador da Nestlé, foi eleito dirigente de la Unión Nacional de Productores de Café de la Confederación Nacional Campesina (CNC); Aristeo Ortega, também comprador da empresa, é representante do Sistema Producto Café de Puebla (SPC), enquanto Félix Martínez, um dos directores da Nestlé, é hoje o presidente da junta directiva da AMECAFE, o braço jurídico do SPC.
Querem saber qual a parte mais simpática? É que a Nestlé obteve nos EUA e no Reino Unido a certificação Flo Fair Trade, que comprova um comércio justo nos Países produtores de matérias primas. E, no ano passado, temos que registar o pacto com Ecolaboration da Rainforest Alliance que, como é explicado:
tenta alcançar a maior qualidade de café para ajudar Nespresso a atingir o objectivo de servir um café de qualidade suprema e, ao mesmo tempo, ajudar a melhorar as condições de vida dos agricultores, das suas famílias e proteger o ambiente.
Nada mais, nada menos.
Pensem nisso da próxima vez que virem alguém perguntar “Nespresso, what else?”
Ipse dixit
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