Portugal, a próxima vítima?

Acabou a Páscoa e Portugal está…como antes. Ou se calhar não.

O vice-primeiro ministro grego Theodoros Pangalos, de facto, pensa que as coisas não estejam muito bem perto do Tejo e avança com previsões nada simpáticas.

A agência Reuters afirma:

O tipo de problema de dívida pública visto na Grécia deve se espalhar pela zona do euro e Portugal pode ser a próxima vítima, disse nesta segunda-feira o vice-primeiro-ministro grego, Theodoros Pangalos.

Em entrevista ao periódico português Jornal de Negócios, Pangalos também disse que a rigidez da Alemanha em relação à Grécia é baseada em uma “abordagem moral e racial” e na ideia de que os gregos não trabalham o suficiente.

Pangalos disse que Portugal não deve continuar neutro sobre a questão da União Europeia ajudar membros em dificuldades, após líderes concordarem sobre uma rede de segurança financeira para a Grécia no dia 25 de Março.

“Vocês são as próximas vítimas … Eu espero que isso não aconteça e que a solidariedade prevaleça… Mas, se isso não acontecer, a próxima vítima provável será Portugal”, disse ele.

Questionado se pensava que a crise se espalhará pela zona do euro, Pangalos disse: “Sim, certamente.”
“O que aconteceu connosco (Grécia) agora é porque nós estamos em uma situação pior, mas isso também poderia acontecer na Espanha e em Portugal”, disse ele.

Até aqui a notícia da Reuters.

Um excesso? A situação económica do País não é das melhores (e este é um eufemismo), isso é um dado adquirido; e para quem já leu os reports do GEAB estas não são propriamente novidades.
O Diário de Notícias relata que os processos de falência em território nacional crescem 8,5% em termos homólogos, ultrapassando as mil insolvências até o final do primeiro trimestre.

De acordo com os dados do Instituto Informador Comercial, desde o início do ano houve 1066 empresas a recorrer a processos de insolvência, o que corresponde a um aumento de 8,55% face a igual período de 2009. Comparativamente a 2008, o acréscimo é de 52,25%. Comércio e construção são os sectores mais afectados, enquanto, que em termos geográficos, os distritos com mais casos são Porto, Lisboa e Braga.

Com 267 empresas inscritas, o comércio por grosso e a retalho lidera a lista dos sectores de actividade com maior número de processos de insolvência. E se é verdade que o comércio por grosso regista uma quebra de 4% face ao ano anterior (144 empresas contra 150 em 2009), já o comércio a retalho sofre um agravamento de 25,51%, passando de 98 para 123 empresas em dificuldades.

Segue-se o sector da construção civil e da promoção imobiliária com um total de 220 empresas em processo de insolvência, traduzindo a situação difícil de uma indústria que se debate com uma crise que a fez perder 131 mil empregos desde 2002, dos quais 63 mil desapareceram ao longo de 2009. Há menos empresas ligadas à engenharia civil em dificuldades mas, em contrapartida, as que se dedicam a actividades especializadas de construção e à construção de edifícios viram agravar-se em, respectivamente, 32% e 35,29% os casos de insolvência. O que não será de admirar, se tivermos em conta que o sector construiu 27 mil fogos em 2009, quando o habitual seria construir 114 mil.

Os têxteis e vestuário, a braços com quebras nas exportações de 7% em 2008 e de 15% em 2009, ocupam o terceiro lugar na lista das empresas em dificuldade, com 122 processos de insolvência.

Perceber como Portugal chegou até este ponto não é tarefa simples, pois os problemas afundam as próprias raízes nas opções das décadas passadas. Mas, talvez, uma terceira notícia possa dar um vislumbre acerca dos como e porque.

António Mexia, presidente executivo da EDP, a empresa mais endividada do mercado de capitais português com 14,007 mil milhões de euros (mais 117 milhões do que em 2008), recebeu no ano passado 3,1 milhões de euros em remunerações referentes a 2009.

Ao pormenor: 700 mil euros em salários fixos, 600 mil euros em remuneração variável (que varia segundo objectivos atingidos) e um prémio plurianual de mandato de 1,8 milhões de euros.

O que desperta mais curiosidade é sem dúvida a remuneração de 600 mil euros por objectivos atingidos, numa empresa que viu o próprio deficit aumentar de 117 milhões…

Resumindo: quem falha tem que pagar. Ou ser pago, pontos de vista.

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